3tentos compra empresa no Pará e busca receita de R$ 50 bilhões em 2032

Santa Bárbara do Sul (RS) - O 3tentos Day, que reúne executivos da companhia gaúcha de insumos, biocombustíveis e comercialização de grãos, e investidores em Santa Bárbara do Sul, no Rio Grande do Sul, começou agitado nesta quarta-feira, 3 de dezembro.

Poucas horas antes de iniciar a programação do evento, a companhia deu o tom da conversa ao publicar na CVM um fato relevante em que, juntamente com uma atualização de suas operações, comunicou a aquisição da Grão Pará Bioenergia, dentro de um projeto de que deve envolver investimentos totais de R$ 1,15 bilhão.

Com a aquisição, cujo valor não foi revelado, a 3tentos passa a ser dono de um terreno já devidamente licenciado para a construção de uma planta para processamento de milho e produção de etanol, segundo informou ao AgFeed Luiz Osório Dumoncel, vice-presidente executivo e presidente do Conselho de Administração da empresa.

A partir de agora, a companhia avançará com os investimentos, com previsão de conclusão para o segundo semestre de 2028. A nova indústria terá capacidade de processar 2,1 mil toneladas de milho por dia. Com isso, produzirá 935 metros cúbicos de etanol, 587 toneladas de DDGS e 37 toneladas de óleo por dia, segundo informa a companhia.

De acordo com Dumoncel, o investimento no Pará já vinha sendo avaliado por ele e seu irmão João Marcelo, CEO da companhia, há algum tempo. “É uma área em que nós fomos, o João Marcelo e eu, fazendo um levantamento de onde seria mais indicado a 3tentos fazer mais um movimento de expansão de seu braço industrial”, disse.

“A companhia está absolutamente decidida e convicta de que o caminho é seguirmos trabalhando com os três principais pilares dela, que são o sul, o norte e a indústria. Obviamente que hoje os movimentos são mais estrategicamente pensados”.

Atualmente, a produção de etanol de milho da companhia está limitada ao Mato Grosso, onde o processamento está na ordem de 2,8 mil toneladas de milho diária.s Assim, quando a usina do Pará estiver operando a empresa deve dar um salto quantitativo importante nesse segmento.

A expansão não se limita, entretanto, à indústria e ao estado do Norte. Segundo aponta o próprio comunicado da 3tentos, a empresa seguirá com a abertura de lojas para venda de insumos e unidades de originação de grãos no Pará.

“Além do Pará, a 3tentos vai avançar na abertura de lojas nos estados do Tocantins, Goiás e Minas Gerais, como sendo regiões próximas do Vale do Araguaia, em que já temos presença”, diz o documento.

“Isso tudo faz parte de uma visão de futuro em que, com base na expansão geográfica replicando o ecossistema 3tentos, a companhia tem uma aspiração de obter receita líquida de R$50 bilhões até 2032”.

Esse objetivo aponta, de acordo com a empresa, um crescimento anual médio de 18,6% até lá. “Trata-se de uma meta aspiracional, podendo ser revista, alterada ou não ser alcançada em razão de diversos fatores internos e externos” ressalva o documento.

“Redenção é só um destino”, afirmou Dumoncel. “Nós vamos consolidar primeiro o que estamos fazendo e projetar os próximos passos”.

Projeto ambicioso

A Grão Pará Bioenergia foi constituída no início de 2024 através de uma joint-venture formada pelos grupos Mafra - com atividades em todo o Brasil, que vão de equipamento médico a pecuária de corte, com a Agro Cumaru – e a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA), empresa do segmento sucroenergético com sócios indonésios que opera três usinas no Triângulo Mineiro.

O projeto foi divulgado pelo AgFeed, na ocasião em que a nova empresa foi apresentada ao governador paraense Helder Barbalho, prometendo investimentos totais de R$ 2 bilhões até 2029.

A intenção da empresa, segundo comunicado ao governo, era colocar um primeiro estágio da usina em funcionamento em 18 meses, já com o milho da segunda safra 2024/2025 utilizado na produção, mas a meta não foi atingida e a planta não chegou a sair do chão.

A escolha de Redenção para a planta estava associada às próprias atividades da família Mafra, cujo conglomerado inclui a propriedade de cerca de 150 mil hectares de terras na região.

Neles, o grupo mantém um plantel de 100 mil cabeças de gado. Cerca de 20 mil hectares são destinados ao cultivo de soja, na primeira safra, e milho na segunda.

A intenção da parceria era aproveitar o potencial de produção de etanol de milho, aproveitando um movimento crescente de conversão em áreas desgastadas pela pastagem de bois em áreas agricultáveis para obter matéria-prima e a intensificação da pecuária da região como mercado para o DDG.

Segundo o projeto inicial, todo milho a ser processado viria das fazendas do Grupo Mafra em uma primeira fase, para nos anos seguintes receber grãos de produtores parceiros próximos à indústria.

O empreendimento previa, então, a geração de 600 empregos diretos e 3 mil indiretos.