O governo dos Estados Unidos, por meio do Departamento de Agricultura (USDA), investirá US$ 50 bilhões na atualização do seu Plano de Adaptação Climática, com o objetivo de ampliar a resiliência da produção agrícola do país, que vem perdendo produtividade e competitividade nos últimos anos.
A iniciativa faz parte da atualização de um plano de prevenção aos impactos do clima chamado Plano Nacional de Adaptação Resiliência Climática, lançado em 2021 pelo presidente Joe Biden no qual os Estados Unidos se comprometeram a liberar US$ 11,4 bilhões até 2024 – ou quase US$ 3 bilhões por ano – para mitigar e adaptar. Os novos recursos ampliam os investimentos até 2027.
O governo dos Estados Unidos estima que apenas no ano passado, desastres ambientais causaram US$ 28 bilhões em prejuízos diretos, valor que sobe para US$ 90 bilhões quando se calculam os danos agregados, ou seja, impactos em setores da economia não atingidos diretamente pelas catástrofes naturais.
Brenda Mallory, Presidente do Conselho de Qualidade Ambiental da Casa Branca, disse ao apresentar o plano que desastres naturais e condições meteorológicas severas têm impactado cada vez mais comunidades agrícolas do país, que sofrem tanto com aumento das enchentes quanto com as ondas de calor extremo.
Um estudo realizado no final do ano passado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), baseado em dados do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) mostrou que a produção de milho dos Estados Unidos recuou quase 10% entre 2021 e 2022 devido às alterações do clima.
A pesquisa da CSIS mostrou ainda que o rendimento médio dos produtores americanos de milho está 5% menor, percentual que pode chegar a 10% até 2030, fazendo o país perder espaço nas exportações globais de milho para países como o Brasil.
Essa redução tem um impacto direto em outro segmento de extremo interesse dos Estados Unidos, que é a produção de etanol – e de outros combustíveis sustentáveis considerados estratégicos para a transição energética do país, segundo lembra em artigo Joe Thwaites, advogado especializado em Financiamento Climático do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
“A competitividade econômica dos Estados Unidos vem diminuindo também no mercado de energia limpa, num contexto em que todos os países precisam fazer mais para enfrentar a crise climática e atender ao Acordo de Paris”, escreve Thwaites.
Cenário semelhante foi traçado para o cultivo outros cereais, entre eles trigo, além da pecuária – que já estão sendo impactados com o aumento médio de 2ºC a 3ºC na temperatura de Estados como Kansas, Missouri e Iowa, no Meio Oeste americano.
De acordo com o estudo, a temperatura mais elevada aumenta a vulnerabilidade dos rebanhos a doenças, reduz a fertilidade e a produção de leite. Na indústria de laticínios, a estimativa é de uma queda de quase 2% na produção devido aos impactos das alterações do clima, ou cerca de US$ 2 bilhões ao ano.
Se somada às perdas desse segmento com o de carnes, o prejuízo pode chegar a US$ 40 bilhões por ano.
Gestão do solo e inovação
A aposta do USDA, que vai liderar o projeto, é auxiliar produtores – em especial os de menor porte - a melhorar a gestão dos recursos naturais e da terra, para ampliar estratégias de desenvolvimento rural, garantir segurança da produção de alimentos – e em consequência a segurança alimentar - por meio de investimentos em projetos de ciência e inovação.
Uma das principais iniciativas será implementada pelo Serviço Florestal do USDA, que vem desenvolvendo alertas para ampliar o monitoramento de incêndios florestais provocados pelo clima quente. Estão sendo implementadas Estratégia de Crise de Incêndios Florestais (WCS) para reduzir a incidência desses incêndios, mas também foram criados planos de ação e apoio para recuperação de áreas pós-incêndios, com projetos de reflorestamento e retomada de pastagens.
“Os nossos esforços estão em apoiar setores agrícolas e diversas comunidades que vêm sofrendo com as alterações do clima”, disse o secretário de Agricultura, TomVilsack.
Segundo ele, a ampliação dos investimentos tem como objetivo combinar dados históricos e projeções para avaliar a exposição ao clima, incluindo os riscos de ondas de calor e de precipitação extrema – com possibilidade de inundação, além do aumento do nível do mar – e de temperaturas de oceanos, como a que ocorre em cenários de El Niño.
A gestão de riscos climáticos para instalações e cadeias de abastecimento, além de ampliação das políticas de adaptação e mitigação dos impactos do clima na produção agrícola foram apontadas pelo secretário como prioridades para que os Estados Unidos possam mitigar os impactos e, consequentemente, seguir na liderança do comércio mundial – posição que vem perdendo nos últimos anos.