A safra 2025/2026 será marcada por margens ainda mais apertadas. A combinação de custos de produção mais elevados, preços internacionais pressionados, problemas climáticos e alguns ajustes de produtividade criou esse cenário, que deve comprimir o setor como um todo.
Essa é a avaliação do Itaú BBA, em um relatório divulgado nesta quinta-feira, 27 de novembro. O cenário mostra baixa no indicador em todas as culturas, desde soja, milho, algodão e café, que ainda continuam no azul, mas também no arroz, que deve passar de um ano positivo para um negativo na temporada 2025/2026.
Na soja, principal cultura do país, o custo operacional sobe 7,8% de uma safra para a outra, chegando em R$ 4,2 mil por hectare. Ao mesmo tempo, o preço da saca recua 2,7%, para R$ 106.
A produtividade também encolhe 9,1%, e a margem cai de 45% para 33% na média do País. O Itaú BBA cita, no relatório, que um excesso de oferta internacional impede qualquer alívio.
“O balanço global de oferta e demanda de soja poderá atingir níveis elevados de produção, sustentado pelas boas perspectivas para Brasil e Argentina, mantendo os estoques mundiais em níveis confortáveis”, diz o banco.
O relatório observa ainda que, salvo uma quebra de safra relevante, um cenário que não está no radar da instituição, os preços tendem a se manter pressionados.
O Itaú BBA ainda vê uma situação semelhante no milho, cultura em que o custo sobe 8,5% (de R$ 3,4 mil por hectare para R$ 3,7 mil) e a produtividade recua 8%. Com isso, a margem deve sair de 40% para 30%. O preço da saca se mantém estável com uma produção também elevada, assim como na soja.
Na foto do momento de novembro, o banco cita atrasos no plantio da soja nas regiões de Goiás e Minas Gerais comprimindo a janela da segunda safra. Já no Matopiba, as chuvas estão irregulares, o que dificulta o avanço das plantadeiras no campo.
“As próximas semanas serão decisivas para definir a janela de semeadura e o nível de investimento na segunda safra. Com a melhora na relação de troca milho-fertilizantes, favorecida pela queda nos preços do insumo, produtores que concluíram rapidamente o plantio da soja podem ampliar a área destinada ao milho safrinha”, prevê o Itaú BBA.
No algodão, os produtores enfrentam uma das maiores quedas de margem entre uma safra e a outra: de 39% para 24%. Na cultura, o custo avança 8%, para R$ 12,3 mil, enquanto o preço da pluma cai 7%.
O Itaú BBA aponta que a demanda global, principalmente na indústria têxtil, “segue fraca”. “Isso mantém o mercado de algodão bem abastecido, com ampla oferta e consumo limitado”. Ao mesmo tempo, uma oferta elevada deve continuar estabilizando os preços.
“As perspectivas para a área plantada apresentam divergências, mas o consenso indica alguma redução frente ao ano anterior, reflexo da desvalorização do mercado, do aumento nos custos de produção e do estreitamento das margens aos produtores”, diz o relatório.
A cultura do café ainda apresenta as maiores margens, mas também vê uma pequena retração.
No arábica, a margem saiu de 74% na temporada passada para 71% na safra 2025/2026, enquanto no conilon, o indicador saiu de 75% para 62%, puxada por aumentos nos custos.
O custo de produção do café arábica deve atingir R$ 16,2 mil, ante R$ 15,5 mil no ano passado. No conilon, o avanço é de 43%, de R$ 22 mil para R$ 32 mil.
O que sustenta os preços, segundo o banco, ainda é o ambiente internacional de baixos estoques. “A oferta global de café deve continuar relativamente apertada, o que tende a evitar quedas acentuadas de preços”. A recomendação é de prudência comercial, com o Itaú BBA indicando fixação de preços no momento atual.
A cultura com o maior recuo de margem é o arroz, que sai de um indicador positivo em 15% para um negativo em 8%. O banco destaca que “os preços seguiram a tendência baixista chegando a níveis que restringem a margem do produtor”, ao mesmo tempo em que o setor entra numa nova safra com estoques elevados.
O custo agrícola da cultura passou de R$ 9,4 mil para R$ 9,7 mil, enquanto que o preço caiu de R$ 66 por saca para R$ 56.
O trigo é outro que sofre com margens negativas, mas neste caso, pelo segundo ano consecutivo. Por conta de um aumento da oferta projetado pelo USDA, que deve levar a uma produção recorde, os preços continuam pressionados.
Considerando a produção no Rio Grande do Sul, a margem sai de 15% negativos para 16% também negativos. O custo será de R$ 3,3 mil por hectare, uma alta de 6%, enquanto o preço chega a 56% por saca, baixa de 18%.
No caso da laranja, a compressão de margem também aparece de forma relevante na visão do Itaú BBA. O custo agrícola sobe ligeiramente, de R$ 21,6 mil para R$ 22,2 mil, enquanto a produtividade aumenta de 687 para 847 caixas por hectare. Mesmo assim, o movimento não se converte em melhora de rentabilidade.
O banco aponta que o preço pago ao produtor pela caixa destinada à indústria deve recuar de R$ 70 para R$ 45, o que reduz a margem de 55% para 42%.
Na cana-de-açúcar, a pressão observada é semelhante. O custo agrícola avança levemente, de R$ 3,6 mil para R$ 3,7 mil por hectare. O banco vê uma queda no ATR (Açúcar total recuperável) reduzindo a margem do setor de 40% para 33%.
De acordo com o Itaú BBA, o açúcar perdeu força ao longo do ano, e no etanol, a leitura indica uma recomposição futura da oferta, pressionando o mercado mais adiante, a partir da safra 2026/27.
O peso dos fertilizantes
A pressão sobre custos agrícolas em todas as culturas é influenciada, em grande medida, pelo comportamento dos fertilizantes.
O Itaú BBA cita no relatório que o mercado global desses insumos iniciou 2025 com alta nos preços dos principais nutrientes (NPK), impulsionada por demanda aquecida e restrições na oferta global.
Os fosfatados lideraram as altas devido à ausência da China no mercado exportador por vários meses, além da crescente demanda da indústria de baterias e do aumento do preço do enxofre.
A retomada das exportações chinesas em meados do ano já trouxe alívio aos preços, mas apesar dessa acomodação, seguem em patamares elevados, acredita o banco.
Resumo
- Segundo o Itaú BBA, soja, milho, algodão, café e arroz registram recuo de margem, com destaque para soja caindo de 45% para 33%, milho de 40% para 30% e algodão de 39% para 24%
- Arroz vira para o negativo (de +15% para –8%), trigo segue no vermelho pelo segundo ano, e café perde fôlego, enquanto custos agrícolas sobem com fertilizantes ainda caros
- Banco destaca excesso de oferta global, preços contidos e clima irregular como fatores centrais, recomendando “prudência comercial” e fixação de preços em algumas culturas