Líder no mercado de máquinas para a pecuária, a paulista Casale quer um futuro mais tech. Ao AgFeed, a empresa revelou uma notícia dupla: vai dar mais tração ao seu programa de aceleração de startups, o CasaleTech, ao mesmo tempo em que prepara um braço de investimento em agtechs.

Mario Casale, conselheiro da empresa com sede em São Carlos (SP) e responsável pelo CasaleTech, afirmou que a companhia deve inaugurar um braço de Corporate Venture Capital (CVC), buscando além de diversificar portfólio, gerar novos negócios.

Atualmente, tem negociado um aporte em três startups que atuam na pecuária, número que deve avançar conforme o programa de aceleração comece a funcionar.

“Além de buscar inovação para a empresa, buscamos olhar coisas que vão inovar pecuária e para o agro como um todo”, resumiu o executivo.

A empresa não revela o quanto pretende investir por startup, mas deve assinar cheques para empresas de um nível inicial validando o MVP (mínimo produto viável) até uma fase seed. Já apresentar faturamento é desejável, mas não obrigatório.

Tanto no programa CasaleTech, que está recebendo inscrições de startups até o início de agosto, quanto no braço de investimentos, que andarão lado a lado, não há restrições por tecnologia específica, a condição é “resolver um problema real”.

“Estamos em busca de soluções que melhorem processos, facilitem a gestão e melhore a eficiência em toda a cadeia da pecuária de corte e leite, incluindo a integração lavoura-pecuária. Conectividade no campo, automação, inteligência artificial, rastreabilidade e bem-estar animal são temas fundamentais para garantir a produtividade, sustentabilidade e a lucratividade no campo”, citou Mario Casale.

O programa de aceleração é feito em parceria com a IAM Founder, programa de residência para startups sediado no SancaHub, também em São Carlos, e funcionará da seguinte forma: depois de selecionar as startups, os fundadores dos negócios passarão por quatro meses de mentorias com executivos da empresa e de parceiros, além de treinamentos de diversos temas relacionados ao universo dos negócios, como marketing, vendas, provas de conceito, inteligência artificial e pitch para investidores.

Thiago Christof, diretor executivo da IAM, explica que cada startup que entra no programa chega junto a um objetivo, que pode estar ligado ao desenvolvimento do produto, meta de faturamento ou aumento de clientes, por exemplo.

Com isso estabelecido, o programa vai munir esses fundadores com essa rede de mentores e workshops. A companhia de máquinas e a IAM já atuam em conjunto desde 2021 acelerando startups, mas até então não havia essa intenção da Casale em investimentos e era focado apenas no auxílio às novas empresas.

“Sou testemunha da evolução da Casale no relacionamento com startups ao longo desses anos e a ideia de anunciar uma nova edição é porque vi uma maturidade grande também nas soluções nos últimos anos. Com esse amadurecimento, a empresa volta com o olhar voltado ao investimento”, citou Christof.

Indagado a dar mais detalhes sobre o que a Casale busca ao virar sócio de uma startup, Mario é direto: o foco está nas empresas que ajudam agricultores e pecuaristas a melhorar sua gestão.

Isso pode acontecer tanto via indicadores quanto por dados que o ajudem a entender o que acontece no campo. Ele cita que na pecuária há casos em que o dono do negócio não mora na fazenda e, por vezes, não conta com um gestor qualificado in loco. “A ideia é simplificar a vida dessa gestão, ajudando o time que está no campo a tomar a melhor decisão”.

Isso se traduz em tecnologias variadas, desde um software que auxilie a medição de peso ou na divisão de ração dos animais, no caso da pecuária, até uma ferramenta melhor do que o tradicional Excel para estruturar um balancete.

Mario Casale relembra que, apesar dos novos movimentos, a empresa se alinha com a inovação por meio de parcerias desde seus primórdios.

Desde 2020 a companhia tem um programa de inovação aberta em parceria com a IAM, mas algumas décadas antes, já deu as mãos para parceiros na construção de produtos.

Em 1984, quando Mario Casale ainda era um bebê, seu pai, Celso Casale, fundador da empresa, se juntou com a Embrapa para criar um misturador de ração.

“Foi aí que nasceu a Embrapa Instrumentação. A estatal trouxe o misturador, que ainda precisava de algumas tecnologias como balança, e foi aí que meu pai foi procurado. Nasci em julho de 1984 e o misturador foi lançado no final daquele ano”, comenta Mario Casale.

A empresa foi criada nos anos 1960 na intenção de ser uma oficina de caminhões e tratores. Nas décadas seguintes, a Casale passou também a fabricar roçadeiras de arrasto, carretas e finalmente esse misturador de ração, que foi o primeiro do tipo na América Latina, mercado que até hoje é o carro-chefe do negócio.

A empresa afirma que hoje é dona de mais de 30% do mercado de confinamentos quando o assunto é misturadora.

Outra parceria que originou um produto veio alguns anos depois, quando a empresa se uniu com a americana Roto-Mix para originar o Rotomix, outro produto do portfólio de misturadores de ração.

“Todas empresas com máquinas como essa copiaram a tecnologia deles, enquanto nós fizemos parceria com quem inventou”, diz.

Na Agrishow 2025, por exemplo, o grande lançamento da empresa paulista foi o RX (Rotormix) 350 Tech Bull, que segundo explicou na época o CEO, Ronis Paixão, é o maior misturador de ração total horizontal do mundo.

“Essa máquina atual tem tecnologia de telemetria, e lê tudo que acontece no campo, fruto também de parcerias com startups e outras empresas do setor”, cita Mario Casale.

Antes de assumir o posto no conselho e liderar a vertical CasaleTech, Mario foi presidente da Casale de 2020 até 2023, somando quase 13 anos na diretoria executiva da empresa.

Ao deixar o cargo, que foi ocupado por Ronis Paixão, o primeiro CEO da empresa a não ter o sobrenome fundador, Mario também foi tocar a Agropecuária Integração, que faz parte do grupo.

Na propriedade de 120 hectares localizada próxima a São Carlos, o modelo de negócio é o ILP (Integração Lavoura-Pecuária), com uma capacidade que deve bater 6 mil bovinos confinados nos próximos meses, além de áreas de pastagem e cultivo de grãos como soja, milho e sorgo.

“Agora na fazenda, também lido com agricultura e comecei a ver outros desafios na prática”. A expertise liderando esse negócio também ajuda na vertente tech que a empresa está apostando.

“A fazenda está a 10 quilômetros da fábrica e funciona como um campo de testes para os produtos que a Casale desenvolve. A ideia é transformar a Integração em um showroom da Casale e um lugar com o máximo de tecnologia possível, para qualquer um que queira ver uma fazenda rentável com alto resultado”, disse.

“Normalmente é dito que precisa-se de muita terra para muito resultado, o que não é verdade, ainda mais no interior de São Paulo, com muito subproduto da indústria para usar. Tem proteína que poderia virar fertilizante e vira insumo para alimentar o boi, a lavoura ainda dá o grão para silagem”, acrescentou.

Por isso a ideia também de trazer startups do agro que atuam com agricultura para o programa e até para possíveis investidas no futuro.

Mario Casale cita que a empresa, diferente da pecuária, não conhece tão bem a agricultura, e que o programa para além do investimento tem um foco no aprendizado da própria empresa, ou até mesmo no networking com algum parceiro.

“Vamos levar esses gestores em eventos da empresa. Até hoje, fazíamos isso de forma pontual, com esse aprendizado de startups centrado em mim, mas sem algo estruturado para a Casale. Vamos melhorar isso a partir deste ano”, afirmou o conselheiro da empresa.

A ideia nessa troca é, além de conhecer novas tecnologias e testar o que funciona ou não, tentar trazer um pouco da mentalidade de startups para uma empresa tradicional e de décadas como a Casale. “No fim das contas, esse programa também tem um papel de ajudar na mentalidade da Casale como um todo”, finalizou.

A Casale projeta crescer seu faturamento em 30% neste ano. Ronis Paixão, CEO da Casale, revelou ao AgFeed durante a Agrishow 2025 que a receita deve subir por conta de “astros alinhados na pecuária”: custo em baixa com grãos baratos e preço da arroba do boi em alta, o que motiva pecuaristas de corte e de leite a realizarem investimentos.

O portfólio da empresa envolve misturadores e distribuidores de ração, colhedoras de forragem e distribuidores de esterco.

Resumo

  • Junto a programa de aceleração, companhia prepara um braço de CVC e já negocia aportes em três startups do agro
  • Ideia é ir além da pecuária e também receber startups que atuam com agricultura
  • Portfólio da empresa criado até hoje é resultado de parcerias antigas, desde Embrapa até a americana Rotomix