A Agroconsult, tradicional consultoria do agronegócio, abriu a prévia da safra 2025/2026 com um diagnóstico dividido: enquanto a soja avança pouco, mas de forma consistente, o milho acende um alerta diante do clima irregular e de uma janela de plantio mais apertada.
Os números da empresa para a temporada foram apresentados pelo sócio-fundador André Pessoa, durante a edição de 2025 do jantar da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais)
Para a soja, a Agroconsult projeta que a área de plantio na safra 2025/2026 deve ficar em 48,8 milhões de hectares, um avanço de 2,1% frente à temporada anterior, ou cerca de 1 milhão de hectares a mais.
Pessoa cita que o avanço decorre principalmente do aumento de áreas de pastagem degradada que foram convertidas para agricultura, principalmente em regiões de fronteiras agrícolas.
Com um clima estável, mesmo com uma atenção especial no Rio Grande do Sul devido a La Niña, a produção deve chegar a 178,1 milhões de toneladas de soja, um avanço de 5,9 milhões de toneladas frente à safra 2024/2025, ou de 3,49%.
Cerca de 3,6 milhões de toneladas são originadas pelo aumento da área e 2,3 milhões de toneladas pelo avanço de produtividade, com destaque para a produção gaúcha, que ficou aquém na temporada anterior.
André Pessoa, contudo, se mostrou surpreso com o avanço da área. “2% é pouco pelo que estamos acostumados, mas pela situação atual da agricultura é algo significativo”, disse Pessoa.
Segundo ele, a combinação de uma alavancagem alta, margens comprimidas e um custo de capital elevado aumentam o risco de crédito, que tem ficado mais caro e seletivo.
Para além das RJs, ponto considerado delicado por um uso banalizado do instrumento, o consultor cita uma alta nas renegociações e alongamento dos prazos de pagamento.
Pessoa aponta que estudos internos da Agroconsult enxergaram que a alavancagem média do produtor típico do cerrado - aquele que planta soja e milho - está em torno de 2,5 vezes a relação entre a dívida líquida e o Ebitda.
“Não é um desastre, mas é alto. Isso é levando em consideração só as dívidas do sistema financeiro, mas se somar outras como fazendas compradas, teremos um número mais alto. Isso é uma média, o problema é que ela esconde disparidade de situações”, disse Pessoa.
Para ele, a solução de desalavancar, ou seja, vender ativos, é fácil de receitar, mas difícil de executar. “Não é um bom momento para vender pois há poucos compradores, então a venda é descontada. Ao mesmo tempo, o produtor abre mão do que pode gerar fluxo de caixa no futuro”, acrescentou.
A produtividade média na soja deve ficar próxima da dos últimos anos, em patamares próximos às 60 sacas por hectare.
A Agroncosult projeta uma exportação de 109,1 milhões de toneladas em 2025 e de 112 milhões de toneladas no ano que vem. No esmagamento, a projeção é de 58,5 milhões de toneladas em 2025 e de 60 milhões de toneladas em 2026.
“Teremos soja cedo no mercado, com grãos colhidos entre Natal e Ano Novo, com soja em janeiro sendo entregue. A dinâmica de exportação deve ser de uma largada mais forte, com exportações em janeiro e fevereiro acima do ano passado, depois com uma estabilização”, disse Pessoa durante o evento.
Com as 178,1 milhões de toneladas de soja nacional, a safra da América Latina deve atingir 249,5 milhões de toneladas, com altas na produção na Argentina, Paraguai, Bolívia e um pequeno recuo no Uruguai. Na temporada passada, foram 241,4 milhões de toneladas.
No mundo, a Agroconsult vê uma produção de 429,7 milhões de toneladas, ante uma demanda de 427 milhões de toneladas.
“A relação entre oferta e demanda mostra que deve haver um fim da baixa nos preços, porque vamos produzir o mesmo que vamos consumir”, ressaltou o sócio da Agroconsult.
No milho, uma produção menor
Para o milho, a Agroconsult projeta uma relação de mais área mas menos produção na temporada 2025/2026. A área total deve ficar em 23,2 milhões de hectares, com 4,4 milhões de hectares no cultivo de verão e 18,7 milhões de hectares para a safrinha, ou safra de inverno.
Pessoa chegou a dizer que ainda é cedo para projetar com exatidão a safrinha, muito por conta de algumas incertezas do clima e atrasos no plantio, mas vê que, nesse período, a área plantada crescerá entre 3% e 4%.
A produção deve bater 141 milhões de toneladas, praticamente 10 milhões de toneladas a menos do que na safra 2024/2025. Desse total, são 115 milhões de toneladas da segunda safra.
Ao classificar as janelas de plantio em três categorias - baixo, médio e alto risco climático -, a Agroconsult cita que, apesar de uma normalidade no Mato Grosso, com uma relação de 70% dentro do baixo risco, 13% no médio risco e 17% no alto risco, o estado de Goiás traz um ponto de atenção.
Por lá, a relação está em 27% no baixo risco, 23% da área em um médio risco e 50% com risco elevado. Na média histórica, é 35% de área total na categoria de alto risco. “Em Goiás, ou não vão plantar e optar pelo sorgo ou vão baixar o investimento do milho”, disse Pessoa.
Em outros estados, como Paraná e Mato Grosso, a relação está mais favorável a um plantio em uma janela de baixo risco.
A Agroconsult pontuou que o consumo nacional vai chegar a 105,5 milhões de toneladas, sendo 67,9 milhões para o setor de proteína animal (avanço de 2,7% em um ano) e 27,1 milhões para as indústrias de etanol (alta de 22,8% em relação à safra 2024/2025). Sâo 10,5 milhões de toneladas para outros tipos de consumo e 40 milhões de toneladas para a exportação, uma queda de 2,6%.
“Vemos um mercado interno pujante, que acaba determinando a formação de preço, especialmente no segundo semestre”, disse.
Algodão com menos área
Na pluma, a área plantada deve recuar pouco mais de 2%, para 2,16 milhões de hectares na temporada 2025/26. A produção deve recuar 3,5%, para 4,1 milhões de toneladas.
Pessoa cita que, historicamente, a demanda global pela pluma sempre estve em torno de 9 milhões de toneladas, algo que deve se manter. Com isso, a redução na área e na produção podem estar ligadas a uma liquidez maior no mercado de milho, impulsionado pelas usinas de cereais.
“Pensando na fixação, comparando o sistema soja e milho ou soja e algodão safrinha, o segundo ainda é melhor, mas a diferença não é igual era no passado. E no milho, o produtor consegue travar o preço, em volumes grandes, nas usinas. No algodão não se encontra no mercado essa liquidez para assegurar a rentabilidade”, disse.
Há poucos meses, havia uma expectativa de de crescer em 100 mil hectares a área de algodão, mas a dificuldade de fixar grandes volumes em prazos mais altos segurou o ímpeto e trouxe o recuo.
Resumo
- Agroconsult projeta que a safra de soja alcance 48,8 milhões de hectares e 178,1 milhões de toneladas, puxada por conversão de pastagens e produtividade melhor no Sul.
- No milho, recuo para 141 milhões de toneladas, afetado por atrasos no plantio e maior exposição ao risco climático, especialmente em Goiás.
- Consultoria aponta produtor mais alavancado, crédito mais seletivo e um ano de decisões mais cautelosas entre soja, milho e algodão.