A história da startup ByMyCell tem sido profundamente enraizada no solo. Literalmente. A startup de Ribeirão Preto nasceu e ganhou mercado nos últimos anos baseada em seu big data genômico, que junto com inteligência artificial, avalia solos e indica aos produtores o manejo e defensivos biológicos mais adequados para uma boa colheita.
Criada em 2021, a empresa passou os primeiros anos focada na validação técnica e estruturação de sua operação. Nesse período, recebeu um investimento anjo do laboratório Inside Health Group, da Fapesp, de R$ 1,1 milhão e, no ano passado, ganhou como sócia a Agrivalle, uma das principais fabricantes de biológicos do País.
Mesmo faturando desde o primeiro mês, a companhia viu a ciência virar vendas com mais intensidade no passado recente. Segundo o CEO e fundador da startup, Rafael Silva Rocha, só no primeiro trimestre de 2025, a ByMyCell faturou mais com suas análises do que em todo o ano anterior.
Agora, a empresa entra em uma nova fase e, com US$ 100 mil (cerca de R$ 570 mil na cotação atual), num programa de aceleração do Google, o Scale, quer se posicionar como uma plataforma genômica ampla, indo além do solo.
Apesar de ser uma empresa de biotecnologia focada em genômica, Rocha cita que a companhia tem um diferencial frente a esse mercado. Mesmo com foco em P&D, a equipe laboratorial da ByMyCell tem quatro cientistas e sete desenvolvedores de software.
“É raro para uma empresa do tipo ter uma equipe assim. Nessa trajetória, fomos acelerados pela Oracle no passado, justamente porque eles entenderam essa inversão”, disse.
O foco da ByMyCell, então, é atuar no mercado de análise de solo, insumos biológicos, mapeamento de microorganismos dentro de uma pegada digital, com apps.
Tanto que no negócio de análise de solo, o principal da startup até aqui, a empresa recebe as amostras em seu laboratório, e depois de alguns dias, retorna digitalmente os dados levantados, por um app, desenvolvido pela própria agtech, ou em um simples PDF.
“No app já cruzamos a informação com biológicos que existem no mercado para aquele tipo de manejo, seja de doença ou de uso do solo. A proposta é fazer manejo com base em dados, e utilizamos uma base ampla de produtos para essa recomendação, colocando tudo que está registrado no Mapa”, disse o CEO.
Entender o solo é importante, mas agora, a empresa vê uma oportunidade para atuar em processos correlatos. A aceleração do Google servirá para a startup lançar mais dois apps. O primeiro, voltado a consultores agronômicos, permite organizar zonas de manejo com base em dados históricos, mapas e algoritmos.
A partir das informações da propriedade, o app sugere pontos ideais de amostragem e número de análises, automatizando uma decisão que hoje depende da experiência da equipe técnica.
“O app faz uma série de cálculos integrando esses dados e entrega esse mapa com predição de zonas de atenção. O usuário tem um login e senha, e paga uma cota a depender do que ele quer personalizar. Vemos muita demanda para esse tipo de serviço para práticas de agricultura regenerativa”, disse o CEO, Rafael Silva Rocha.
O segundo aplicativo é voltado a pesquisadores e empresas que trabalham com dados genômicos, mas sem estrutura de software para processá-los.
Rocha explica que a plataforma da ByMyCell permite que esses profissionais subam os arquivos brutos e rodem análises automatizadas, com a startup atuando num sistema SaaS (Software as a service).
Rocha conta que uma amostra pode ter até 20GB de dados processados, e num laboratório que processe 10 amostras sem software, a análise pode ficar lenta. “É uma forma de usar nosso portfólio de ferramentas mesmo sem estar vinculado ao nosso laboratório”, explica.
Ambas as soluções têm como base a mesma estrutura de inteligência artificial e algoritmos que sustentam o produto original da empresa. Dessa forma, a ByMyCell usa seu banco de dados para criar novas verticais.
Uma nova empresa
Enquanto cresce na análise de solo e pensa em novos softwares, Rocha conta que a startup estruturou uma nova empresa, que também deve alçar novos voos a partir de agora.
Batizada de BlackGenn, a companhia spin-off atua em modo independente, com equipe própria, voltada ao desenvolvimento de tecnologias para bioinsumos de nova geração.
Segundo ele, o foco está na identificação de moléculas bioativas e no estudo de metabólitos, de olho nas novas gerações de biológicos. De um lado, a nova companhia atua ajudando indústrias a reduzir o tempo e custo do ciclo de desenvolvimento de um produto, e de outro, também pode desenvolver produtos próprios.
“A proposta é ajudar a indústria a reduzir o tempo e o custo do ciclo de desenvolvimento. Trabalhamos com assertividade acima de 90% ao prever se um microrganismo pode promover crescimento ou controle”, diz Rocha.
A companhia estava em “modo furtivo”, segundo ele, e depois do aporte recebido pela Agrivalle no ano passado, resolveu acelerar o spin-off. Por enquanto, a BlackGenn não tem uma preocupação grande no comercial, e ele cita que a ideia é pensar em como estará o mercado de biológicos daqui quatro ou cinco anos.
No campo, a ByMyCell mantém uma base de clientes com perfis variados, desde pequenos produtores de hortifruti, passando por cerealistas e até grandes usinas.
Hoje, cerca de 30% das amostras processadas são de cana-de-açúcar, outros 30% de soja e milho, e o restante distribuído entre mais de 30 culturas. A logística das coletas é tão variada quanto os clientes e Rocha cita que, em alguns casos, a ByMyCell recebe amostras que chegam de avião até Ribeirão Preto.
Na análise de solo, a startup possui um banco de 2,5 mil amostras. Atualmente, chegam, por mês, entre 300 e 500 novas amostras. O recebimento é variado, e pode ser desde um tomateiro que manda duas amostras até uma usina que envia 200 amostras de uma vez.
“Batemos mil amostras em dois anos de empresa. Chegamos em duas mil em menos de doze meses e agora repetimos esse patamar a cada dois meses. Foram muitas validações até chegar no modelo atual, com relatórios que fazem sentido para o cliente”, disse.
No momento, a empresa se prepara para entrar na safra 2025/2o26, quando, segundo o CEO, é onde as vendas explodem.
Resumo
- ByMyCell recebeu US$ 100 mil do Google e vai lançar dois novos apps para análise agrícola e processamento genômico
- Em ritmo de crescimento, recebe entre 300 e 500 novas amostras de solo por mês e faturou no 1º trimestre de 2025 mais do que em todo o ano anterior com esse serviço
- Startup criou uma spin-off, a BlackGenn, focada em bioinsumos de nova geração para atender indústrias e produtos autorais