Grão Direto leva IA ao WhatsApp para acelerar comercialização de grãos com grandes tradings

A notificação tocou no seu celular, produtor? É melhor olhar, pode ser a melhor hora de vender a soja.

Depois de conquistar mais de 85 mil clientes e transacionar 8 milhões de toneladas de grãos só no ano passado, a agfintech Grão Direto, plataforma que atua na comercialização digital de grãos na América Latina, está dando um passo além no seu processo de digitalização.

A startup desenvolveu uma inteligência artificial que, acoplada ao Whatsapp, envia em tempo real informações sobre preços atualizados, análises de mercado, notícias, cotações, clima, alertas sobre flutuações relevantes em relação ao preço-alvo do produtor.

Batizada de AIrton, a funcionalidade tem o objetivo de munir o produtor de informações de forma mais rápida e trazer mais agilidade para que ele tome decisões no momento certo, segundo explicou ao AgFeed o head de IA da Grão Direto, Marco Cecílio.

A Grão Direto deve dar mais detalhes sobre o AIrton e outras inovações no evento The New Agro, que será realizado na próxima terça-feira, 21 de outubro na sede do Cubo Itaú, em São Paulo. O evento, que tem o AgFeed como parceiro, reunirá líderes e os principais players que estão moldando o futuro digital do agronegócio.

A IA pode ser utilizada por toda a base de clientes da empresa, que no seu modelo de negócios, reúne produtores, revendas, cooperativas, armazéns, indústrias e tradings - ou seja, compradores e vendedores de grãos. No lado dos compradores, a tecnologia já está sendo utilizada por gigantes como ADM, Amaggi, Cargill e LDC.

Entre os produtores, a empresa cita que a tecnologia está “em milhares de produtores e crescendo”, sem detalhar números exatos.

“O AIrton é o ‘consultor digital da Grão Direto’. Ele conversa com produtores via Whatsapp 24 horas por dia, acompanhando o mercado de grãos e de forma proativa e personalizada, leva informação para apoiar uma decisão de venda e até mesmo ajuda a concluir a negociação quando o produtor quiser aproveitar o preço e as cotações”, diz a empresa.

A IA é de uso 100% gratuito para os produtores cadastrados na plataforma da Grão Direto. Segundo Marco Cecílio, o AIrton já está sendo usado por agricultores de todos os perfis.

O executivo comentou que a ideia para criar o AIrton parte do mesmo princípio que a própria Grão Direto atua: digitalizar a comercialização de grãos.  Diante disso, ele vê uma IA acoplada ao Whatsapp como uma evolução natural do que o próprio app da startup já faz. Lá, o produtor já tem essas funcionalidades de preços em tempo real, mas existe a barreira de baixar o aplicativo e aprender a usar.

“Qual é o app que 99% dos brasileiros tem no celular e nunca desinstala? O WhatsApp”, disse Cecílio. Ele conta que a observação do avanço das tecnologias de IA em LLM (sigla em inglês para modelo de linguagem de grande escala), como o Chat GPT e o Gemini, ajudou a Grão Direto a criar um modelo próprio conversacional.

Do ponto de vista do representante comercial de quem compra os grãos, o AIrton pode, segundo Cecílio, facilitar o trabalho. Num exemplo hipotético, ele cita um consultor que conta com uma base de produtores que estão esperando a cotação da soja bater R$ 120 para vender seus grãos.

Na hora que a plataforma da Grão Direto dá o alerta, em um momento em que o preço atingiu esse patamar, um trabalho “manual” exigiria uma série de ligações por parte desse consultor. Com a IA, o alerta é automatizado e a venda pode ser feita naquele momento.

“O AIrton dá essa capacidade de escala para esse time comercial. As tradings podem fazer negócios sem sobrecarregar o time e deixar os profissionais na função mais importante: fazer relacionamento. É ir na fazenda conversar sobre insumos sabendo que os outros produtores da base serão atendidos naquele momento”, comentou.

A empresa pretende colocar o AIrton também para funcionar no que chama de “modo biônico”, mesclando o trabalho humano do representante comercial de uma trading ou cooperativa junto da capacidade informacional do bot. Esse projeto está em fase de testes deste setembro.

Na prática, o bot atua como um assistente dos times comerciais dentro do WhatsApp. Mesmo funcionando fornecendo as solicitações do usuário e entregando os dados, a startup prega que o relacionamento humano continua sendo o centro das negociações. O sistema organiza prioridades, automatiza acompanhamentos e libera o time para tarefas de maior valor.

O AIrton ainda funciona tomando notas. Informações que poderiam ser perdidas na conversa, como expectativas de preço, percepções de mercado e padrões de comportamento, viram dados para apoiar as decisões comerciais.

“A vida desse profissional do comercial é responder mensagens. É pedido de preço, perguntas de quando cai pagamento, quando um caminhão chega, dúvidas de acompanhamentos burocráticos que serão respondidos pelo AIrton”, diz Marco Cecílio.

O head ainda acrescenta que o AIrton continua a receber atualizações, seja de linguagem ou de conteúdo. Nos próximos meses, os produtores receberão informações sobre clima e insights para a própria operação, além do acompanhamento de preços também em dólar.

A “agtech de gigantes”

A Grão Direto é tida no mercado como uma encantadora de gigantes. Isso porque mesmo em meio a um momento de investimentos escassos em agtechs, conseguiu levantar R$ 90 milhões em uma rodada finalizada no início deste ano.

O cheque foi liderado pelo Kaszek, maior fundo de investimento da América Latina, e contou com a entrada de novos investidores como o Bradesco, por meio de sua área de venture capital, a SLC Ventures e o CME Ventures (que opera na Bolsa de Chicago) e a Endeavor Scale-Up Ventures.

Fundada há quase dez anos pelos amigos Alexandre Borges, Frederico Marques e Pedro Paiva, a Grão Direto fez sua primeira captação de R$ 2,3 milhões com a Monsanto, que hoje faz parte da Bayer. A rodada ainda contou com o fundo Canary e os criadores do OpenVC.

A companhia levantou outros R$ 13 milhões em 2021, numa rodada que contou com a Barn e outros fundos. A última rodada até o momento havia sido em 2022, quando captou R$ 40 milhões com gigantes como Amaggi, ADM, Cargill e Dreyfus. De lá pra cá, ainda trouxe a Basf para o quadro de sócios.

O lançamento do AIrton está em linha com os planos que o CEO da empresa, Alexandre Borges, revelou ao AgFeed quando a empresa realizou a última rodada de captação.

Na época, mencionou que metade do valor captado seria investido na ampliação de soluções tecnológicas, incluindo precificação e negociação em tempo real, avanços na digitalização do barter e novas soluções baseadas em inteligência artificial.

O restante ajudará a startup a expandir seus produtos e serviços financeiros. Borges citou que a base de usuários da plataforma, grande e espalhada pelo País, junto a uma crescente nas negociações, "trazia um um terreno fértil para plugar produtos financeiros".

Hoje a empresa já atua com barter e possui um cartão de crédito com bandeira Mastercard, com prazo safra. Agora, vai acrescentar ao portfólio serviços de antecipação de recebíveis, um cartão de crédito vinculado com pagamento em grãos e concessão de crédito vinculado a contratos futuros.

Antes da rodada, todo o funding dessas operações era feito pelo próprio caixa da Grão Direto, mas a nova rodada deve acelerar parcerias e financiamentos de fora.