Misture o universo do crédito agrícola, a expertise de gestão de recursos da “Faria Lima” e a proposta tecnológica de startups do agro. Essa é a proposta do TAG Edge, braço de inovação da gestora TAG Investimentos, para seu mais novo fundo.

A empresa acabou de lançar seu primeiro Fiagro, um veículo do tipo FIDC para levar crédito a pequenos e médios produtores rurais, com meta de alcançar R$ 1 bilhão de patrimônio líquido até o final de 2027.

Olhando sob essa ótica de valores e devedores, o novo fundo se assemelha a outros do mercado. Por trás dele, entretanto, uma costura original incluiu no pacote o universo das startups do agro.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, Francisco Perez, diretor do TAG Edge, contou que este fundo embarca duas tecnologias diretamente em sua estrutura: um “motor de crédito altamente especializado” aliado a um arranjo de pagamento fechado com o “cartão de crédito digital ‘Prazo Safra”.

“Montamos essa estrutura entendendo o Fiagro não apenas como um produto financeiro, mas uma construção coletiva entre o mercado de capitais, o ecossistema de startups e o próprio ecossistema do agro”, comentou o diretor.

O primeiro elemento fica a cargo da agtech Sette, resultado da fusão da A de Agro e da Bart Digital. A empresa é dona de um software de análise de crédito orientado por inteligência artificial, big data e imagens de satélite.

A ferramenta realiza avaliações preditivas da capacidade de pagamento e da performance produtiva, com monitoramento contínuo das áreas financiadas.

Do outro lado, o Fiagro tem como parceria também a E-ctare, startup mineira que desenvolveu um cartão atrelado ao prazo da temporada agrícola.

Na prática, o produtor elegível a tomar o crédito disponível no fundo precisa passar pelo crivo do motor de crédito da Sette. Uma vez aprovado, utiliza o cartão da E-ctare para acessar o mercado de insumos, bens e serviços.

Nessa equação, a TAG aposta em um “parceiro de originação”, que pode ser uma cooperativa, revenda ou agroindústria. Ele atuará como originador e avalista da operação, sendo peça-chave na articulação entre os produtores e o fundo.

Perez explica que a operação se dá direto com o produtor, que apenas chega até o fundo por meio desse parceiro.

“O produtor vai emitir uma CPR que vem direto para o FIDC e o parceiro de originação é uma espécie de garantidor, avalista ou quem faz a carta-fiança, mas ele não cede o título”, conta.

Para isso, esse parceiro implementa a solução de cartão prazo-safra da E-ctare, que no modelo de negócio da startup é “embalado” com a própria cooperativa, revenda ou indústria sendo o emissor.

O agricultor vai comprar o insumo e, na data do vencimento, os montantes automaticamente se transformam em uma CPR. É esse certificado que vai para o Fiagro.

“A partir dali, o produtor rural tem uma CPR em mãos, que o FIDC fez a aquisição. Nossa relação de credor e funding é direta com o produtor rural. Se houver inadimplência, a ideia é que esses parceiros de originação tenham uma parcela ou totalidade da garantia das operações”, acrescentou Francisco Perez.

O diretor acredita que é de interesse desse parceiro “fidelizar” o cliente com o cartão e cita que isso ajuda a empresa ou cooperativa a criar uma rede mais estruturada de clientes e cooperados.

Para chegar a R$ 1 bilhão de patrimônio líquido no fundo até 2027, Perez calcula 20 parceiros de originação, cada um com um “limite” de R$ 50 milhões. A ideia é diversificar tanto em geografia quanto cultura, Mas, pela demanda de crédito e agilidade demandada, ele acredita que produtores de soja, milho e café sejam aqueles com maior participação nesse ecossistema.

Para engatar a primeira marcha, a própria TAG aportou R$ 10 milhões em uma cota única. O diretor cita que as primeiras “cargas” em cartões prazo-safra vinculados ao fundo devem acontecer nos próximos dias para cafeicultores de uma cooperativa que já utiliza o serviço da E-ctare.

O nome do parceiro não foi revelado, mas em reportagem publicada em outubro passado pelo AgFeed a E-ctare informava ter entre os clientes a Minasul, cooperativa cafeeira com sede em Varginha (MG).

Francisco Perez cita que o ticket por produtor deve variar entre R$ 200 mil até R$ 800 mil, podendo chegar a R$ 1 milhão por produtor.

O diretor ainda cita que a intenção do fundo não é se tornar a principal fonte de financiamento do produtor, e sim um funding complementar.

“Queremos atender o produtor que já tomou recursos do Plano-Safra, já tomou um outro crédito com uma revenda ou banco, e precisa complementar. No mundo ideal, esperamos representar 20% da sua demanda”, contou.

A ideia é que já no segundo semestre o TAG Edge comece a vender novas cotas para investidores. “Temos uma estrutura já montada com investidores já sondados”.

Para isso, aposta na expertise da TAG Investimentos. Com R$ 14 bilhões sob gestão, a firma foi criada em 2004 por Thiago de Castro, executivo que fez carreira em corporate banking, estruturando projetos para empresas clientes de bancos como ABN Amro, Citi e Santander, e Marcelo Pereira, que atuou em tesourarias dos bancos Bamerindus e HSBC.

“A TAG tem capacidade muito forte de distribuição para sua base e para terceiros. O desafio nosso agora é finalizar a estrutura dos parceiros de originação, fechar contratos e implementar o cartão de prazo-safra. O desafio está mais nessa parte do que no funding de novas ofertas”, citou Perez.

A união entre mercado financeiro e o universo de startups pode ser nova no mundo dos Fiagros, mas não na carreira de Francisco Perez. Perez lidera o TAG Edge na gestora há poucos meses, mas acumula quase 30 anos de atuação no mercado financeiro.

Ele já liderou o hub de inovação no Banco Alfa, antes da compra da instituição pelo Safra. Foi também um dos fundadores da gestora de VC Inseed Investimentos (que se uniu à A5 para formar a KPTL).

Ao sair do Safra, surgiu a ideia de montar uma plataforma que conectasse o universo de startups com o mercado de capitais, encampada pela TAG.

“Decidimos criar uma esteira de fundos de crédito que tivessem como premissa o DNA e diferencial tecnológico de startups. Miramos quatro setores no TAG Edge e, além do agro, que é o primeiro, vamos atuar com varejo, saúde e mudanças climáticas”, contou.

Durante a entrevista, Perez se mostrou um entusiasta das startups, especialmente as agtechs. Ao falar da Sette, acenou que já atua com Rafael Coelho – um dos fundadores, junto a Mariana Bonora – há muitos anos, e que o desejo de estruturar um fundo com a tecnologia da antiga A de Agro já é antigo.

Em seu perfil na rede social corporativa Linkedin, Perez cita que fez parte do conselho de administração da A de Agro, antes de a agtech se tornar a Sette, bem como da própria E-ctare. O executivo deixou os postos no board em outubro do ano passado.

Resumo

  • TAG Investimentos lança Fiagro focado em crédito para pequenos e médios produtores, com meta de alcançar R$ 1 bilhão em patrimônio até 2027
  • Fundo usa tecnologias das agtechs Sette (motor de crédito via IA) e E-ctare (cartão digital atrelado à safra), com originação via cooperativas, revendas e agroindústrias
  • Operações são estruturadas com CPRs diretas entre produtor e fundo e parceiros funcionam como avalistas