Quando Douglas Storf e Ury Rappaport deixaram suas posições na área de pagamentos do aplicativo de mobilidade 99 em 2018, não imaginaram que, anos depois, suas reuniões de negócio envolveriam termos como “barter”, “prazo-safra” e “revendas agrícolas”.

Tiveram, entretanto, de incorporá-los ao seu vocabulário à medida em que a Swap, fintech que criaram sete anos atrás, começou a percorrer recentemente um caminho que os aproximou do campo.

Com cerca de R$ 150 milhões levantados com investidores desde então, a companhia que atua como uma plataforma de Banking as a Service (Baas), oferecendo soluções para empresas que desejam criar produtos financeiros sem se tornar um banco, tem cada vez mais fixado o olhar no agronegócio como uma nova fronteira para sua expansão.

A Swap é especializada em fornecer e cuidar de todo background de operações de cartões pré-pagos e carteiras virtuais a empresas que querem oferecer serviços financeiros digitais a seus clientes.

Os dois sócios da fintech, Storf e Rappaport, saíram da 99 ao perceber que as soluções de pagamento disponíveis no mercado tinham limitações técnicas e que eram genéricas e pouco flexíveis. Criaram a Swap justamente para fazer algo diferente nesse nicho de mercado.

Depois de atender empresas de benefícios flexíveis como Swile e Grupo VR com um cartão bandeirado, que por consequência é aceito em qualquer maquininha, viram a chance de oferecer o serviço para empresas de outros setores. E é aí que entrou o agronegócio.

“Nós, enquanto um Banking as a Service (BaaS), habilitamos qualquer projeto financeiro. E esse foco no mercado B2B, nos fez olhar para vários segmentos, incluindo o agro. Estamos tateando o mercado e no começo dessa jornada no setor”, disse Ury Rappaport, cofundador que atua como CRO da Swap, ao AgFeed.

A tese para atuar no agro é simples: a empresa percebeu que, no setor, mesmo empresas que não são financeiras precisam analisar crédito, riscos e de fato dar dinheiro a clientes.

O conceito por trás da Swap é o chamado embedded finance, ou finanças embarcadas, de acordo com Rappaport.

Isso significa permitir que empresas de qualquer setor, como o agro, ofereçam serviços financeiros integrados aos seus próprios produtos, sem precisar virar um banco. A Swap cuida da parte técnica, regulatória e dos bastidores, enquanto a marca parceira mantém o relacionamento direto com o cliente.

A ideia, então, é ser o parceiro que ajuda companhias do agro a simplificar o negócio financeiro encaixando um cartão de bandeira Mastercard, Visa ou Elo.

“O mercado agro traz muita oportunidade em todas empresas que já dão crédito. Sistemas de tradings, cooperativas, cooperativas de crédito podem modernizar funções com a Swap”, disse Rappaport.

A primeira iniciativa oficial da Swap nesse caminho foi o lançamento do “Agro Card”, um jeito de mostrar às empresas do setor que sua solução personalizável também atende empresas do ramo.

A Swap quer permitir que empresas do agro emitam cartões com sua própria marca, oferecer crédito com pagamento vinculado à safra e integrar toda a gestão financeira à sua operação.

“Apostamos muito no cartão, que é uma tecnologia que é conectada, por de trás dos panos, a ecossistemas. Isso ajuda não só a fazer gestão de gastos, mas por poder estar plugada a uma estrutura de crédito que concilia o prazo da safra com a colheita com pagamentos de custos mensais, gera valor a empresa”, acrescentou.

Hoje, a empresa é parceira da Grão Direto, plataforma que atua na comercialização digital de grãos na América Latina, e fica responsável por toda operação do cartão de crédito com bandeira Mastercard e prazo safra da agtech.

No começo de 2025, quando a Grão Direto anunciou uma nova rodada de investimentos de R$ 90 milhões, anunciou que, além do cartão com prazo safra, lançaria um cartão vinculado com pagamento em grãos.

“A Grão Direto decidiu rodar uma solução de cartão de crédito baseada em seus vários modelos de garantia”, disse Rappaport. Atualmente, ele cita que tem conversado com algumas cooperativas interessadas no serviço.

Depois da fundação em 2018, a Swap levantou R$ 17 milhões em uma rodada seed liderada pelo ONEVC, gestora brasileira baseada em São Francisco e que foi uma das primeiras investidoras da Rappi.

A rodada ainda contou com a participação da Flourish Ventures, GFC, SOMA Capital, Hustle Fund, a.b.seed, Canary e Rhombuz Ventures, sem contar Ariel Lambrecht, fundador da 99, e Guilherme Bonifácio e Patrick Sigrist, fundadores do iFood.

Em 2021, levantou R$ 135 milhões em uma rodada Série A e trouxe o fundo Tiger Global, que liderou a rodada, e mais a Endeavor, os fundos GFC e Flourish, além dos investidores Justin Mateen, cofundador do Tinder, e Rahul Mehta, da DST Global.

A Swap afirma que atingiu seu break even, ou seja, equilibrou os custos com a geração de caixa, em 2023, e que só nos primeiros cinco meses deste ano, já cresceu seu faturamento em 300% na comparação com o início de 2024.

Resumo

  • Swap atua fornecendo serviços de banking a empresas que não são financeiras.
  • Empresa já captou R$ 150 milhões desde que foi fundada, com nomes como ONEVC, e fundadores de empresas como iFood, Rappi, 99 e Tinder
  • No agro, já possui uma parceria com a agtech Grão Direto, sendo responsável pela operação de cartões de prazo safra da empresa