Impulsionada pelos bons resultados da safra 2024/2025 nos três primeiros meses do ano, a agropecuária liderou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2025, que avançou 1,4% na série com ajuste sazonal.
O PIB da agropecuária cresceu 12,2% no período, na comparação ao trimestre imediatamente anterior – resultado superior ao desempenho do setor de serviços (0,3%) e à retração da indústria (-0,1%). Em relação ao primeiro trimestre de 2024, o crescimento foi de 10,2%, também na série com ajuste sazonal. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta-feira, dia 30 de maio, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado do setor agropecuário no período está ligado ao desempenho positivo da colheita nas lavoura no início deste ano, segundo o IBGE.
“A agropecuária está sendo favorecida pelas condições climáticas favoráveis e conta com uma baixa base de comparação do ano passado. É esperada uma safra recorde de soja, nosso produto agrícola mais importante”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, em nota.
A projeção de aumento da produção anual de soja (13,3%), arroz (12,2%) e milho (11,8%), estimativas presentes no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado em maio, também sustenta a análise do órgão do governo.
A safra 2024/2025 deve alcançar um volume recorde de 332,9 milhões de toneladas de grãos, o que representa uma alta de 12% em relação ao ciclo anterior, igual a um aumento de 35,4 milhões de toneladas.
A soja deve atingir uma produção de 168,3 milhões de toneladas, alcançando também a maior marca da série histórica dos levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que divulgou os dados mais recentes de projeção neste mês.
O cenário atual representa uma recuperação frente aos resultados negativos da safra 2023/2024, marcada por perdas na produção de soja. No primeiro trimestre de 2024, o PIB da agropecuária caiu 3,0% na série sem ajuste sazonal. No acumulado do ano, a retração foi de 3,2%, também sem ajuste.
Mesmo com a recuperação, a atividade no setor ainda não retomou os mesmos patamares de 2022, quando clima e preços favoráveis promoveram ganhos em todos os segmentos. De lá para cá, foram dois anos com perdas provocadas por quebras de safra e redução das cotações das commodities, que fizeram com que segmentos como indústria e distribuição de insumos e máquinas sofressem uma sequência de reduções de receita e vissem suas margens encolher, a ponto de haver uma aceleração nos pedidos de recuperação judicial.
As dificuldades estruturais ainda não foram superadas, mas os dados mais recentes já vinham sugerindo uma mudança no comportamento do setor. O Índice de Produção Agroindustrial (PIM-Agro), do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), acumulou alta de 1,6% entre janeiro e março.
Já o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, apontou crescimento de 17,31% do setor agropecuário na comparação com os três primeiros meses de 2024. O índice geral registrou alta de 3,68% na mesma base de comparação. O IBC-Br foi divulgado em 19 de maio.
Economistas do mercado financeiro também já esperavam que o desempenho do agro trouxesse uma importante contribuição para o PIB do começo do ano. Eles lembram que o setor historicamente tem um desempenho mais positivo no começo do ano, o que se repetiu agora.
"A agropecuária, mais uma vez, salvou o desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre", resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
André Galhardo, economista-chefe da consultoria Análise Econômica, tem percepção semelhante. "De modo geral, quase todo o crescimento do PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2025 pode ser atribuído direto ou indiretamente ao agronegócio", afirma. "E o efeito transbordamento que o agro traz acabou contribuindo para o crescimento de 0,3% do setor de serviços também", emenda Galhardo.
O destaque, segundo os economistas, foi a safra de grãos do período. "Milho e soja foi o principal", lista Agostini.
Ainda que seja esperada uma "supersafrinha" de milho, de acordo com projeções da consultoria Agroconsult, que espera uma produção de 112,9 milhões de toneladas na segunda safra, 10,5% superior à safrinha 2023/2024, a tendência é de que os números do agro comecem a arrefecer por uma questão estatística nas próximas divulgações do PIB.
"Agora devemos ver uma desaceleração desse impacto do agro sobre o PIB de modo geral. A gente pode ver, inclusive, uma contração no segundo trimestre, o que é muito comum acontecer, principalmente depois de um crescimento tão forte na margem", projeta Galhardo, da Análise Econômica.
Apesar da contração já esperada, o economista pondera que, de qualquer forma, o efeito do agronegócio sobre a economia como um todo traz impactos relativamente duradouros.
"O mercado de trabalho está muito aquecido, há forte geração de empregos, a taxa de desocupação está no menor nível para o período em toda a série histórica disponível e o agro acaba promovendo um crescimento indireto, como uma espécie de multiplicador ao longo do segundo trimestre", diz o economista-chefe da Análise Econômica.
"Quando você tem um primeiro trimestre muito forte, os próximos trimestres acabam tendo um desempenho fraco, até negativo, porque a base de comparação é muito forte", acrescenta o economista-chefe da Austin Rating.
A projeção do economista da Austin é de que o PIB agropecuária cresça entre 5% e 6% neste ano, podendo ficar em níveis até mesmo superiores. Agostini enumera dois fatores de atenção para o desempenho do PIB do setor ao longo do ano: clima e cenário externo.
"No caso do clima, por exemplo, a gente viu que comprometeu bastante algumas lavouras de café, por exemplo, e é por isso que o café está batendo recorde", diz o economista.
"No cenário internacional, os Estados Unidos estão mostrando um PIB negativo e uma certa perda de fôlego e são um importante parceiro comercial do Brasil. Também precisamos ficar atentos a como vai se comportar a China, que consome muito produto brasileiro, e também os reflexos dos acordos que o Brasil fez na Ásia, principalmente com o Japão", diz Agostini.
De qualquer forma, a perspectiva do economista da Austin para o desempenho do setor ao longo do ano é "muito positiva". "A agropecuária acaba ativando outros setores: químicos, fertilizantes, adubos, máquinas e implementos agrícolas e combustíveis", enumera.
Resumo
- Impulsionado pela safra recorde de grãos, o PIB da agropecuária cresceu 12,2% no primeiro trimestre de 2025, puxando a alta de 1,4% do PIB geral no período
- . O desempenho superou os setores de serviços (0,3%) e indústria (-0,1%), segundo o IBGE.
- O bom desempenho vem após resultados enfraquecidos do agro no PIB e é reforçado pelo efeito estatístico de base de comparação baixa