A estratégia da Rural de ir além do venture capital passa por diversas rotas. Faz alguns meses que a companhia passou a se posicionar como um ecossistema que une o agro real ao agro tecnológico, e para isso, tem se munido de experts do setor em novas vertentes.
Só neste ano, atraiu Paulo Ozaki, agrônomo e ex-superintendente do Agrihub para liderar o Rural Labs, focado na validação de tecnologias. Posteriormente, trouxe Rafael Harada, ex-head de riscos da JBS, para comandar a Rural Capital, vertical destinada a estruturar soluções para startups, empresas e produtores junto ao mercado de capitais.
Harada ainda entrou para o quadro de sócios da Rural, que ainda conta com Fernando Rodrigues e André Amorim, dois ex-XP que fundaram a firma, Juliana Chini, Thomaz Edmundo e dois grandes nomes do agro: Fábio de Rezende Barbosa, do grupo NovAmérica, e José Américo Basso Amaral, da Sementes Jotabasso.
Quem chega agora é Ricardo Campo, executivo com 15 anos de experiência no agronegócio e que, de 2018 até 2024, foi líder de inovação e inovação digital no Pulse Hub, da Raízen.
Campo, que é também titular da coluna Agronomídia no AgFeed, chega ao grupo para acelerar a frente de consultoria de inovação para empresas do setor.
“A ideia de dinamizar o trabalho de consultoria da Rural é relevante porque trago minha expertise e ajudo no letramento da cultura de inovação, seja de produtores rurais ou de corporações”, diz Ricardo Campo.
“Nem todas empresas possuem times dedicados, que conseguem testar e arriscar, e no nosso ecossistema antecipamos tendências e fazemos uma curadoria na relação com startups, hubs e centros de inovação”, acrescentou.
Na prática, sua função será ajudar essas empresas e produtores rurais a começarem sua jornada de transformação digital.
Juliana Chini, sócia da Rural, explica que o braço de consultoria já existia dentro do Rural Insights. Porém, o foco da vertente estava no desenvolvimento do R² Conecta, robô que reúne hoje 540 startups do setor com corporações e investidores, fazendo um matching entre os players.
Ela conta que quando chegou ao mercado com essa solução de IA, sentiu que muitas corporações sentiam dificuldade em como lidar com as startups.
“O que é inovação aberta? Como começo? Escolhi startups, mas como priorizo elas dentro do time? Sentimos a importância de dar um passo para trás e trabalhar de forma estratégica e humana, além do robô”, explica Juliana Chini.
Ao mesmo tempo, a sócia conta que a Rural foi demandada por algumas empresas por serviços de consultoria. Isso tudo casou com o momento de transição de carreira de Ricardo Campo.
Antes de se juntar à Raízen, o executivo atuou no time de marketing da DSM Tortuga, hoje dsm-firmenich, na comunicação do Rabobank, banco com foco no agro, e foi gestor do Pulse Hub, de Piracicaba.
Do lado acadêmico, é professor da Faculdade CNA, pertencente à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, e do Pecege, também de Piracicaba.
“Na minha carreira fui picado por dois bichos: as agtechs e o meio acadêmico. Liderei o hub da Raízen por quase sete anos e acumulei uma experiência de visão de corporações, desenvolvedores de tecnologia, ambiente acadêmico e conexão com centros de P&D”, diz.
Vestindo esses chapéus diferentes, lidou, na Raízen, com um portfólio de mais de 60 startups e cita que geriu 120 projetos pilotos, sejam focados em operação agrícola seja na parte do backoffice.
A experiência no setor sucroenergético já ajudou a trazer um novo cliente para o braço de consultoria na Rural: a Energética Santa Helena, produtora de açúcar e etanol do Mato Grosso do Sul.
A companhia possui 40 mil hectares de terra, com uma capacidade de moagem de 2,2 milhões de toneladas de cana por ano, numa produção de 180 mil metros cúbicos de etanol ou 150 mil toneladas de açúcar. Em 2023, a receita líquida da Santa Helena foi de R$ 502 milhões.
Ricardo Campo cita que a vertente de consultoria vai abarcar tanto empresas com nenhuma expertise em inovação quanto aquelas com processos já estruturados.
Na Santa Helena, ele cita que a demanda é por um método que determine uma jornada de transformação digital. “Vamos reunir a gestão para um aculturamento, fazer seleção de potenciais parceiros e entender as prioridades da empresa. Aí sim, criaremos as conexões com as startups mapeadas pela Rural ou até de novas que podem chegar”, exemplifica.
Por mais que sua experiência no setor da cana ajude, a ideia é atuar com todos segmentos agrícolas.
“O agro ainda tem questões estruturais questões mal resolvidas na inovação, principalmente para aumentar eficiência operacional, seja por ganhos agronômicos ou por redução de custos na operação”, acrescenta Campo.