Uma marca tradicional do setor químico agora está mostrando que veio para ficar – e seguir crescendo ano a ano - no agronegócio.

A companhia brasileira conhecida por décadas como “Nitro Química” está completando 90 anos, mas na área de insumos agrícolas comemora seu primeiro “quinquênio”.

A Nitro, como é chamada atualmente, fechou 2024 com faturamento total de R$ 2,5 bilhões. Somente no segmento agro a receita gerada alcançou a marca de R$ 1 bilhão, o que representou um crescimento de 20% sobre o ano anterior.

“Ultrapassamos nosso primeiro bilhão de reais de faturamento do agro e foi uma marca bastante simbólica. Este ano estamos também com um desenvolvimento muito bom. Nos primeiros quatro meses do ano, se comparar aos quatro meses do ano anterior, estamos com um crescimento acima de 25%”, contou Marcos Cruz, CEO da Nitro, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

Cruz é um executivo “low profile”, que prefere ficar longe dos holofotes, mas que vem liderando de forma silenciosa um crescimento expressivo da empresa, hoje já aparecendo entre as três maiores do Brasil no segmento em que atua.

A Nitro produz insumos no segmento chamado de “especialidades”, com cerca de 60% da receita proveniente de produtos de nutrição e fisiologia, 20% em biológicos, ambos com foco no consumidor final, e outros 20% em insumos como sais e sulfatos, que são vendidos inclusive para fabricantes.

“A gente decidiu entrar no agro por volta de 2019. A estratégia foi fazer aquisições pontuais de boas empresas, mas pequenas empresas de dono, que estavam ali limitadas no seu crescimento. Entre 2019 e 2022 fizemos aproximadamente cinco aquisições”, explicou.

A história no agro começou com a compra da MCM, de Cesário Lange (SP), em 2010, que fabrica sais e sulfatos, usados em fertilizantes. Um ano depois foi adquirida a FastAgro, de Rondonópolis (MT), empresa de nutrição.

No mesmo ano, a Nitro comprou uma participação na Gênica, empresa de biológicos que mais tarde ganharia outros sócios de porte, como a Mosaic. Até hoje a Nitro possui 30% de participação na Gênica.

Em 2021, adquiriu a Biocontrol, de biológicos, em Sertãozinho (SP) e uma unidade em Várzea Paulista.

Os movimentos mais recentes foram em 2023, quando a Nitro fez o que chama de “parceria estratégica” com a Regenera, startup focada em bioprospecção de fungos e bactérias e que atua no ambiente marinho.

Além disso, fez uma joint venture com o pesquisador e biólogo Heraldo Negri, na Vivus, de macrobiológicos (insetos) e outra JV com a NBT, de Minas Gerais, de biológicos à base de fungos.

“Então a gente foi ampliando o portfólio, fazendo esse conjunto de aquisições e criando uma empresa que é uma plataforma única”, disse.

Com essa estratégia, a Nitro comemora o fato de mesmo em 2023, o chamado “ano de ajuste do agro”, ter registrado um “crescimento marginal”. Em meados de 2023 chegou projetar ultrapassar R$ 1 bilhão de receita, mas naquele ano os preços e os volumes caíram no mercado como um todo.

Nova fábrica de biológicos

Marcos Cruz acredita que a “postura low profile da empresa, a consistência do trabalho sem grandes voos ou extrapolações” justificam esse desempenho mais linear, enquanto grandes players do setor registraram queda nas vendas.

Além das aquisições, o avanço do Nitro no mercado se deu também por investimentos para aumentar a produção própria.

“A gente construiu pelo menos cinco fábricas grandes, novas. Estamos lançando mais uma agora, no mês que vem”, adiantou ele ao AgFeed.

A nova planta terá foco na produção de biológicos à base de bactérias e foi construída em Várzea Paulista, no interior de São Paulo. No local, a Nitro já uma de suas principais unidades fabris, mas focada na produção de fertilizantes foliares líquidos e sólidos.

A Nitro, até então, contava também com uma fábrica de biológicos, porém à base de fungos e com sede em Sertãozinho (SP).

O investimento previsto pela empresa para 2025 é de R$ 130 milhões. Na nova fábrica de biológicos, o total investido é de R$ 50 milhões.

“A gente é uma empresa produtora, que acredita em produção. Acho que isso está em parte do nosso DNA, da nossa estratégia”, afirmou Cruz.

O objetivo é se diferenciar de concorrentes que, muitas vezes, se baseiam na importação e comércio de insumos ou mesmo daqueles geridos por grandes fundos que priorizam metas financeiras para, mais tarde, ser alvo, por exemplo, de grandes M&As.

“A Nitro é uma empresa S.A de capital fechado, com acionistas e investidores sem pretensão de movimentos societários. A velocidade de crescimento, se é um pouco mais ou um pouco menos, é menos relevante. Nosso objetivo é continuar atendendo os clientes e crescendo de forma consistente, com qualidade para durar mais 90 anos”, destacou.

Com a nova fábrica, o plano é expandir também o portfolio, que hoje é composto de 10 produtos biológicos e cerca de 40 nas outras linhas.

“A gente vai lançar mais dois (produtos) esse ano. Um bionematicida de solo, é o segundo, já temos um, e um novo biofungicida”, revelou.

A Nitro não informou qual sua capacidade atual de produção de biológicos, nem qual seria o volume esperado para a nova planta, mas o CEO estima que o total seja “10 vezes maior” a partir de agora no que se refere a biológicos à base de bactérias.

As fábricas já existentes da Nitro, considerado todas as linhas, estão no estado de São Paulo. A unidade próxima a Guarulhos é a maior, com 500 mil metros quadrados de terreno, que tem a parte de químicos e uma parte agro, de enxofre pastilhado.

Há também um polo produtivo em Cesário Lange, além das já citadas em Várzea Paulista e Sertãozinho.

Já as JVs ficam em Piracicaba (SP) e Patos de Minas (MG). Na área de químicos (fora do agro), a Nitro tem unidades nos Estados Unidos e no Uruguai.

Compras antecipadas em 2025

A Nitro está otimista para os resultados deste ano, esperando crescer novamente pelo menos 20%.

Além do avanço de 25% nas vendas já faturadas no primeiro quadrimestre, a empresa tem observado um movimento de antecipação nas encomendas por parte dos produtores rurais.

“Teve essa safra muito boa de produção de todos os lados., então os produtores estão um pouco mais otimistas do que estavam em 2024. As compras estão mais antecipadas, tem um pouco mais de confiança”, ressaltou o CEO.

A carteira de pedidos – vendas que foram acertadas, mas ainda não faturadas – está 50% acima do ano passado no acumulado até agora, comparando com o mesmo período de 2024, segundo o executivo. “Parte disso é performance da empresa e parte também é antecipação dos produtores”.

Em 2024 e 2023 a venda desses insumos estava em 20% do previsto do ano nesta época, enquanto agora, ele calcula, o mercado já rodou 40%.

Entre os produtos que têm puxado o crescimento nas vendas estão os fertilizantes foliares e os bioestimulantes, que ajudam, por exemplo, a dar mais resistência às plantas ao stress hídrico.

Segundo Cruz, a venda de defensivos biológicos acaba ficando mais atrelada à ocorrência ou não de doenças. Já esta linha de produtos cresce para “produtores que estão ficando mais tecnificados e busca um ganho de duas ou três sacas a mais”.

FIDC no radar

A Nitro também considera um diferencial a sua estratégia de acesso aos clientes. A empresa possui 200 agrônomos em campo, que constituem uma parte da força própria de vendas, mas também atua com rede de 100 revendedores parceiros.

O CEO garantiu ao AgFeed que a Nitro não “estava exposta” aos grandes players de mercado envolvidos nos problemas recentes que levaram até mesmo a casos de recuperação judicial, como ocorreu com a AgroGalaxy.

“Não tem sido um grande problema pra gente. Temos atuação forte na venda direta para produtores de tamanho médio e grande”, disse.

Em relação ao crédito mais restrito, Cruz admite que o custo financeiro está sendo um desafio para toda a cadeia e toda a economia.

Segundo ele, a empresa tem procurado reforçar a oferta de financiamento aos produtores e uma das ferramentas é o FIDC (fundo de direitos creditórios) que a Nitro já tem, desde 2023, feito em parceria com o Itaú. O fundo começou com R$ 250 milhões por ano.

O plano é lançar um novo FIDC, em valor semelhante, ainda em 2025, também com parceiros, disse o executivo. “A situação financeira da empresa é muito sólida. É reforçada pelo lado químico”.

Cruz afirmou ainda que mesmo o período mais desafiador não trouxe pico de inadimplência para a Nitro, principalmente pela presença nacional. A diversificação geográfica e também por culturas – a empresa tem áreas específicas para HF, cana e algodão, por exemplo – também teria ajudado nesse cenário.

Visão de futuro

Com os recentes investimentos no parque fabril, a Nitro acredita que está pronta para manter um crescimento anual entre 20% e 30% “pelo menos nos próximos cinco anos”.

“A gente plantou as sementes de P&D, de pesquisa e desenvolvimento com as joint ventures. Então a gente está numa fase que, eu acredito, vai ter muitos frutos para os próximos anos”, avaliou Cruz.

Na visão dele, os primeiros cinco anos no agro estão sendo encerrados “com louvor”, em função de ser uma empresa que não atuava no setor e que agora chega ao primeiro bilhão.

Perguntado se estariam dispostos a fazer novos M&As, Marcos Cruz respondeu: “Se – e apenas se – surgirem oportunidades que agreguem algo diferente ao que já temos hoje”.

“Lá atrás as aquisições foram muito importantes para montar esse portfolio, mas boa parte dos espaços já estão ocupados internamente. Para valer a pena, outra aquisição tem que trazer coisas diferentes, como as JVs que fizemos. Crescer por crescer não é driver nosso. Fazer aquisição para ganhar tamanho não faz parte da estratégia”, reforçou ele.

A previsão é que a Nitro continue mapeando novas tecnologias para investir, especialmente via startups.

A empresa é a principal investidora do fundo Arar Capital, que já captou R$ 150 milhões para aportar em startups do agro. Já receberam recursos empresas como a Cromai, de imagens e Inteligência Artificial, a Simbiomics, um laboratório de edição gênica, e a Agroadvance, de educação para o agro.

“Nesse momento a fase está mais nessas parcerias e investimentos pontuais do que em alguma aquisição relevante”, sinalizou Cruz.

Alguns dos investimentos feitos em 2023 ainda estão em fase de pesquisas. Junto com a Regenera e outros parceiros, por exemplo, a Nitro recebeu recursos da Embrapii, para avançar com sua prospecção de microrganismos no mar.

Com estes negócios e os investimentos em P&D, a empresa já espera se posicionar em relação ao futuro, trazendo novidades.

Em relação aos biológicos em geral, o CEO da Nitro diz que a área seguirá relevante para a empresa, mas não a ponto de ser o principal foco de investimentos.

Na visão dele, o segmento seguirá crescendo “na ordem de 30% ao ano”, mas não 50% ao ano como muitos chegavam a estimar em determinando momento.

“Mas a gente continua acreditando muito no biológico e investindo, acho que vai ser uma solução fundamental para o manejo integrado, para o produtor. Não vai substituir 100% o químico, mas cada dia mais fará parte da realidade do dia a dia das fazendas”.

Resumo

  • Companhia atua há 90 anos no setor químico, mas entrou no agro há apenas cinco e já atingiu receita de R$ 1 bilhão no setor
  • Com aquisições e joint-ventures, a Nitro montou um portfolio que combina químicos e biológicos
  • Empresa inaugura uma nova fábrica em Várzea Paulista (SP), com capacidade para multiplicar por dez a produção de biológicos à base de bactérias