O Brasil é olhado com lupa pelo resto do mundo, quando se fala em preservação do meio ambiente. Principalmente ao se tratar de Amazônia, que se tornou preocupação global em meio às mudanças climáticas.

O agronegócio é sempre envolvido nas preocupações, e mais especificamente, a cadeia de proteína animal.

Por isso, a JBS, uma das gigantes mundiais do segmento, tem aproveitado a COP 28, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai, no Emirados Árabes Unidos, para anunciar e reforçar as iniciativas que toma para contribuir com o combate ao desmatamento.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CSO (Chief Sustainability Officer), ou diretor global de sustentabilidade, Jason Weller, revelou que os Escritórios Verdes, uma dessas iniciativas, passaram a ter atendimento virtual.

“Nós devemos fechar o ano com 20 Escritórios Verdes físicos, hoje temos 19. Mas vamos ampliar nosso atendimento aos pecuaristas montando um atendimento virtual, porque a demanda hoje é muito grande”, afirma Weller.

Ele afirma que a JBS vai continuar investindo na abertura de unidades físicas dos Escritórios Verdes. “Nós abriremos uma nova via de atendimento, sem deixar de lado o que já fazemos. Como não podemos abrir escritórios em todos os estados, e muita coisa pode ser resolvida com atendimento virtual, vamos ter essa alternativa”.

Segundo um balanço divulgado pela JBS em novembro, ao lançar a versão 2.0 dos Escritórios Verdes, a iniciativa já apoiou a regularização socioambiental de mais de 7 mil fazendas, com a reintegração de 2,6 milhões de cabeças de gado à cadeia formal da pecuária.

No total, os Escritórios Verdes estão próximos de chegar a 20 mil produtores atendidos. Na nova versão, além de apoiar a regularização, a JBS passa a oferecer aos pequenos produtores assistência tecnológica para elevar a produtividade de forma sustentável.

Sobre a rastreabilidade, Weller cita um acordo fechado entre a JBS e o governador do Pará, Helder Barbalho, durante a COP 28. Serão US$ 9 milhões, ou pouco mais de R$ 43 milhões em investimentos nos próximos três anos que serão direcionados para rastrear individualmente os animais.

“Eu concordo com o nosso CEO, Gilberto Tomazoni, quando ele diz que a rastreabilidade precisa fazer parte de uma política governamental. Como empresa, tentamos contribuir ao máximo para que o mercado se torne cada vez mais transparente”, afirma Weller.

Em setembro, ao participar de uma conferência sobre meio ambiente em Nova York, organizada pelo The New York Times, Tomazoni afirmou que “a única solução para o desmatamento no Brasil é ter um sistema nacional de rastreabilidade obrigatória”.

Outro ponto relevante da atuação da JBS levada à COP 28 foi o Fundo JBS pela Amazônia, segundo Weller. Ele cita especialmente o programa “Juntos: Pessoas + Floresta + Pecuária”.

O programa foi lançado recentemente em parceria com a startup Belterra, e segundo o executivo da JBS, vai ajudar inclusive a impulsionar os resultados econômicos dos pequenos pecuaristas localizados na Amazônia, especialmente no Pará.

“A partir do momento em que melhoram a qualidade do gado, os pequenos produtores conseguem mais receitas, um preço maior por cabeça. Mas é também um jeito de aumentar a rastreabilidade e a sustentabilidade destas propriedades menores”, afirma Weller. “É um programa de ganho triplo. Nós, os produtores e o meio ambiente”.

O Fundo JBS pela Amazônia separou R$ 10 milhões para investimento inicial no programa, mas o valor total pode chegar a R$ 100 milhões.

Weller acredita que este tipo de discussão é relevante não só para o Brasil, mas para todo o planeta. “O mundo precisa do Brasil para se alimentar. Então, nós precisamos caminhar cada vez mais na direção da maior produtividade com mais sustentabilidade”, diz o executivo.

Durante a COP 28, o executivo da JBS teve diversas reuniões com representantes do mercado e líderes governamentais de diversos países. E segundo ele, há uma “falta de entendimento” sobre a complexidade das questões que envolvem a atividade agropecuária e o desmatamento no país.

“Há um compromisso do governo federal e do Pará de resolver essas questões. Mas não é só colocar um brinco de rastreamento no gado. Esta provavelmente é a parte mais fácil. Mas há uma necessidade de muitos investimentos para regularizar as fazendas. Não que todas sejam irregulares, mas elas precisam passar pelo processo legal”.

Sobre a visão que as pessoas no Brasil e no mundo têm sobre a atividade pecuária, Weller diz que público, mídia e até mesmo investidores têm uma ideia “muito simplista” sobre como é ser um fazendeiro.

“E por isso, há uma visão também simplificada demais sobre as soluções para resolver os problemas. A presença do agronegócio na COP 28 é importante, porque a agricultura traz os caminhos mais naturais para combater as mudanças climáticas”.

Ele acredita que há inclusive uma oportunidade para que o agronegócio capture mais investimentos voltados para redução das emissões de carbono e combate às mudanças climáticas.

“Das centenas de bilhões de dólares direcionados para esse fim, somente 2% ou menos vai para o agronegócio. É uma grande oportunidade perdida. E estamos trabalhando para mudar esse cenário”.