O ciclo de vida de uma mosca black soldier fly (BSF) é de aproximadamente 30 dias. O tempo é mais que suficiente para Yuri Macêdo, CEO e cofundador da Buzz Fly, fazer negócios que encantaram grandes empresários do agro.
A startup, que transforma resíduos orgânicos em proteína e adubos utilizando a larva da mosca, atraiu nomes de peso como os empresários Olavo Setúbal Jr., um dos herdeiros do Banco Itaú, Marcos Molina, de Marfrig e BRF, André Lara Resende, ex-presidente do BNDES, Alain Belda, ex-CEO da Alcoa e hoje na gestora Warburg Pincus, e Antonio Maciel Neto, ex-CEO de companhias como Petrobras, Ford e Suzano, como investidores, num aporte feito entre 2021 e 2024 e que somou R$ 3 milhões.
Agora, eles repetem a dose, desta vez acompanhados da Agroven, clube de investimentos formado por uma rede de empresários e famílias do agronegócio. Investiram mais R$ 4 milhões e, com o refoço do Agroven e mais conversas em andamento com outras empresas, uma nova rodada está sendo fechada com captação de R$ 6 milhões.
Os recurso serão utilizado para colocar em operação, nos próximos meses, sua nova planta fabril na zona norte de São Paulo (SP). A unidade possui uma capacidade inicial de 10 toneladas de proteína por mês, podendo alcançar até 100 toneladas mensais em sua expansão total.
A unidade complementa a fábrica-piloto já ativa em Piracicaba (SP), atual sede da empresa. O CEO da startup, Yuri Macêdo, afirmou ao AgFeed que a empresa hoje já atende indústrias de ração para pets, como gatos, cachorros e peixes ornamentais. Nos fertilizantes, vende para produtores do cinturão verde do estado de São Paulo.
A ideia é que, nos próximos meses, chegue ao mercado de animais de produção, como aves, piscicultura, criadouros de camarões e suinocultura.
Yuri Macêdo acredita que a entrada da Agroven tem um papel estratégico para além do aporte. “Ganhamos acesso a uma rede de líderes do agronegócio, com conhecimento, influência e conexões que vão acelerar nossa próxima etapa de crescimento”.
Macêdo é um executivo que fez carreira no mercado financeiro. Antes de fundar a startup, atuou na área de investment banking do BTG Pactual. Também passou pela Arsenal Investimentos e pelo grupo Dasa.
De acordo com Silvio Passos, presidente do conselho de administração da Agroven, o investimento insere a firma na cadeia de proteína animal proveniente de insetos, algo que segundo ele, avança na Europa e Estados Unidos.
Ele acredita que a Buzz Fly tem alguns diferenciais frente ao mercado, como a eficiência da produção. “A empresa atua com um modelo centralizado e a planta está localizada dentro do fornecedor de resíduos, o que reduz custos logísticos. A tecnologia de refrigeração ainda é mais eficiente do que outras plantas”, disse ao AgFeed, justificando o investimento.
“Nossa aposta é que esse é um mercado bom, com potencial, e a Buzz Fly vem com modelo e tecnologia que efetivamente corrige rumo de algumas deficiências de concorrentes. Sem deixar de mencionar que é um investimento alinhado com economia circular e sustentabilidade”, acrescentou Silvio Passos.
Na operação, a Buzz Fly consegue aproveitar integralmente a larva, gerando, no final do processo, uma proteína desidratada de alto valor nutricional e um óleo como aditivo natural de sabor para rações.
Além disso, os resíduos da alimentação das larvas são transformados em adubo orgânico certificado. Segundo Macêdo, a startup também investe em melhoramento genético das moscas, a fim de aumentar o rendimento fabril. Assim como em Piracicaba, a nova planta terá um criadouro das moscas BSF.
O inseto, que mais parece uma vespa, se alimenta de resíduos, sejam animais, urbanos ou de agroindústrias.
A larva passa uma semana em uma espécie de berçário e outra em fase de engorda. No “abate”, o inseto é desidratado, separando o óleo da proteína. Hoje o óleo é vendido como realçador de sabor para a indústria de ração animal.
O negócio é circular, pois o resíduo dessas indústrias volta à Buzz Fly para se tornar matéria-prima e o ciclo se repetir.
De acordo com o CEO, o Brasil traz vantagens ambientais e climáticas para esse tipo de indústria. “A BSF é um bicho de clima tropical. Juntando isso à nossa tecnologia de criação, que é feita indoor com controle de temperatura, umidade e gases, produzimos com gasto energético menor”, disse.
O novo investidor Agroven conta atualmente com mais de 300 participantes, divididos em grupos formados em diferentes regiões. O primeiro núcleo foi formado por produtores rurais e empresários em Uberlândia (MG). Depois, foi agregando novos nomes, sempre ligados ao agronegócio.
Entre as agtechs que já receberam aportes pela Agroven estão a Solusolo, iRancho, que posteriormente recebeu investimento de R$ 7,2 milhões do Banco do Brasil, e a BemAgro, que no ano passado captou cerca de R$ 15 milhões com CNH, Suzano, Atvos e outros fundos.
A rodada de R$ 6 milhões não é a primeira da empresa, que já havia recebido um cheque de R$ 3 milhões de Setúbal, Molina e Maciel, que são sócios na firma de investimentos NT@Agro, Lara Resend e Belda.
Yuri Macêdo criou o negócio com outros dois sócios, Leonardo Massi e Leonardo Borges, em um momento em que os três amigos, por coincidência, se depararam em um intervalo de uma semana com o mercado de proteínas de insetos.
Macêdo, que no BTG atuava junto ao setor agro e o de saúde, via, há cerca de 10 anos, esse mercado se desenvolver fora do País.
“Comentamos os três a respeito da ideia, em um momento em que todos estavam pensando em sair de seus trabalhos. Surgiu a Buzz em Piracicaba, por conta da proximidade com a Esalq/USP e do time técnico que, inicialmente, veio de lá”, conta.
O mercado de proteínas a base de insetos ainda caminha no Brasil, mas na Europa e nos Estados Unidos já conta com grandes empresas.
Startups como Ynsect, Agronutris e Aspire Food Group entram num hall que já levantou mais de US$ 1,5 bilhão em investimentos, incluindo gigantes do agro global como ADM e Tyson Foods.
O momento atual, contudo, não é dos melhores. A Ynsect, por exemplo, pediu recuperação judicial no início deste ano, e segundo o AgFunder News, em abril garantiu 10 milhões de euros com alguns investidores para garantir a continuidade da operação, incluindo entregas para clientes.
Resumo
- Com nova rodada, agtech de proteínas alternativas fecha um total de R$ 9 milhões captados desde 2021
- A startup transforma resíduos orgânicos em proteína e adubos utilizando larvas da mosca BSF
- No exterior, empresas que atuam nesse segmento já captaram mais de US$ 1,5 bilhão