A constatação de que 2023 foi o “ano dos Fiagros” não chega a ser novidade para os agentes de mercado, mas os dados divulgados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) comprovam, em números, o avanço significativo registrado por estes fundos.

A autarquia divulgou a quinta edição do Boletim CVM Agronegócio, e constatou que, em 2023, o patrimônio líquido dos chamados Fundos de Investimento das Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) atingiu R$ 21,3 bilhões até o fim de dezembro. O número mostra um salto de 103% em relação aos R$ 10,5 bilhões vistos no mesmo mês em 2022.

O avanço dos Fiagros veio em conjunto com uma alta no mercado de CRAs que, segundo a CVM, cresceu 35,8% na comparação entre 2023 e 2022. O patrimônio desse tipo de certificado de recebíveis alcançou R$ 130 bilhões no final de 2023.

"O agronegócio segue com crescimento acima da média, o que demonstra sua força no mercado de capitais. Este crescimento tem sido constante e reflete as oportunidades desse mercado", afirmou, em nota, David Menegon, gerente de Securitização e Agronegócio da CVM.

Segundo Menegon, até o final de dezembro de 2023 foram registrados 97 Fiagros em operação, 21% acima do visto ao final de setembro de 2023 e 106% maior do que o patamar anotado em dezembro de 2022.

Dentre as categorias analisadas - imobiliário, de direitos creditórios e de participações -, a primeira ainda é responsável por 50% dos fundos do segmento que estão no mercado.

A CVM ressaltou no boletim que não considerou no montante de R$ 21,3 bilhões sete fundos de investimento em participações (FIP) que migraram para a categoria Fiagro-FIP ao longo de 2023. Considerando esses números, o patrimônio líquido dos Fiagros superaria a marca de R$ 38 bilhões.

Dentre os ativos investidos por esses fundos, CRAs e CRIs correspondem por 55% do total aportado, seguido por imóveis, com 16% e direitos creditórios, com 15%.

Enquanto o mercado dos Fiagros dobrou de tamanho, os outros tipos de investimento, como fundos e aplicações em renda fixa e renda variável avançaram 11,2%.

Esses fundos não relacionados ao agro viram seu patrimônio passar de R$ 12,8 trilhões para R$ 14,3 trilhões.

Dentre os administradores dos Fiagros, a Intrag, do Itaú, acumula R$ 4,6 bilhões do total do patrimônio líquido do setor. Na sequência vem a XP, com R$ 4,2 bilhões e a Genial, com R$ 3,3 bilhões.

De olho nas novas regras

João Pedro Nascimento, presidente da CVM, avaliou que os dados divulgados nesta segunda-feira mostram que o agronegócio pode fazer a diferença no futuro do mercado de capitais brasileiro.

“Nosso objetivo é aperfeiçoar e modernizar cada vez mais a indústria dos Fiagros, em reconhecimento à relevância do segmento agro para o desenvolvimento econômico do nosso País”, afirmou, em nota.

A previsão da CVM é, até o final do ano, apresentar ao mercado a regulamentação definitiva desse tipo de fundo.

A ideia da autarquia era começar 2024 já com as novas leis em funcionamento, mas após receber mais de 20 sugestões feitas pelo mercado em uma consulta pública para aperfeiçoar a norma que regerá esse tipo de fundos, a nova estrutura deve ser divulgada no segundo semestre.

A nova regulamentação vai permitir uma maior diversificação do que pode ser investido nestes fundos, como CPRs, por exemplo.

Outra novidade que deve ocorrer é a criação de uma espécie de Fiagro "multimercado", não tão restrito como é hoje, e que pode abarcar participações em empresas, direitos creditórios, CRAs, terras e até recuperação judicial em um só fundo.

Segundo Nascimento, presidente da CVM, a meta da CVM para esse ano é a apresentação desta resolução. “Lugar de agronegócio é no mercado de capitais”, acrescentou.