No início de junho, durante um evento que celebrou os 25 anos da Fundação Gates, instituição filantrópica criada por Bill Gates em 1999, o bilionário fundador da Microsoft anunciou um ambicioso compromisso: direcionar à África a maior parte dos US$ 200 bilhões que a entidade pretende investir nos próximos 20 anos.
"Recentemente, assumi o compromisso de doar meu patrimônio ao longo dos próximos 20 anos. A maior parte deste financiamento será usada para ajudar vocês a enfrentar os desafios aqui na África", disse Gates ao público que o ouvia em Adis Abeba, capital da Etiópia.
A Fundação Gates vai ganhar, em breve, um importante aliado para fazer o sonho de seu criador virar realidade.
A instituição acaba de entrar como investidora da Puna Bio, agtech argentina que fabrica biofertilizantes e bioestimulantes e já tem experiência com extremos climáticos, pois foi criada há cinco anos, a partir de pesquisas no deserto de Puna, na Argentina, um dos mais secos e mais altos do mundo.
Com a experiência acumulada em ambientes climáticos extremos, a Puna Bio planeja colaborar com a Fundação Gates na realização de testes e na adaptação de sua tecnologia para aplicação na África.
O objetivo é desenvolver soluções adequadas às condições climáticas locais, ampliar o acesso de pequenos agricultores a bioinsumos microbianos em regiões de difícil manejo e fortalecer sistemas alimentares sustentáveis.
A proposta inclui tanto a introdução de produtos já existentes no portfólio da empresa quanto a criação de novos biofertilizantes adaptados às características específicas do continente africano, conta Franco Martínez Levis, CEO e cofundador da Puna Bio em entrevista ao AgFeed.
“Em alguns países da África, a cultura mais importante é o milho ou o sorgo, por exemplo. Podemos fazer pesquisa para, de um lado, desenhar produtos para essas culturas e, por outro lado, para produtos feitos especificamente para problemas que tem a África, como a acidificação dos solos. Dessa forma, podemos desenhar um produto que seja de nutrição biofertilizante para sorgo ou milho”, diz Martínez Levis.
A Fundação Gates também entra com seu caráter filantrópico. “O objetivo deles é fornecer esses produtos para pequenos produtores, abaixo de 50 hectares. Só que a média dos produtores é de 2 hectares”, explica Martínez Levis. “São segmentos que comercialmente, para uma empresa, podem ser pouco atrativos, mas com esse caráter filantrópico podem ter muito impacto na segurança alimentar da África.”
O formato da inserção dos produto da Puna Bio nos países da África – se vai ser feita por meio de doação dos produtos ou se eles serão vendidos a preços mais baixos – ainda não está definido. “Poderia ser uma das duas ou uma combinação”, diz CEO da Puna Bio, salientando que, de qualquer forma, a ideia é facilitar o acesso das tecnologias a um “custo acessível”.
A agtech afirma que seus produtos maximizam a produtividade do solo entre 10% a 15% em áreas férteis, além de recuperar áreas degradadas que estão muito ácidas ou salinizadas.
O aporte da Fundação Gates marca o encerramento de uma rodada de investimentos que já contava com a participação de nomes como Corteva Catalyst, braço de investimentos da multinacional de defensivos e sementes, além de Dalus Capital, At One Ventures, SOSV, Builders VC e SP Ventures.
Os recursos dessa rodada servirão, segundo a Puna Bio, para acelerar o desenvolvimento e a produção dos biofertilizantes e bioestimulantes utilizados no tratamento de sementes e, principalmente, também dar mais tração à expansão internacional da startup.
Hoje, os produtos da agtech estão sendo vendidos na Argentina e no Paraguai. Martínez Levis diz que os itens já foram utilizados em mais de 400 mil hectares de culturas como soja, algodão, feijão, trigo e cevada.
A startup espera conseguir vender seus produtos também no Brasil ainda neste ano, mas ainda aguarda autorização do governo federal para poder comercializá-los no mercado nacional.
Enquanto o registro não sai, a agtech firmou uma parceria com a empresa Gaia Agrosolutions, de Londrina (PR), que desenvolve e fabrica biológicos, para revender os produtos da Puna Bio no país. “O objetivo é ter disponibilidade em todas as áreas produtivas do Brasil”, diz Martinez Levis.
Já nos Estados Unidos, a ideia da Puna Bio é entrar no mercado em 2026, a partir de março, quando se inicia a safra americana. Além da venda dos produtos em si, a startup planeja também criar um laboratório de pesquisa e desenvolvimento nos Estados Unidos, adicional à estrutura semelhante que já existe em Tucumán, na Argentina.
Resumo
- Fundação Gates, instituição filantrópica de Bill Gates, é a mais nova investidora da agtech Puna Bio, que fabrica biofertilizantes e bioestimulantes
- Instituição deve trabalhar junto com a startup para desenvolver tecnologias adaptadas às condições climáticas da África
- Rodada de captação, que já está presente na Argentina e no Paraguai e planeja chegar ao Brasil ainda neste ano, foi lideraqda pela Corteva Catalyst