O clima seguiu em condições mais favoráveis neste início de ano para as lavouras mais tardias de soja, o que fez a Agroconsult, consultoria que promove o Rally da Safra, revisar para cima a produtividade média no Brasil, além de rever as estimativas para a área cultivada, o que resultou em maior produção na oleaginosa.

A produção de soja na safra 2023/2024 está agora estimada em 156,5 milhões de toneladas, 2,9% acima das 152,2 milhões de toneladas previstas pela consultoria em fevereiro. Vale lembrar que no início da safra, em setembro do ano passado, a previsão que o potencial era de 169,1 milhões de toneladas, portanto houve uma quebra de 12,6 milhões de toneladas em relação às expectativas iniciais.

“Foi o ano mais difícil em 21 anos de Rally da Safra”, afirmou o CEO da Agroconsult, André Pessoa. Ele destacou a forte irregularidade de chuvas e maior frequencia de ondas de calor, além de um El Niño atípico, já que o Centro-Oeste, desta vez, teve a produtividade bastante afetada pelo fenômeno climático, algo que não era verificado, historicamente.

O Rally da Safra prevê que a produtividade média da soja no Brasil fique em 56,2 sacas por hectare, uma queda de 6,5% em relação a safra 2022/2023.

André Debastiani, sócio da Agroconsult e coordenador do Rally da Safra, explicou que o ajuste de produtividade em relação à fevereiro ocorre principalmente por melhores condições nas lavouras de Minas Gerais, “que tiveram áreas muito boas”, na Bahia, e principalmente pela excelente safra no Rio Grande do Sul, que por enquanto só colheu cerca de 15% das lavouras.

A pior produtividade do Brasil está sendo prevista para o estado de São Paulo, com 48 sacas/hectare. Já o maior rendimento das lavouras deve ficar com a Bahia, com 63,8 sacas/hectare. Ambos os estados, no entanto, também tiveram queda na produtividade em relação à safra anterior, de 24,4% e 4,8%, respectivamente.

A variável “área plantada”

A atual safra de soja foi marcada por polêmicas envolvendo o “tamanho da quebra”. Depois de muitos anos seguidos sem perdas significativas, o estado de Mato Grosso, maior produtor de soja do País, está colhendo 10 sacas por hectare a menos na atual temporada, se comparada a anterior, na estimativa da própria Agroconsult.

Lideranças de produtores do estado no entanto por diversas vezes criticaram consultorias e a própria Conab, alegando que a quebra seria maior e, no caso da Aprosoja-MT, chegando a prever uma safra de 135 milhões de toneladas para o Brasil.

Na opinião dos analistas da Agroconsult, um dos motivos para a divergência é o tamanho de área plantada considerado nas estimativas.

Na coletiva de imprensa promovida hoje pelos organizadores do Rally da Safra, foi apresentada a metodologia própria, que considera não apenas o que é colhido pelas equipes de campo, mas também algoritmos que foram calibrados e o uso de imagens de satélite, para definir o real tamanho da área de cada cultura.

Para a Agroconsult, a área que foi semeada com soja no Brasil em 23/24 é de 46,5 milhões de toneladas, número que fica em 1,2 milhão de hectares acima do que está prevendo a Conab (no último levantamento apontou 45,2 milhões de hectares).

Em fevereiro a Agroconsult considerava que a área era de 45,7 milhões de hectares. O ajuste em relação à própria projeção, segundo a consultoria, foi o fato do uso de imagens de satélite ter sido estendido a todos os estados do Brasil.

André Pessoa lembrou que em função do clima teve soja plantada no Brasil "até em janeiro", por isso os dados captados por satélites são ainda mais assertivos agora em março, quando as lavouras já estão em estágio mais avançado em regiões que plantam mais tarde.

Os números da Agroconsult indicam que a safra 2022/2023 foi de 162,5 milhões de toneladas, enquanto a Conab calcula em 154,6 milhões de toneladas. A influência também é explicada em parte pela diferença na área plantada considerada para o cálculo.

Em relação aos dados do USDA, a estimativa da Agroconsult é mais próxima. Na atual safra 23/24 o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos segue indicando uma safra de 155 milhões de toneladas e uma área semeada de 45,9 milhões de hectares.

O Rally da Safra percorreu 56 mil km em 15 estados, nesta etapa da soja. Com o atraso no plantio e a irregularidade climática, André Debastiani disse que uma equipe extra ainda vai visitar o Rio Grande do Sul na próxima semana. Para os gaúchos, a consultoria está prevendo uma produtividade média de 57,2 sacas por hectare, um aumento de 55,2% em relação à safra passada, que foi bastante prejudicada pelo La Niña.