Em meio a um ambiente de juros altos, financiamento mais difícil e tensões internacionais, o setor de fertilizantes do Brasil pode ter de enfrentar também uma demanda menor em 2025.

A previsão era de que as entregas de fertilizantes ficassem em torno de 47 milhões a 48 milhões de toneladas esse ano, segundo Eduardo Monteiro, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) e Country Manager da Mosaic, uma das maiores produtoras de fosfatados e potássio combinados.

“A demanda por fertilizantes sempre foi algo meio matemático. Como estamos saindo agora de uma safra recorde, esperava-se que haveria um aumento da demanda a fim de repor todos os nutrientes que foram retirados do solo”, explicou Monteiro, ao AgFeed, durante o 12º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, nesta terça-feira, em São Paulo.

Agora, o setor espera que o número se iguale ao do ano passado. “Se ficar na mesma, está ótimo”, disse Monteiro.
No ano passado as entregas de adubo no Brasil totalizaram 45,6 milhões de toneladas. No início do ano, o setor chegou a prever crescimento de 7%, como mostrou o AgFeed.

O problema, segundo o dirigente da Anda, é que os agricultores estão segurando seus investimentos, incluindo a compra de fertilizantes.

As altas taxas de juros do mercado -- com a Selic em 15% ao ano -- é um dos fatores que explica essa cautela em investir.

Houve pedidos de recuperação judicial no agro, lembrou Monteiro. Em 2024, o número de RJs saltou 138% em relação ao ano anterior, segundo dados da Serasa Experian, totalizando mais de 1.270 processos, um recorde histórico.

O viés de alta vem sendo mantido, com aumento de 21% nos pedidos de RJ de produtores rurais no primeiro trimestre de 2025, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Com isso, há mais risco no mercado para quem empresta dinheiro, o que encarece o crédito. Além disso, há um atraso na liberação de financiamento para pequenos e médios agricultores.

Outras questões têm a ver com o preço dos fertilizantes. No geral, os estoques estão em alta, o que acaba regulando os valores criando uma tendência de baixa.

O problema é que questões internacionais podem interferir. “A Índia tem uma indicação de que precisa comprar cinco milhões de toneladas de ureia até outubro. Ela já recebeu ofertas num leilão para dois milhões, cujo resultado ainda não foi divulgado”, explica Renata Cardarelli Gabrielli, editora de grãos e fertilizantes da agência especializada Argus Media, que foi uma das painelistas no Congresso da Anda.

Além disso, há também o tarifaço do presidente americano Donald Trump e ainda possíveis retaliações que ele pode implementar a quem faz negócios, por exemplo, com a Rússia.

É o caso do Brasil e isso deve acontecer, segundo Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, que também participou do evento.

Ele ressaltou que enquanto a área total plantada no Brasil teve crescimento anual de 3,1% nas últimas duas décadas, o setor de fertilizantes teve elevação de 4,6% ao ano.

Esse crescimento agora, diz ele, pode sofrer ameaças. “Abrir novos mercados não é algo fácil de acontecer e os Estados Unidos são nosso segundo maior comprador”, diz ele, que defende que as negociações devem ser mantidas e, se possível, incrementadas.

Resumo

  • O setor de fertilizantes no Brasil pode enfrentar demanda menor em 2025, após previsões iniciais de um crescimento de 7%.
  • Em 2024, as entregas totalizaram 45,6 milhões de toneladas e o setor agora espera números semelhantes, devido à cautela dos agricultores em investir, em meio a juros altos e crédito mais restrito.