Cascavel - O calendário de feiras de tecnologia agrícola para a Traive começou em clima de absoluto otimismo, com diversas ações junto com o Banco do Brasil, na Show Rural Coopavel, no oeste do Paraná.

Esta semana, no evento de Cascavel, foi lançado oficialmente o projeto chamado Pecuária do Futuro, que pretende sair na frente no financiamento a produtores rurais que queiram recuperar áreas de pastagens degradadas e, ao mesmo tempo, receber alguns benefícios em troca. Trata-se de uma iniciativa que envolve Banco do Brasil, Traive, My Carbon e iRancho.

O CEO da Traive, Fabricio Pezente, conversou com o AgFeed em momento de tranquilidade, no estande do Banco do Brasil, após uma das solenidades previstas.

O relacionamento com o Banco do Brasil começou pela área de agronegócio. A Traive já estava desenvolvendo um modelo de análise risco específico para o crédito para atividades como a conversão de pastagens, que tem prazo mais longo e carência.

A melhor parte é que, a partir disso, a gerência de financiamento agrícola do BB acabou apresentando a fintech para a diretoria de Inovação.

“O banco estava com um programa ainda novo de corporate venture capital. Já haviam investido em uma startup do agro, a iRancho, mas estavam em busca de uma fintech, de tecnologia de crédito”, conta Pezente.

O resultado foi colhido em 2 de fevereiro, com a confirmação de um investimento do Banco do Brasil dentro de uma rodada de captação de US$ 20 milhões realizada pela Traive.

Segundo o CEO da agfintech, o investimento “vai muito além do projeto da pecuária”. Ele diz que o BB tem um formato diferente de investir em startups, bem distinto do que o praticado pelos investidores estratégicos que fazem parte do quadro de acionistas da Traive.

“O Banco do Brasil é o único que faz um esquema onde você ganha correspondentes internos no banco, responsáveis por fazer a empresa investida ser bem-sucedida, para que o BB ganhe dinheiro com a startup e vice-versa”, explica.

Pezente diz que em duas semanas ocorre a primeira grande etapa do projeto. A equipe da Traive vai passar por todas as áreas do banco, sem exceção, incluindo a diretoria, para ir definindo os projetos que podem fazer ambos gerarem lucros.

Valor de mercado e crescimento

A Traive prefere não divulgar qual valor de mercado atingiu à medida que passou a ser investida do Banco do Brasil.

“O que foi muito positivo pra gente nessa rodada foi que conseguimos fazer com um valor de mercado acima da rodada anterior. Isso, no cenário atual de venture capital, é praticamente impossível. As fintechs estão tendo desvalorização significativa, por questões relacionadas ao mercado de venture capital, que não está fácil", afirma o CEO.

Na primeira rodada, em 2021, a Traive captou US$ 17 milhões. Perguntado sobre qual foi a variação percentual no valor de mercado para essa segunda rodada, o executivo disse que prefere não falar porque “é uma coisa que chama atenção, um crescimento expressivo”. Ele completa dizendo que startup “só fala o valor de mercado quando vira unicórnio”.

Segundo Pezente, no último semestre do ano passado a empresa quadriplicou o número de clientes e aumentou em dez vezes o número de usuário na plataforma.

A Traive não divulga seu faturamento, mas diz que também aumentou em quatro vezes o valor em 2023, na comparação com o ano anterior.

“O momento é muito positivo para o que estamos fazendo, afinal o agro está com um problema grande de crédito agora, com muita empresa e muito produtor sofrendo, o que naturalmente chama a atenção para tecnologia e uma gestão de risco de credito cada vez melhor, com transformação digital. É tudo o que fizemos há 5 anos”, diz o CEO, alertando que o setor está precisando correr atrás dessas soluções.

Neste cenário, para 2024 Pezente acredita que vai dobrar ou até triplicar o faturamento. “A medida que o número absoluto vai ficando grande, o valor relativo de aumento já não é tão grande, fica até arriscado crescer de uma maneira excessivamente rápida, porque você gera um stress muito grande na empresa”.

Ele disse que iniciativas feitas no ano passado “serão os motores do será feito este ano”. Um dos pilares são operações de financiamento em dólar, que saíram de US$ 11 milhões em 2022 para quase US$ 45 milhões em 2023. “Agora vamos para US$ 200 milhões”, adianta.

O projeto com o Banco do Brasil também deve alavancar o número de clientes. Segundo ele, a previsão do governo é financiar a conversão de 40 milhões de hectares em 10 anos, sendo 1 milhão de hectares no primeiro. Com a Traive, acredita que seja possível já viabilizar no começo operações que envolvam 400 mil hectares.

Pezente destaca que os clientes já conquistados são grandes e incluem empresas como Syngenta, FMC e Belagrícola. “Estamos com esses players para fazer a segunda pernada da nossa tese, que é o que chamamos de marketplace de crédito. Nele, vamos colocar bastante energia e recursos em 2024”.

A expectativa é de que o marketplace seja lançado ainda este ano, já que os testes foram iniciados em 2023 com clientes atuais e “dentro de casa”, com o FDIC da Traive.

“Agora vamos abrir pra outros financiadores virem junto. Essa é uma das minhas principais apostas com o Banco do Brasil , que eles possam ser também um grande financiador dentro desse marketplace de crédito”, revela.

No financiamento da conversão de pastagens a Traive diz que não tem exclusividade com o Banco do Brasil, uma regra que vale para todas as parcerias que estabelece. “Mas naturalmente o que acontece numa situação como essa é que os first movers, os que chegam primeiro pra trabalhar com as startups, acabem tendo uma vantagem de meio que moldar ao que eles precisam. Isso já aconteceu com a gente na própria indústria de insumos. Trabalhamos muito próximos da Syngenta. Eles investiram na gente e desenvolvemos operações com eles”.

Nesta quinta-feira, os detalhes técnicos do projeto de pecuária estão sendo apresentados para produtores rurais no Show Rural Coopavel.

Pezente se diz otimista com o projeto, se comparado a linhas de financiamento que já existem no mercado com o mesmo fim, porque “não é só dinheiro”.

Ele lembra que a iRancho vai cuidar da rastreabilidade das propriedades, a MyCarbon dará suporte na questão de melhorar o balanço de carbono, além de envolver outras empresas de assistência técnica.

“Isso gera benefícios financeiros que voltam para o produtor e faz sentido financeiramente para ele. Uma linha de crédito, por si só,  não gera realmente tanto interesse, o Banco do Brasil já tem. Mas essa operação será bem mais completa”.