Se abrir áreas de vegetação nativa está ficando cada vez mais impensável em tempos de mudanças climáticas, a prioridade no agronegócio é expandir produção nas terras consideradas degradadas, especialmente de pastagens.

Uma estimativa do Itaú BBA, por exemplo, considera que o Brasil tem pelo menos 28 milhões de hectares de terras nesta condição. São áreas que poderiam ser convertidas em lavouras ou em pastagens de alta produtividade.

O cenário vem atraindo investidores em todos os elos da cadeia e chamou a atenção até mesmo da Arara Seed, uma plataforma de equity crowdfunding (investimento coletivo) que, no começo, tinha como foco principal apenas financiar startups do agro.

O plano agora é expandir a área de atuação. Em entrevista ao AgFeed, o CEO da Arara Seed, Henrique Galvani, contou que uma mudança recente foi a criação de uma vertical de dívida, com emissões de CRIs e CRAs, os certificados de recebíveis ligados ao mercado imobiliário e ao agronegócio. Mas vem mais novidade.

“Agora nós estamos abrindo uma nova vertical, de ativos reais, com potencial de compra de terras agrícolas em áreas de expansão e, principalmente, a restauração de áreas degradadas”, disse Galvani.

Ele diz que uma primeira captação privada com esse foco já foi feita e que, em breve, pretende lançar uma oferta pública.

A meta do novo pilar é comprar 5 mil hectares de áreas degradadas, com preços mais baixos, ao longo de cinco anos, para depois fazer um “capex”, investir na recuperação e conversão dessas áreas que, mais adiante, são vendidas a valores bem mais altos.

Até 2032, considerando todas as frentes que atua, a Arara Seed prevê captar R$ 200 milhões, segundo o CEO.

“Hoje, com dois anos e meio de Arara, a gente já captou R$ 50 milhões, entre ofertas públicas e privadas. Então, praticamente, já estamos a 25% da meta de captação”.

No começo da empresa, não havia a intenção de trabalhar com terras agrícolas, ele admite. Agora, com a nova frente, Galvani diz que talvez consiga acelerar o atingimento das metas.

Oportunidade em ofertas públicas

As emissões feitas pela Arara Seed em 2025 mostraram uma mudança de perfil. No primeiro semestre do ano passado foram R$ 10,2 milhões em captações privadas e apenas R$ 1 milhão em oferta pública.

Já nos primeiros seis meses deste ano foram registrados R$ 15,5 milhões em captações públicas e R$ 2 milhões em privadas.

O que pesa do começo de 2024 foi o foco absoluto no caso da Bem Agro, startup que captou mais de R$ 10 milhões em rodada liderada pela CNH.

Galvani diz que houve um foco maior naquela operação, mas que hoje o time já cresceu e é possível seguir com captações privadas que estão prestes a sair, enquanto trabalham na ampliação das ofertas públicas.

A Arara Seed segue trabalhando em conectar investidores com startups e promete novidades em captações privadas ainda este ano, porém acredita muito no potencial da outra ponta, que é o crowdfunding via oferta pública regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), algo que a empresa já domina.

A expectativa é de que esse mercado cresça porque a CVM já admitiu, durante um evento recente do agronegócio, que pretende até o final do ano criar “um ambiente regulatório”, mesmo que seja de forma experimental, para que produtores rurais pessoa física possam emitir CPRs e acessar diretamente o mercado de capitais.

Um caminho para que isso ocorra seria o modelo de crowdfunding, justamente o terreno em que atua a Arara Seed.

“A intenção de fazer essa nova vertical de terras agrícolas é justamente trazer dentro do crowdfunding a possibilidade de pessoas físicas, fazendeiros com pouco dinheiro, com cheques mais acessíveis, não milhões de reais”, explicou o CEO.

O valor do ticket médio ainda não foi definido, poderia ficar, por exemplo, segundo ele, em R$ 10 mil ou R$ 15 mil. “É para o pessoal comprar e participar do movimento que é terras agrícolas em áreas de expansão com uma pegada ambiental muito relevante”.

A Arara Seed atua no segmento regulado pela chamada resolução 88 da CVM, que permite captar até R$ 15 milhões via emissão pública.

A vantagem em relação ao modelo privado é que há regras de governança bem definidas (se aprovado para pessoa física, o produtor terá que se adaptar a elas). Seria uma forma de ajudar os produtores a melhorar seus controles e se aproximar do mercado de capitais.

“Tem muito produtor que pega (crédito) de custeio para fazer investimentos. Pega custeio para fazer uma irrigação na propriedade, para fazer uma implantação de uma lavoura, por exemplo, de café, que vai demorar dois anos e meio para dar a primeira colheita e são endividamentos de curto prazo”, alerta.

Ele defende que o mercado de capitais será mais uma alternativa para esses produtores, além das linhas de crédito tradicionais.