Depois de anos em destaque, tendências como proteínas alternativas e fermentação de precisão perderam força neste ano em diferentes partes do mundo.
Outras novidades, como soluções digitais oferecidas por montadoras de máquinas agrícolas e empresas de agricultura vertical, ainda são nichos de mercado.
O movimento atual das empresas do agro, na verdade, tem sido um retorno ao “feijão com arroz”: priorizar ganhos de produtividade por meio da capacitação de produtores rurais e de mais investimentos em pesquisa, em vez de colocar novos produtos “diferentes” na praça.
Essa é a avaliação do banco suíço Lombard Odier, especializado em gestão de fortunas, no relatório Rethink Net Zero, assinado por Florence Kiss, especialista em impacto no banco.
Segundo o documento, distribuído a clientes e obtido pelo AgFeed, proteínas alternativas e fermentação de precisão deixaram de ser prioridade para grandes empresas – no começo da década, havia quem apostasse que, no futuro, os frigoríficos deixariam de produzir carne de gado em detrimento da carne cultivada em laboratório.
No caso das proteínas alternativas, o banco avalia que entraves regulatórios e custos elevados continuam limitando a expansão desse setor.
O Lombard lembra que a chamada “carne de laboratório”, por exemplo, enfrenta dinâmicas diferentes ao redor do mundo, sofrendo inclusive proibições em estados conservadores dos Estados Unidos, cautela na União Europeia e respostas mistas dos consumidores na Ásia.
Os sinais dessa dinâmica menos favorável do mercado já começam a aparecer. Nos Estados Unidos, a Beyond Meat, um dos principais nomes do setor plant-based, enfrenta queda de receitas e lucros, o que a levou recentemente a anunciar uma redução de suas despesas operacionais e corte de 6% de seu quadro de funcionários.
O valor de mercado da companhia, que chegou a US$ 3,8 bilhões em seu IPO de 2019, hoje não passa de cerca de US$ 200 milhões.
No Brasil, a Fazenda Futuro também fez mudanças em sua operação, e desistiu de internacionalizar seu negócio para focar no mercado interno, segundo uma reportagem do site Invest News.
A fermentação de precisão, tecnologia que usa microrganismos como bactérias ou leveduras para produzir proteínas idênticas às de origem animal, vitaminas e enzimas, segmento que também já foi hype, permanece cara e altamente dependente de energia, avalia o banco suíço.
Diante desse cenário, observa o Lombard, muitas empresas têm optado por fortalecer o profissionalismo dos agricultores e investir em ganhos diretos de produtividade, em vez de apostar em tecnologias de alimentos cultivados em laboratório.
O banco também comentou sobre o avanço das soluções de “agricultura inteligente”. Por enquanto, avalia que essas soluções ainda ocupam um nicho de mercado e não têm impacto expressivo sobre os resultados do setor.
Como exemplo para embasar a sua tese, o Lombard cita duas gigantes do maquinário agrícola, a John Deere, que gera apenas 8% de sua receita com agricultura inteligente, e a AGCO, com 6%.
Ainda assim, as empresas seguem lançando soluções de agricultura digital. A John Deere, por exemplo, lançou neste ano o JD Link Boost, sistema em parceria com a Starlink, que utiliza a rede de Elon Musk para coletar dados das máquinas agrícolas em tempo real e os transmitir para a nuvem. Até junho, a companhia estimava que já havia comercializado cerca de 4 mil unidades deste produto.
Mesmo com dificuldades enfrentadas pelo setor de agricultura vertical, que viu a Plenty Unlimited, uma das pioneiras desse segmento e que já recebeu aportes de Jeff Bezos, SoftBank e Walmart, ter pedido concordata em março passado, o Lombard parece não ter perdido o otimismo com esse setor.
No relatório, a instituição avalia que a agricultura vertical ainda traz “oportunidade relevante no mercado privado”, mesmo com um valuation ainda baixo, de US$ 5,7 bilhões em 2023, em comparação com um valor bruto de produção agrícola de aproximadamente US$ 4,5 trilhões. “O segmento, contudo, deve crescer a uma taxa anual composta (CAGR) de 20% até 2035”, diz o banco.
Resumo
- Levantamento do banco Lombard Odier destaca que temas como proteínas alternativas e fermentação de precisão perderam força ao redor do mundo
- Tendência é de maior foco das empresas em investir em pesquisa de soluções que ajudem a aumentar produtividade
- Já segmentos de agricultura inteligente e agricultura vertical ainda são nichos, mas têm potencial de crescimento