Brasília (DF) - Duas crises de proporções globais concentradas em menos de dois meses. Nem o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial do Brasil, em 15 de maio, nem o tarifaço de 50% de Donald Trump, em 9 de julho, parecem tirar do sério o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua.

“É um bom momento para estar no cargo, né?”, brincou Rua com seu colega de ministério, o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, nesta quarta-feira, 16 de julho, após uma conversa entre ambos na qual o tema basicamente foi a rivalidade futebolística entre o corintiano Rua e Campos, torcedor de arquibancada da Ponte Preta.

Em seguida, Rua contou ao AgFeed a estratégia do Ministério da Agricultura para mitigar os efeitos das crises. Diálogo com o setor privado, conversas com adidos agrícolas e, principalmente, a abertura e ampliação de mercados.

Até agosto, o secretário espera anunciar que serão 400 novos abertos, desde 2023, o dobro da meta pedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início do atual mandato, ao ministro Carlos Fávaro, da Agricultura.

Até agora, são 393 mercados abertos - 70 na África, 125 nas Américas, 161 na Ásia, 22 na Europa e 15 na Oceania. Os últimos foram o de arroz para Costa Rica, o de carne para El Salvador, o de castanha de baru para a União Europeia e o de produtos de nutrição para pets para o México.

“Eu tenho falado todos os dias com todos os presidentes de associações, empresários e essa é a hora de a gente estar muito próximo, ainda mais próximo do setor privado, para entender como está a dor deles e buscar essas oportunidades. Sem deixar, naturalmente, de dar suporte à negociação que está sendo feita no nível do vice-presidente Geraldo Alckmin e do Itamaraty”, afirmou Rua se referindo à possibilidade de os produtos brasileiros serem taxados em 50% pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto.

Apesar de alguns setores serem mais sensíveis ao tarifaço, como café, suco de laranja, carnes, couros e pescados, a lição em busca da diversificação de mercados vem sendo aprendida nos últimos dois anos e meio, segundo ele.

“O que preenche a nossa alma é que a gente já tinha entendido isso lá em 2023 e começou esse trabalho. Eu tenho certeza que, se isso (tarifaço) vier a ocorrer, terá alguns efeitos do ponto de vista de exportações, de algumas cadeias produtivas, mas para minimizar esses efeitos a gente já começou lá atrás esse trabalho. Agora é só intensificar”.

Segundo o secretário, o governo cobrou a cadeia de 40 adidos agrícolas espalhados por 38 mercados - China e União Europeia têm dois adidos cada, pela importância - para uma busca ativa de oportunidades comerciais, especialmente para esses produtos mais sensíveis.

Segundo o secretário, o governo encerrou o processo de seleção de 14 novos adidos para substituírem, a partir de janeiro de 2026, os que tiverem seus mandatos encerrados.

Foram 115 participantes e o processo de seleção, além de longo, precisou definir nomes que se encaixem nos diferentes perfis de mercados.

“Tem postos que você precisa de uma pessoa mais proativa e os que você precisa de uma pessoa que vai ler muito regulamento, avaliar, buscar na vírgula”, explicou.

“Tem postos para uma pessoa boa de promoção comercial e outros que você precisa de uma extremamente técnica como no posto nosso em Paris que atende a OCDE e a Organização Mundial de Saúde Animal”.

Frango

A conversa e as negociações estão dando resultado, de acordo com o secretário, para a retomada dos mercados fechados à carne de frango brasileira após o foco de gripe aviária em uma granja de Montenegro (RS). Peru, nesta semana, África do Sul, Filipinas e México, na semana passada, foram os últimos abertos.

Ainda faltam China, União Europeia, Chile e Arábia Saudita, grandes compradores, e Malásia, com menor fluxo, para concluir a missão de retomada total dos mercados para a carne de frango brasileira.

“Pediram uma série de documentos e informações adicionais, que a gente já forneceu e agora aguarda a avaliação final. Não dá para dizer exatamente a data, mas acho que estamos muito próximos de virar essa página”.

Com a crise, 150 mil toneladas de carne de frango deixaram de ser exportadas, mas o fluxo de comércio, segundo Rua, deve ser mantido com o aumento das vendas a outros mercados.

Diante de um ano tão turbulento e com a incerteza sobre as negociações com os Estados Unidos, Rua evita previsões para o fechamento do comércio exterior do agronegócio brasileiro em 2025. Em 2024 foram US$ 164 bilhões em exportações.

“Está difícil ter clareza sobre o que vai ser o mês que vem. É muito mais difícil, então, prever o que vai ser o ano. Mas o que a gente sabe é que as exportações vão continuar fortes no agronegócio e nós vamos abrir mais mercados”, concluiu.

Um pouco antes, Rua foi interrompido pelo colega Guilherme Campos, que reapareceu por uma porta lateral no meio da entrevista.“Se você pensa que sua situação está difícil, imagine a minha com a Selic em 15%?”, brincou o secretário de política agrícola.

As tarefas de Rua e Campos são complicadas, mas o bom-humor de ambos continua afiado.

Resumo

  • Diante da gripe aviária e das possíveis tarifas dos EUA, o Ministério da Agricultura intensificou sua estratégia de diversificação comercial
  • Govrno contabiliza abertura de 393 novos mercados para produtos agropecuários desde 2023, com meta de atingir 400 até agosto
  • O governo mobilizou seus 40 adidos em 38 países para uma busca ativa de oportunidades comerciais, especialmente para setores sensíveis às crises, como carne, café e suco de laranja