Os altos e baixos do agronegócio exigem atenção, mas não chegam a assustar figuras como Moacir Teixeira, sócio-executivo, vice-presidente comercial e fundador da Ecoagro, empresa pioneira em aproximar o agro do mercado de capitais, que hoje conta com securitizadora, gestora e consultoria especializadas no setor.
Mesmo diante das dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais – e de uma retração clara no mercado de CRAs, Fiagros e demais instrumentos financeiros do setor ao longo deste ano –Teixeira mantém uma convicção que se apoia na própria natureza do agro.
“Ainda tem algumas coisas a serem ajustadas. Mas a única coisa que sei é que não vamos parar de produzir. A gente continua crescendo. As margens diminuíram, e vai ter que ter um rearranjo, que é natural, porque o agronegócio vive de ciclos”, afirma Teixeira, em entrevista ao AgFeed.
A Ecoagro não passou ilesa pela turbulência que marcou o ano no setor, mas preservou grande parte de seu plano estratégico. Econômico nos detalhes, Teixeira diz apenas que alcançará cerca de 90% da meta estabelecida para 2025. “Desde 2016, 17, a gente vem crescendo entre 25% e 30% todo ano. Neste ano, eu vou atingir provavelmente 90% da meta.”
“Agora, para novas operações, o mercado retraiu. Ficou receoso por esse monte de problema de RJs (recuperações judiciais), de dificuldade de entendimento do judiciário. Isso são coisas que a gente vai ter ainda que conviver. Mas isso não é o agro, é a economia de uma forma geral”, diz Teixeira.
No agro, em específico, o fundador da Ecoagro espera que a safra atual seja recorde e que acarrete em uma melhoria das margens. “Mas essa melhoria não vai resolver o passado”, pondera.
Veterano no mercado, Teixeira fala com a experiência de quem atravessou diferentes crises. Quando criou a Ecoagro, em 2007, os produtores de soja haviam acabado de superar um ciclo difícil, por exemplo.
Ainda assim, Teixeira conseguiu impulsionar uma casa que se tornaria referência no mercado financeiro voltado ao agronegócio, acumulando mais de R$ 80 bilhões em emissões de CRAs e mais de 370 operações feitas até aqui.
“A primeira CPR financeira quem emitiu fui eu. O primeiro LCA. O primeiro CDCA. O primeiro CRA. Tudo isso quem emitiu fui eu”, resume o fundador da Ecoagro.
Essa experiência molda sua leitura do momento atual, que Teixeira define como o resultado de um desequilíbrio clássico: excesso de compras, estoques caros, margens comprimidas e um choque de realidade que se desdobrou ao longo de 2023 e 2024.
“O momento atual é muito desafiador. Todo mundo achou que tudo ia crescer para sempre, mas o ciclo virou, e virou rápido.”
O estopim, segundo Teixeira, foi o medo de desabastecimento após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, ainda em 2022. Produtores, revendas e cooperativas anteciparam pedidos num volume inédito. O glifosato chegou a R$ 130 e depois despencou para R$ 30, recorda ele.
“Como não faltou, o produtor passou a decidir se compra aqui ou ali e compra onde for melhor. Isso vira recebível para uns, mas para outros vira estoque, e estoque a preço alto. Foi o que aconteceu em 2023. No mercado, ninguém percebeu, mas a gente viu o movimento, porque começou a ter muita devolução e alguma coisa de errado acontecendo.”
Quando a AgroGalaxy, uma das principais redes de revendas de insumos agrícolas, começou a apresentar resultados mais fracos em seus balanços no começo de 2024, Teixeira disse que viu apenas a confirmação de um problema estrutural.
“Este movimento, mais os efeitos climáticos, mais o efeito de preço, fez com que, todos que estavam alavancados, apostando que o Brasil ia crescer para sempre, estivessem com problema. E deu essa distorção toda no mercado”, avalia o fundador da Ecoagro.
Para ele, justamente por lidar diariamente com essas nuances, a Ecoagro conseguiu se posicionar na frente de outras securitizadoras, que atuam no agro, mas sem foco exclusivo.
“Eu só faço agronegócio, e acho o agronegócio muito complexo. O Brasil é um país continental, com muitas dificuldades, inclusive de gestão, para que fizéssemos algo genérico. São 24 horas dedicadas a estudar, aprender e melhorar processos no agronegócio. Essa foi a nossa aposta.”
Essa especialização também dá a Teixeira confiança para enxergar novas alternativas de captação para o setor, como a entrada dos fundos de pensão nos Fiagros, autorizada pela resolução nº 5.202 do CMN, que permite que até 10% dos recursos dessas entidades sejam aplicados no instrumento. A chegada desses investidores ao agro, no entanto, deve acontecer de forma gradual, sinaliza Teixeira.
“Não vai ser fácil, porque 85% dos recursos dos fundos de pensão, que representam R$ 1,4 trilhão, são aplicados em título público federal. IPCA + 8%. O fundo que aplica nisso não corre risco de comprar CDB de banco que quebra. É proteção.”
O caminho, contudo, não vai ser tão simples como pode parecer, em função da volatilidade dos títulos do agro se comparado a outros do mercado.
Teixeira também vê com bons olhos a chegada de investidores estrangeiros interessados em investir no agro e lembra da experiência que a Ecoagro teve ao fazer o primeiro CRA referenciado em dólar, em 2022, em parceria com o banco Bradesco.
“Eu registrei o CRA emitido no Brasil, tudo, tudo dentro das regras da legislação brasileira, mas o registro dele foi na Bolsa de Viena. Captei dinheiro de investidores que não queriam entrar no Brasil”, recorda Teixeira.
“E não é que eles não queriam entrar no Brasil. O investidor, na verdade, não quer abrir a conta Brasil, toda a burocracia Brasil. Mas quer investir, não sabe como investir, e não gosta de entrar aqui por causa da insegurança jurídica.”
Resumo
- Agro atravessa um ajuste duro, mas Moacir Teixeira, fundador da Ecoagro, pioneira na emissão de CRAs no Brasil, afirmou ao AgFeed manter a convicção no crescimento do setor.
- Apesar do otimismo, Teixeira admitiu que a Ecoagro, que vinha crescendo 30% ao ano, deverá atingir apenas “90% da meta” em 2025.
- Estoques caros, antecipação de compras e insegurança jurídica provocaram distorções em 2023 e 2024, que ainda se refletem no mercado de capitais do agro, avaliou Teixeira.