Pouco mais de 2,7 mil quilômetros separam a cidade de Sorriso, em Mato Grosso, a maior produtora de soja do mundo, e o arquipélago de Fernando de Noronha, um dos destinos turísticos e paradisíacos mais famosos do Brasil.
A relação entre os dois locais pode ser inexistente para a maioria, a princípio. Bruno Carillo, CEO e fundador da agtech Apoena, discorda. A companhia, focada em descobrir e desenvolver bioinsumos para o agro advindos da biodiversidade brasileira, quer encurtar essa distância.
Criada em 2018, a empresa estima que já investiu mais de R$ 20 milhões em desenvolvimento desde então.
“Captamos cerca de R$ 200 mil com a Fapesp no início da empresa. De resto, não tivemos nenhum investidor de fora e foi tudo financiado com venda de produtos”, disse o CEO.
Para o futuro, prevê ampliar os produtos registrados e crescer 20% frente a 2024. Segundo Carillo, a empresa não cresceu de 2023 para 2024, acompanhando um momento difícil para o setor.
No ano passado, conta que a empresa registrou cinco defensivos, o que, segundo ele, coloca a Apoena como a quarta empresa a mais registrar produtos no ano. Em 2025, são seis pedidos já na mesa esperando a liberação junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, Anvisa e Ibama.
Os bioinsumos registrados no ano passado são destinados ao controle de pragas e doenças principalmente da soja, café, cana-de-açúcar e milho.
No modelo de negócio, a Apoena atua no esquema B2B, formulando para empresas que vão vender o produto final. “Evitamos até as revendas, ficamos na indústria”.
O foco do negócio, sendo Carillo, é pesquisa e desenvolvimento. Daí vem a relação com a biodiversidade do País.
Para se diferenciar diante desse mercado em ebulição, a Apoena aposta no que Carillo chama de bioprospecção. O primeiro projeto, chamado de “Amazônia Azul”, aconteceu em 2022, quando o CEO e sua equipe foram até Fernando de Noronha para coletar amostras do ambiente marinho.
A equipe investigou corais, algas, esponjas e, após dois anos de processamento, isolou 63 linhagens bacterianas que foram incorporadas ao banco de microorganismos da empresa, que hoje conta com 800 estirpes coletadas. “É uma ilha preservada e com sol forte. Investigamos no ambiente marinho microorganismos com 20 metros de profundidade, ou seja, um ambiente com muita pressão”, acrescentou o CEO.
Em 2024, em nova missão, foi até a Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, e junto com comunidades tradicionais na região, coletou 89 amostras de folhas, troncos, raízes, solo, frutos, flores e sementes. O estudo resultou no isolamento de 332 cepas microbianas.
“Vamos voltar para Fernando de Noronha em julho e em agosto vamos para a Amazônia novamente. Em 2026 faremos quatro expedições, sempre na intenção de trazer novos microorganismos”, disse.
O CEO e fundador Bruno Carillo não tem background acadêmico nem no agro nem na biotecnologia. Formado em fisioterapia, contou que empreende desde 2005, quando virou representante de uma empresa americana que vendia enzimas no País. Foi aí seu primeiro contato com o mundo dos microorganismos.
Depois de alguns anos como distribuidor de outras marcas, resolveu criar a Apoena em 2018. Ele conta que a ideia era prestar um serviço de desenvolvimento de biotecnologia, independente do mercado.
A empreitada começou bem porque, segundo ele, ocupava um espaço em que nem startups nem empresas grandes atuavam, antes da onda de biotecnologia conquistar o agro brasileiro de vez nos anos seguintes.
“De cara, fechamos contratos com grandes empresas como Natura, Ihara e Laboratório Farroupilha. Também começamos a atuar com pequenas startups”, diz.
Em 2019, Carollo percebeu que, por mais que a demanda do setor farmacêutico fosse grande, as empresas eram mais estruturadas e equipadas. Ao mesmo tempo, viu a onda biológica surgir no agro.
“Decidimos entrar de cabeça no setor, desenvolvendo novas alternativas e formulando produtos para clientes-piloto. Em 2022 entramos com os pedidos para os primeiros registros de produtos”, acrescenta.
Até agora, a empresa se insere num mercado agro mais nichado, fornecendo formulações principalmente para players que atuam na agricultura orgânica, com inseticidas, nematicidas, fungicidas e inoculantes.
Hoje a empresa possui uma unidade de fermentação biológica com capacidade produtiva de 140 mil litros por mês. A instalação foi construída em 2023. A companhia estima que, por ano, destina 5% do faturamento anual para P&D.
Resumo
- A Apoena coleta microrganismos em Noronha e na Amazônia para criar defensivos biológicos a partir da biodiversidade
- A empresa formula produtos para outras indústrias do agro, atuando apenas no modelo B2B e investindo em P&D
- Após ano estável, espera crescer 20% em 2025, com seis novos registros aguardando aprovação