Somos hoje mais de 8 bilhões de pessoas no planeta e seremos quase 10 bilhões em 2050. Esse crescimento populacional acelera a demanda por alimentos ao mesmo tempo em que impõe o desafio de reduzir o uso dos recursos naturais que, como sabemos, são limitados.

Como, então, conciliar o aumento da produção e do consumo com a sustentabilidade dos sistemas alimentares?

A resposta exige reflexão e sabedoria. Antes de pensar em novas formas de produção, é preciso compreender o funcionamento do ecossistema e reconhecer que as soluções essenciais já estão presentes na própria natureza.

A Agricultura Natural é um sistema produtivo que se fundamenta nas funções que a natureza desenvolveu e aprimorou ao longo de um processo evolutivo longo, equilibrado e resiliente. Seu foco está no solo, entendido não apenas como uma estrutura física, mas como um ser vivo, senciente e responsivo aos anseios humanos por uma vida saudável e feliz. Manter esse solo limpo e puro é essencial para que ele expresse todo o seu potencial vital.

Sabemos hoje que as funções mais sutis do solo, especialmente as que envolvem seu macro e microbioma, são profundamente afetadas pelo uso contínuo de insumos químicos. O desequilíbrio resultante compromete a vitalidade dos sistemas agropecuários e, consequentemente, a qualidade dos alimentos.

Para nós, um alimento oriundo de um sistema natural oferece não apenas nutrientes materiais, mas também energia vital abundante, resultado da integração das forças primordiais do Sol, da Lua e da Terra.

A escassez dessa energia vital nos alimentos não decorre apenas dos processos de industrialização, mas tem origem ainda mais profunda: nos solos submetidos a manejos convencionais e ao uso frequente de fertilizantes e agroquímicos, que alteram suas funções primordiais e enfraquecem sua vitalidade.

Como consequência, os alimentos ali produzidos tornam-se empobrecidos dessa força essencial. Quando somamos a isso o consumo excessivo de produtos ultraprocessados, observamos um cenário preocupante, uma crescente perda de saúde e de vitalidade, justamente a disposição necessária para enfrentarmos os desafios da vida moderna.

O manejo correto do solo e da produção animal exige conhecimento profundo e respeito aos múltiplos aspectos envolvidos em sua preservação. Nesse ambiente convivem diversos seres (racionais e irracionais) que evoluem cooperativamente e precisam estar em harmonia para manter a fertilidade e, com ela, a oferta de alimentos mais saborosos e ricos em nutrientes.

O imediatismo tem nos afastado dessa visão integrada. Muitas vezes, buscamos soluções para a próxima safra, quando deveríamos estar trabalhando pela construção de um equilíbrio duradouro entre a saúde humana, a preservação ambiental e o uso responsável dos recursos naturais.

A Agricultura Natural consiste, portanto, em usar o que já está disponível e compreender as relações e impactos de cada ação dentro do ecossistema. E os números mostram que esse movimento está crescendo: segundo pesquisa do Instituto Organis, no Brasil, 360 em cada 1.000 pessoas se declaram consumidoras de alimentos orgânicos, representando um crescimento de 16% entre 2021 e 2023.

Por que esse aumento? Porque cada vez mais pessoas despertam para uma nova consciência, reconhecendo que o consumo de alimentos de qualidade é um caminho para fortalecer a saúde e reduzir o impacto sobre o planeta.

Essa é uma responsabilidade coletiva: todos os elos da cadeia de produção precisam fazer a sua parte. E tudo começa com os produtores, que colocam na terra sua energia, sua dedicação e suas vibrações, promovendo uma jornada de trabalho mais digna e conectada à vida.

É fundamental lembrar que a natureza não constrói inimigos. Todos os seres têm um propósito na manutenção do precioso serviço ecossistêmico. O desequilíbrio surge quando quebramos essa harmonia, tornando plantas e animais mais vulneráveis a pragas e doenças.

Ao compreender o papel de cada ser vivo, contribuímos com a fertilidade do solo e com todas as demais funções necessárias a produção de alimentos e de bens agrícolas de forma abundante e sustentável.

Luiz Carlos Demattê Filho é diretor de Relações Institucionais e de Sustentabilidade do Grupo Korin