O agronegócio brasileiro vive uma dualidade fascinante. Ao mesmo tempo em que celebramos recordes de exportação, como os históricos US$ 14,7 bilhões na safra de café 2024/2025, segundo dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), navegamos em um oceano de incertezas.

A volatilidade não vem apenas do clima ou da flutuação natural dos preços, mas de um cenário geopolítico cada vez mais imprevisível, onde uma nova taxação ou uma mudança em acordos comerciais pode redesenhar o mapa da competitividade da noite para o dia.

Nesse contexto, a pergunta que todo gestor deveria se fazer não é apenas "como posso vender mais?", mas "quão rápido meu negócio consegue se adaptar a um choque externo?".

Seja uma nova tarifa de importação imposta por um grande comprador, como vimos em debates recentes na política internacional, ou uma mudança brusca na política cambial, a resiliência de uma operação não é mais medida por seu tamanho, mas por sua agilidade.

É aqui que a digitalização da gestão de commodities deixa de ser um diferencial para se tornar uma necessidade estratégica. O modelo tradicional de negociação, muitas vezes apoiado em planilhas complexas, e-mails e comunicação descentralizada, é extremamente vulnerável a esses choques.

Imagine o impacto de uma nova taxa de 10% sobre centenas de contratos em andamento. O esforço manual para recalcular preços, margens e exposição de risco é imenso, lento e perigoso, abrindo margem para erros que podem custar milhões.

Hoje, a tecnologia pode ser o antídoto dessa fragilidade. Plataformas especializadas em comercialização de commodities permitem que uma empresa modele cenários e automatize o impacto de variáveis externas em toda a sua carteira de contratos.

Com poucos cliques, é possível simular o efeito de uma nova taxação, entender a exposição por mercado ou cliente e, mais importante, tomar decisões rápidas e embasadas para mitigar riscos ou até mesmo encontrar oportunidades.

Essa capacidade de resposta transforma o trabalho do time comercial. Em vez de se afogar em tarefas operacionais para "apagar incêndios", a equipe pode se concentrar na estratégia: renegociar com clientes, explorar mercados alternativos e analisar dados para antecipar tendências.

Vemos no mercado casos notáveis de empresas que, ao adotarem sistemas especializados na comercialização de commodities, não apenas otimizaram suas operações, mas dobraram sua capacidade de negociação.

Temos o exemplo de um cliente TOTVS cujo time, antes da adoção do sistema especializado para comercialização de commodities, gerenciava 100 mil sacas por dia e passou a operar volumes superiores a 230 mil sacas com a mesma equipe, simplesmente porque a tecnologia cuidou do trabalho pesado.

Por isso, hoje, o investimento em tecnologia no agronegócio vai muito além de buscar eficiência. Trata-se de construir um negócio com "casco duplo", preparado para navegar em águas turbulentas.

A liderança do Brasil no mercado global de commodities dependerá cada vez menos da nossa capacidade de produzir e cada vez mais da nossa inteligência para negociar e da nossa resiliência para nos adaptar. Em um mundo de incertezas, a previsibilidade da sua gestão é o seu maior ativo.

 

Fabrício Orrigo é diretor de produtos para Agro da TOTVS.