As chamadas “dores de crescimento” são naturais na jornada de uma empresa, independente do porte. Desde uma startup que dá seus primeiros passos em busca de mercados e primeiros clientes até a formação de gigantes globais.

Na MBRF, empresa que surgirá a partir da fusão de Marfrig e BRF, não tem sido diferente. Depois de anos comprando pequenas participações na empresa, a Marfrig, de Marcos Molina, resolveu de fato incorporar a companhia, num anúncio feito na metade de maio.

De um lado, a  nova empresa “nasce” como a terceira maior em proteína animal do mundo. Do outro, deixou alguns acionistas da BRF descontentes pelo caminho. Uma amostra disso teria surgido já no day after do anúncio da fusão, 16 de maio, quando as ações da Marfrig dispararam e as da BRF recuaram.

Agora, o protesto se personificou e ganhou sobrenome. Um integrante da família Fontana, uma das fundadoras da Sadia, está comprometido a questionar o preço proposto pela Marfrig para incorporar as ações da BRF.

Em entrevista ao site Pipeline, do jornal Valor Econômico, Adriano Fontana disse estar se organizando formalmente para questionar a relação de troca, contestando a definição do preço e da independência de quem avaliou o processo.

Ao site, Fontana disse já estar reunido um grupo também com outros minoritários. O pai de Adriano, Alex Fontana, teria inclusive formalizado uma reclamação sobre o assunto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta terça-feira, 3 de junho. Ele possui 11% das ações, montante igual a quase R$ 38 milhões.

A grande questão é a relação de troca. Na proposta da Marfrig, uma ação da BRF será transformada em 0,85 ação da companhia de Marcos Molina, isso considerando os acionistas que desejam continuar sendo investidores do negócio.

Desde o day after, o tema gerou controvérsias. A proposta conta com o apoio de acionistas da BRF com maior peso - como os fundos Previ e Salic, que possuem 6% e 11% da companhia, respectivamente, e já se posicionaram a favor da transação.

Para os investidores menores, no entanto, concordar com a fusão significaria abrir mão de uma companhia que gera mais receita e lucro do que a controladora e com um índice de alavancagem menor que uma vez o Ebitda.

Um relatório do banco Morgan Stanley indicou, na época do anúncio, que a fusão implicaria em um valor de R$ 17,30 para cada ação da BRF, um desconto em relação ao preço negociado nos pregões, que tem se mantido acima dos R$ 20.

Além disso, o preço por ação que a Marfrig propõe pagar para acionistas da BRF que não concordarem com a incorporação é de R$ 19,83, também abaixo do patamar de R$ 20.

Essa relação de troca mexeu de forma diferente com os papéis das duas empresas listados na B3. Desde o dia 16 de maio, a ação da companhia dona da Sadia e Perdigão caiu quase 2%. Ao mesmo tempo, a ação da Marfrig sobe quase 1%. No dia 16 de maio, a ação MRFG3 valorizou 21%.

Em nota enviada ao AgFeed, a Marfrig declarou que todos os processos referentes ao processo de fusão com a BRF “estão sendo conduzidos com rigor, seguindo a legislação e as melhores práticas do mercado”

“As bases da negociação foram respaldadas por uma avaliação independente (Fairness Opinion) emitida pelo Citibank, banco contratado pelo Comitê Independente da BRF. A companhia reafirma seu compromisso com a governança e a transparência em todas as suas operações”, finalizou a empresa.

Resumo

  • Integrante da família Fontana, que detém 0,11% do capital da BRF, questiona o preço proposto pela Marfrig para incorporar as ações da empresa
  • Adriano Fontana, um dos representantes do clã, disse já ter reunido um grupo também com outros minoritários para contestar a fusão
  • A grande questão é a relação de troca. Na proposta da Marfrig, uma ação da BRF será transformada em 0,85 ação da companhia de Marcos Molina