O Brasil terminou o ano de 2022 com mais de 1.700 startups com foco na inovação do agronegócio, segundo o levantamento Radar Agtech Brasil, realizado pela Embrapa, em parceria com a SP Ventures e a Homo Ludens. O estudo mostrou que, comparando com 2020, houve um crescimento de 85% no investimento nessas jovens empresas.

Cerca de US$ 200 milhões foram captados, de acordo com o estudo, no ano passado. Entre as empresas em estágio mais inicial, um dos instrumentos que mais cresceu foi o investimento coletivo, ou equity crowdfunding.

Este mercado ainda é relativamente pequeno no Brasil, mas vem crescendo. Segundo levantamento feito pela consultoria Quantum Axis, com base em dados da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, entre janeiro de 2022 e março de 2023, o crowdfunding levantou R$ 75 milhões para startups de todos os segmentos, crescimento de 61% ante o valor apurado em 2021.

No agronegócio, uma empresa tem se dedicado a promover este tipo de aporte exclusivamente para o setor. A Arara Seed recentemente levantou R$ 1,8 milhão para a Agroboard, empresa que faz gestão de risco e automatiza operações financeiras para grandes produtoras de commodities agrícolas.

Esta é somente a segunda rodada de investimentos promovida pela Arara Seed. Segundo Henrique Galvani, diretor Operacional e cofundador da empresa, a intenção é fechar o ano com R$ 6 milhões em captações.

No longo prazo, os planos são mais “ousados”, segundo o próprio Galvani. A Arara Seed pretende levantar R$ 140 milhões a serem investidos em 100 startups do agronegócio.

“O mercado está passando por uma onda de adesão à tecnologia, à medida que as empresas e produções passam de pai para filho. Tem muito espaço para crescer”, diz o executivo.

Mudanças na regulação pela CVM, realizada em julho do ano passado, devem ajudar o mercado de equity crowdfunding. Até então, somente empresas com até R$ 10 milhões de faturamento anual poderiam receber recursos desta natureza. Este limite aumentou para R$ 40 milhões.

Outra alteração, esta mais sofisticada, permite uma espécie de mercado secundário de equity crowdfunding. “O investidor que realizou alguma operação desta categoria nos últimos dois anos pode comprar um aporte feito por outro investidor. Algumas plataformas já têm esse ambiente”, diz Galvani.

No caso da Agroboard, a Arara Seed contou com a Rural Ventures para liderar a rodada de aportes. A gestora de venture capital colocou R$ 1,05 milhão na agtech.

“Nós fazemos o mesmo papel de um banco que lidera a abertura de capital de uma empresa na Bolsa. Validamos a tese, estudamos a empresa a fundo”, diz Fernando Rodrigues, fundador da Rural Ventures.

A Agroboard atuou no fechamento de R$ 77 bilhões em operações em 2022, conta Danilo Lombardi, CEO da agtech. A empresa tem uma carteira de apenas 20 clientes, mas entre eles, estão cinco das 10 maiores cooperativas agrícolas do país, e três empresas de capital aberto.

“Hoje, atendemos empresas que têm, pelo menos, R$ 2 bilhões em receitas por ano. Com este aporte, vamos ampliar nossa carteira de clientes, começando por empresas que tenham pelo menos R$ 800 milhões de faturamento anual”, diz Lombardi.

A empresa foi fundada em 2020, e atua na formação de preço das commodities produzidas pelos clientes, automatizando e organizando as informações.

Danilo Lombardi, da Agroboard, e Fernando Rodrigues, da Rural Ventures

“Fornecemos todas as variáveis que influenciam nas cotações em tempo real. Atuamos com soja e derivados, milho e derivados, suco de laranja, café e fertilizantes”, explica o fundador, que atua há 17 anos com operações financeiras envolvendo commodities agrícolas.

No caso da Rural Ventures, já foram feitos investimentos em seis agtechs em 2023, e o plano é aportar recursos em mais dez empresas até o final do ano.

“Devemos colocar entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões nestas novas operações”, diz Fernando Rodrigues.

Galvani, da Arara Seed, diz que a parceria com parceiros de maior porte, como a Rural Ventures, ajuda a defender a tese junto aos pequenos investidores.

Ele afirma que, por conta do ciclo do agronegócio, os investimentos são de longo prazo. “A saída pode acontecer em 7 anos ou até 10 anos. Mas geralmente, quando começam a acontecer captações maiores, estes investidores começam a liquidar os aportes menores”.