Olímpia (SP) - Quando Antonio Carlos de Gissi, CEO do Essere Group, contratou o diretor de marketing e novos negócios, Luiz Fernando Schmitt, em 2020, foi indagado com a seguinte pergunta do novo funcionário: qual a sua ideia em relação à empresa?

A resposta abria margem para duas respostas: vender ou perpetuar o negócio. A escolha, que tem moldado a administração de Gissi ao longo dos mais de 30 anos do grupo de defensivos e fertilizantes, foi a segunda.

“Existem dois tipos de empresas hoje, as que compram outras e as que são vendidas. Queremos ser do grupo que compra”, disse Gissi ao AgFeed. E, para isso, a rota passa pelo mercado de capitais.

Um IPO, por exemplo, já surge no horizonte como uma possibilidade. “Fizemos muitos investimentos, precisamos continuar a crescer, e temos conversado entre os sócios já que não queremos vender”.

Mas antes disso, a holding tem algum chão a percorrer, segundo admite o próprio Gissi. “Sempre pensamos em primeiro bater o R$ 1 bilhão [em faturamento], que daria algo em torno de R$ 250 milhões de Ebitda. Só aí, robustos, vamos fazer um IPO, e com grande chance de ter sucesso”, comentou o CEO.

Ao longo dos anos, segundo Gissi, a tentação de encurtar caminhos tem batido à porta do grupo. Desde 2015, contou, quase que mensalmente recebe sondagens de players do mercado financeiro sobre alguma empresa internacional ou concorrente de olho nos negócios do Essere.

Não prosperaram em função de um conceito claro para o CEO. Ao vender uma fatia a um único sócio, poderia ter de fazer concessões em um modelo de gestão que, até o momento, tem dado bons resultados. Já a abertura de capital, na sua opinião, “capitaliza a empresa para a expansão, e não coloca um sócio segurando e direcionando o negócio”.

“Estaremos prestando conta para os acionistas, mas continuaremos com nosso direcionamento”, diz.

Meio caminho já foi andado nessa direção. A expectativa é encerrar 2023 com um faturamento de R$ 500 milhões, metade da meta estabelecida para acionar o gatilho do IPO. Para 2024, um número que chegue próximo aos R$ 700 milhões e em 2025, atingir o clube do bilhão, ou “algo muito próximo”.

O resultado desse ano ficará abaixo dos R$ 600 milhões planejados para o ano. As condições adversas do mercado, atraso nas compras por parte dos produtores e baixa no preço das commodities e dos fertilizantes no mercado externo, porém, forçaram a revisão da projeção.

Mesmo assim, o novo número ainda traria uma alta de 12% frente aos R$ 450 milhões arrecadados em 2022.

A ideia, com uma eventual abertura de capital, é pavimentar uma nova avenida de crescimento e expansão da empresa. Nesta semana, por exemplo, a empresa convidou jornalistas para conhecer, pela primeira vez, as instalações do grupo, incluindo a nova fábrica de biológicos da Bionat, uma das empresas da holding.

Com investimento de R$ 30 milhões no seu parque fabril de Olímpia, no interior de São Paulo, a nova unidade que acabou de ser lançada tem uma capacidade produtiva de 80 mil quilolitros de produtos por mês.

A biofábrica da Bionat, que atua com fungos e bactérias, está preparada para ser duplicada dentro de dois anos, com investimento previsto em torno de R$ 5 milhões. Como explicou Luciano de Gisso, irmão do CEO e diretor de operações, já em junho do ano que vem a área de fungos deve ser expandida.

O faturamento da Bionat, de R$ 45 milhões registrado em 2022, deve crescer para perto dos R$ 100 milhões neste ano. A expectativa é que, em 2028, atinja R$ 500 milhões, representando então 30% dos negócios do Essere Group.

Diversificação

À frente do Essere, Antonio Carlos Gissi comanda quatro empresas. A primeira, que deu origem ao grupo, foi a Kimberlit, focada em agroquímicos. Fundada em Batatais por um antigo colega do curso técnico em agropecuária, ela entrou para a família em 1994.

Na época, Gissi era dono de uma revenda de insumos em Olímpia, na qual vendia produtos da Kimberlit. Com dificuldades para tocar o negócio, o amigo, então, o procurou com uma oferta de venda da fábrica.

Gissi comprou, mas convenceu os fundadores a continuarem no negócio. Por quatro anos, tocou tanto sua revenda quanto a Kimberlit. Até que, em 1998, ele inverteu o foco, trouxe a Kimberlit para o distrito industrial de Olímpia e passou a olhar com mais atenção a produção dos químicos.

“Na revenda, tínhamos uma área limitada. Fornecedores como a Bayer e a Monsanto limitavam nossa área de atuação. Na indústria, não teríamos isso. Além disso, a margem também era maior do que a da revenda”, contou.

Desde então o negócio tomou tração e ganhou uma equipe de pesquisa e desenvolvimento interno, que passou a desenvolver produtos especiais e inovadores, além de fabricar a própria matéria-prima ao invés de somente misturar.

“Em 1999, quando viemos para Olímpia, o faturamento era de R$ 300 mil ao ano. Em poucos anos, em 2004, faturamos R$ 24 milhões”, conta. Na época a projeção para 2005 era de R$ 40 milhões, mas a safra de 2004/05 trouxe o que Antonio Gissi chamou de “a maior crise da agricultura que ele já viveu”.

Nova planta da Bionat em Olímpia (SP)

“A soja despencou 50% e os insumos que haviam comprado em 2004 num dólar alto, viram a moeda despencar no ano seguinte, além da praga da ferrugem asiática ter chegado no Brasil. Foi uma quebradeira geral, e não conseguimos receber o que havíamos vendido”, explicou.

Ele conta que demorou até 2008 para a empresa voltar aos trilhos. Nesse meio do caminho trouxe seu irmão Luciano e mais um outro colega, Renato Peixoto, para a sociedade. Em 2009 o faturamento chegou aos R$ 10 milhões e a empresa traçou um plano para crescer dez vezes em 10 anos, ou seja, bater os R$ 100 milhões até 2019/20.

O montante foi atingido em 2018, um ano antes, e no final de 2019, uma nova meta foi traçada: crescer novamente dez vezes, mas o tempo quem ditaria seria a própria equipe comercial, que começou a fazer planejamentos e construir junto com a diretoria os planos de investimento e crescimento.

Asssim o primeiro bilhão em receita ficou, no planejamento, para 2027. Mas deve ser atingido antes, na avaliação do CEO. “O que mudou das duas metas? Antes, na primeira, só tínhamos a Kimberlit. Agora, temos Bionat e Loyder, com portfólios que não competem entre si.

A Loyder, de fertilizantes, foi fundada em 2007, e atua com o chamado NPK. A Bionat foi criada em 2019. Além dessas empresas, a quarta companhia do Essere Group é a Floema, de logística, que só atende o grupo e atua com caminhões frios, que podem transportar os produtos biológicos da empresa.

Segundo Luciano de Gissi, o foco da holding, hoje, é expandir o que já existe. “Temos projeto de expansão na própria Bionat e, na sequência, projetamos expansão da Kimberlit, que está perto da capacidade máxima”, disse. “Estamos trabalhando num plano diretor para organizar as expansões de forma escalonada. Na sequência está prevista outra expansão na área de fungos”.

A Kimberlit deve encerrar 2023 com 14 milhões de quilos de produtos vendidos, e em 2024, a projeção é bater os 15 milhões. Na Loyder, são 50 mil toneladas de NPK, com previsão de, no ano que vem, chegar às 75 mil. A capacidade da planta, entre 120 e 150 mil toneladas, é suficiente por enquanto.

Na Bionat, a planta de bactéria produz 1 milhão de litros e, segundo Luciano Gissi, com mais três equipamentos as linhas de fermentação podem dobrar o montante.

O mercado da Bionat é justamente o que cresce mais rápido – no ano passado, as vendas de biológicos aumentaram 55% frente a 2021. “A previsão para a Bionat, no próximo ano, é dobrar o faturamento”, disse o diretor.

“O mercado em 2024 é estimado em R$ 6 bilhões, e por aqui falamos em R$ 120 milhões de faturamento nosso, o que nos dá algo em torno de 2% de participação do mercado”.

Para esse aumento, a empresa já comprou dois terrenos ao redor do parque fabril, mas o destino de cada um deles ainda depende da movimentação do mercado no futuro. Antes da nova instalação, a empresa ainda pode aumentar os turnos no que já existe. “O mercado é dinâmico, vai depender da demanda”, comenta Schmitt.

Compras atrasadas na safra atual

Além de projetar o crescimento, o Essere Group também está de olho no dia a dia. O diretor de Marketing, Luiz Fernando Schmitt comentou ao AgFeed que as vendas das três empresas estão atrasadas neste ano quando comparado ao normal para o mês de novembro.

Ele explica que, com exceção do açúcar – que viu seu preço se manter no patamar do ano passado com a decisão da Índia de limitar exportações – as principais commodities agrícolas, como soja, milho e café, por exemplo, tiveram uma forte queda no preço.

“Essa queda no preço piorou a relação de troca. O agricultor não pensa quanto o produto custa em reais, e sim em quilos do produto. Quando [o preço da] commodity cai, essa relação é afetada”, afirmou.

Schimitt citou o caso de cooperativas como C.Vale, Cocamar, Copacol e Coopavel, que costumam puxar o mercado de insumos no Paraná. Segundo ele, geralmente no final de julho todas as compras para a segunda safra, ou safrinha, já estão definidas e negociadas.

Neste ano, porém, as campanhas de venda estão acontecendo somente em novembro, com quatro meses de atraso. “O nível de adesão do produtor acaba sendo baixo pela relação de troca”.

Dentro de casa, ele cita que a Loyder, que atua com NPK, todos os pedidos que chegam no sistema estão catalogados como “entrega imediata”, “para não dizer entrega para ontem”, brincou o diretor.

“Biológicos, foliares, bioestimulantes, NPK… Tudo está atrasado. No mercado de sementes, as pessoas não devem estar dormindo”.

Recentemente, Amália Borsari, diretora de biológicos da CropLife Brasil, entidade que representa as indústrias de defensivos e sementes, havia dado essa perspectiva de atraso em uma entrevista ao AgFeed.

Na ocasião, ela comentou que as vendas do segmento de bioinsumos também sofreram atraso, de cerca de dois meses, mas segundo ela, houve aumento de 30% no acumulado do ano até setembro, na comparação com o mesmo período de 2022.

Em suas contas, o “boom” das vendas dos biológicos nesta safra aconteceria a partir da metade de outubro, algo que não tem sido visto no mercado.

Novas gerações dos biológicos

Schmitt afirmou que a empresa já tem capacidade, equipe técnica e parcerias suficientes para produzir biológicos de todas as gerações. Na área de desenvolvimento, disse, a Bionat possui 12 PHDs na equipe e parcerias com Embrapa, Esalq e até empresas como a Ideelab.

A questão mesmo é o nível de adoção dos produtores, que ainda não é tão grande como é nos químicos. Nos cálculos da CropLife, por exemplo, a taxa média de adoção de controle biológico subiu de 17% em 2019/20 para 28% em 2021/22, e atualmente ronda os 30%.

“Temos as tecnologias mas o produtor ainda não está acompanhando o nível de adoção das tecnologias na proporção que tem que ser. O mercado de químicos no brasil é um mercado de R$ 75 bilhões. O mercado de biológicos está em R$ 4 bilhões”, pontuou o diretor.

Segundo ele, existe um problema de desconhecimento e de acesso dessas tecnologias para os produtores, e o que vai fazer esse mercado aumentar é a rapidez das empresas em convencer a importância de adotar os biológicos.

Um dos caminhos, segundo ele, é mostrar que os biológicos não são substitutos dos químicos, e sim um complemento.