Cada vez mais gestoras e bancos têm expandido suas operações para o interior do país, atraídos pela proximidade com o agro e pelas oportunidades que surgem dentro e fora da porteira.
Em Joinville, no Norte de Santa Catarina, a Multiplike somou, somente no ano passado, R$ 3 bilhões em operações com o agro. Na pequena São Luís de Montes Belos, em Goiás, a Audax Capital deve chegar a R$ 1,6 bilhão em operações neste ano, boa parte delas ligadas às empresas do agro.
No Espírito Santo, a Apex Partners tem R$ 15 bilhões sob gestão e custódia, de olho em ampliar a presença do agro no mercado de capitais.
Araraquara, no interior paulista, cidade e região de gigantes do setor de citros como Cutrale e Citrosuco, é a sede da gestora Asset Bank Management, que tem mais de R$ 1 bilhão de ativos sob gestão e que, ao longo da última década, tem feito vários negócios com agroindústrias e produtores rurais e pretende fazer o seu patrimônio líquido de fundos ligados ao agro crescer cinco vezes de 2025 para 2026.
Hoje, o patrimônio líquido de veículos voltados ao agro da Asset é de R$ 400 milhões, mas a intenção de Gustavo Alves, CEO da gestora, é que esse valor cresça entre cinco a seis vezes já no ano que vem, chegando a algo como R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões.
"A nossa ideia é que, em 2026, a Asset tenha um patrimônio líquido próximo a R$ 6 bilhões e que agroindústria e agropecuária seja entre 40% e 50% disso", estima o CEO da Asset.
“Hoje o agro tem uma representatividade menor no nosso business, mas não por vontade nossa. Viemos de dois anos de um ciclo do agro difícil e o mercado se retraiu. Mas quando voltar o apetite do investidor por produtos de agro, eu tenho demanda e capacidade de dizer: ‘Se você alocar R$ 100 milhões, eu trago R$ 100 milhões de originação.”, explica Alves, em entrevista ao AgFeed.
Criada há uma década por profissionais que se conheceram em diferentes posições do banco Santander, a Asset começou com um FIDC, de olho nas possibilidades que novas estruturas de crédito foram abrindo para o mercado financeiro ao longo da última década.
"Nós atendíamos a um nicho de clientes que já vinha recebendo assédio em relação a atuar e operar com FIDCs", recorda Alves, ele próprio um egresso do Santander, com quase 20 anos de atuação em agências do interior de São Paulo.
"Então, a Asset nasceu como um FIDC, levando a opção de crédito para os nossos clientes que, até então, estavam nos bancos, mas agora com uma outra opção", complementou.
Com o tempo, a estratégia evoluiu para atender diferentes setores da economia, e também o agro, criando mecanismos financeiros de crédito atendendo desde produtores rurais até grandes grupos empresariais.
Atualmente, a Asset Bank administra mais de 40 FIDCs, sendo 12 fundos totalmente dedicados a financiar a cadeia do agro, contemplando principalmente agroindústrias, mas também produtores rurais.
Além da Asset Bank, o grupo controlador da gestora mantém também a Azumi DTVM, distribuidora de títulos.
"O nosso caminho é seguir pelas duas frentes: fomentar o produtor rural via emissão de dívidas para cultivo, custeio ou investimentos, e também olhar para agroindústria, com a solução de um FIDC proprietário, os FIDCs-Fiagros", explica Alves.
A casa opera com um produto de prateleira e também fundos exclusivos para atender agroindústrias e produtores rurais.
Esse produto de prateleira é o Campo Arado, um FIDC-Fiagro multissacado que concede crédito a produtores rurais – e também agroindústrias e empresas da cadeia do agro – por meio de CPRs financeiras e recebíveis da cadeia.
O fundo, que hoje tem um patrimônio líquido de R$ 46 milhões, reúne produtores e agroindústrias de diferentes portes e regiões, diluindo riscos tanto climáticos quanto de mercado.
Entre os tomadores estão grupos empresariais formalizados como CNPJs agrícolas, além de produtores organizados em condomínios rurais. A carteira contempla culturas variadas, como cana, soja, milho e pecuária, e está distribuída por estados como Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e São Paulo.
Um dos diferenciais destacados por Alves é a agilidade na liberação de crédito para o agronegócio.
"O produtor toma esse recurso num tempo muito mais hábil. Operação de crédito dentro do banco, em média, demora 40 dias, seja o recurso obrigatório, seja o recurso livre. Hoje, nós liberamos uma operação com alienação fiduciária de imóvel ou com penhor de safra com 10 dias úteis."
Ele também traz um exemplo vindo de soluções de crédito das agroindústrias: um grande produtor de fertilizantes que fornece para as principais usinas sucroalcooleiras da região, cliente da Asset há três anos, fatura próximo de R$ 1 bilhão e mantém um fundo de R$ 150 milhões.
"A empresa dele vende a prazo para receber das usinas daqui a 90 dias e, assim, ele consegue capital de giro", explica Alves.
A originação, inclusive, é uma das forças da Alves, aprendidas pela equipe da gestora desde os tempos do Santander.
“Essa originação inclui um engenheiro agrônomo, que os bancos têm, que vai acompanhar a safra, avaliar a capacidade de tomada de risco, fazer um quadro de produção, e também o gerente de agro, que é aquele profissional que conhece o produtor, conhece a região, entende de cultura, que vive o dia a dia daquele produtor. Ele entende bem, conhece a família… nós trouxemos isso para dentro da Asset”, explica.
A criação de produtos sob medida, com boa capacidade de originação, é um dos pilares da Asset Bank.
Alves dá um exemplo concreto dessa estratégia: ele diz que, para uma agroindústria criar um FIDC, em tese, deve faturar R$ 300 milhões a R$ 500 milhões. "É o valor que a gente entende que ela já tem um volume mensal de necessidade de crédito que suporta um FIDC", diz.
Mas, na prática, o gestor explica que há mais flexibidade. "Tem casos de empresas que não sabem o que é operar dentro de um FIDC. Estão acostumadas a pegar recebíveis dela, inserir em um internet banking de um banco e transformar aquilo em dinheiro 10 minutos depois", afirma.
"Faço todo um ciclo educacional. Pegamos três meses na mão, ensinando como se opera num FIDC. Aí o cara diz 'Se eu vou por R$ 100 mihlões, vou travar meu caixa, e se não der certo?'. Aí eu falo: 'Não, vamos começar com R$ 5 milhões, por 90 dias vamos operar com R$ 5 milhões'"
"Aí a empresa entende a dinâmica, percebe que é fácil e, quando vê, os R$ 5 milhões viram R$ 50 milhões. A gente fala muito de sair do “viés da desbancarização”. Normalmente, a empresa ou a pessoa física tem que tomar aquilo que o banco tem na prateleira e não está nada errado. Mas será que aquilo é viável para ela em toda a sua necessidade? Essa é a pergunta que fazemos”, diz Alves.
Além da frente de crédito, a Asset Bank também atua na parte de wealth management, com serviços de gestão patrimonial, planejamento tributário e sucessório para clientes empresariais e pessoas físicas, operando em parceria com bancos e gestoras como BTG Pactual, XP Investimentos, Genial Investimentos, Banco Safra, Ágora Investimentos e Avenue, entre outras.
"Nós fazemos a gestão desse investimento, de ponta a ponta. No final do dia eu consigo avaliar a empresa como um todo, dar orientação tributária, fiscal, e se o crédito dela cabe dentro de um FIDC ou não", explica Alves.
A Asset Bank também atua no agenciamento de operações de dívida. Em alguns casos, quando um cliente precisa estruturar um CRA ou outra emissão de maior porte, a gestora conecta a demanda a grandes instituições financeiras - ainda que, até hoje, não tenha participado diretamente de emissões de CRA.
Alves cita o exemplo de um cliente pessoa física que já era cliente da área de wealth da Asset e acabou tendo a necessidade de fazer uma emissão de CRA, que acabou sendo adquirido por Santander e Caixa.
A estratégia, explica o executivo, é “ligar as pontas”: mesmo que a Asset não participe diretamente da emissão como compradora, ela acompanha todo o processo para atender a necessidade do cliente e manter o relacionamento.
"Eu ligo as pontas, porque vou atender o cliente no final do dia. Aquilo que ele tem comigo permanece e eu ganho com ele mais algumas estrelinhas, porque eu atendi a necessidade dele, em casa ou não", brinca Alves.
"Ocorre às vezes desse cliente ser assediado por aquele que eu levei para a emissão da dívida. Isso já aconteceu, mas a fidelidade do cliente é tão grande que ele não vai embora."
Resumo
- Sediada em Araraquara (SP), Asset Bank, administra hoje R$ 400 milhões em veículos ligados ao agro
- Gestora tem mais de 40 FIDCs sob gestão, incluindo 12 dedicados ao agro, oferecendo crédito a produtores rurais e agroindústrias
- Meta é multiplicar patrimônio líquido de fundos para o agro entre cinco e seis vezes até 2026, atingindo entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões