A BRF enfrentava dificuldades para apresentar lucro aos seus acionistas. Durante dois anos seguidos, a companhia registrou prejuízos causados por vários fatores, como preço dos grãos utilizados como ração para os animais criados nas granjas e menor demanda global por carnes.
O cenário mudou no quarto trimestre de 2023. A companhia apresentou lucro líquido de R$ 754 milhões, ante um prejuízo próximo de R$ 1 bilhão no mesmo período de 2022. Os custos menores foram decisivos para o resultado.
Em faturamento, houve até uma pequena queda em relação ao final de 2022, de 2,3%, para R$ 14,4 bilhões, número muito próximo às estimativas dos analistas da Investing.com, que esperavam R$ 14,5 bilhões. Os volumes ficaram praticamente estáveis, em 1,2 milhão de toneladas.
O preço médio dos produtos vendidos também teve ligeira queda em um ano, mas melhorou na comparação com o terceiro trimestre de 2023. A BRF conseguiu um valor médio de R$ 11,50 o quilo na parte final do ano passado, contra R$ 11,73 do mesmo período de 2022, e R$ 11,10 apurado entre julho e setembro.
“Temos visto os preços subindo nos mercados internacionais, com melhor equilíbrio entre oferta e demanda. E conseguimos direcionar melhor os produtos para regiões fora do Brasil que trazem mais margem”, explicou Leonardo Dallorto, diretor vice-presidente de Mercado Internacional e Planejamento, durante coletiva de imprensa da diretoria da BRF para comentar os números.
O balanço comprova que os preços internacionais estão se recuperando, mas ainda não voltaram aos patamares de 2022. Em relação ao terceiro trimestre de 2023, houve avanço superior a 5%, para R$ 11,33 o quilo. No entanto, essa média fica 6% abaixo do ano anterior, quando estava acima de R$ 12.
No mercado brasileiro, o aumento nos preços conseguido pela BRF foi ainda maior, acima de 6,5% em três meses, para R$ 12,31 o quilo do produto vendido. No ano, houve queda de 2,7%.
“Houve uma recuperação importante nos preços dos produtos in natura no mercado doméstico. E projetamos um cenário, para 2024, de pelo menos estabilidade dos preços, podendo até subir. Os volumes têm respondido bem, até por termos marcas que atendem a todas as classes sociais”, afirmou Manoel Martins, vice-presidente Comercial Brasil.
Mas o grande segredo para a BRF voltar a lucrar está nas despesas. Em um ano, o Custo do Produto Vendido (CPV) recuou quase 9%. Essa proporção corresponde a mais de R$ 1 bilhão de economia em um ano. Quando se mede o custo por quilo, o recuo foi parecido, de 8,6%.
Nessa linha, houve quedas importantes tanto no mercado brasileiro quanto no internacional. Por aqui, a BRF conseguiu diminuir em quase 14% os custos totais, e em quase 12% o CPV por quilo.
No segmento internacional, a BRF conseguiu diminuir em quase 10% do CPV total, e em 15% o custo por quilo de seus produtos vendidos.
Além dos grãos, a BRF ressalta que seu programa de melhoria de eficiência, chamado de BRF+, tem apresentado resultados. No balanço, a companhia comenta que alguns indicadores, como rendimento industrial de frangos e suínos e mortalidade de animais, atingiram seus melhores patamares dos últimos anos.
“É uma empresa completamente diferente do que era no final de 2022. Não estamos carregando tanto estoque, temos novas opções de mercado”, comentou o diretor presidente global da BRF, Miguel Gularte.
O executivo lembrou que a Marfrig superou a marca de 50% de participação no capital da BRF, o que, para ele, é um sinal de confiança no potencial da empresa para os próximos anos.
Nesse sentido, a oferta subsequente de ações, ou follow on, que foi finalizada em julho do ano passado, ainda reflete nas finanças da BRF.
A companhia fechou o quarto trimestre de 2023 com uma geração de caixa de R$ 613 milhões, depois de consumir R$ 67 milhões no mesmo período de 2022.
A BRF também está menos endividada. A alavancagem da companhia, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado em 12 meses, caiu de 2,66 vezes no final de setembro para 2,01 vezes em dezembro. Um ano antes, a alavancagem financeira estava em 3,55 vezes.