Um dia, dois comunicados e o retrato do ano para a Raízen. Se o processo de reestruturação da empresa depender só do aspecto operacional, o turnaround de desalavancagem deve demorar.

Nesta quinta-feira, 24 de julho, a companhia do grupo Cosan apresentou dois comunicados ao mercado.

O primeiro, que foi divulgado pela manhã, antes da abertura dos negócios na Bolsa, mostra mais um capítulo do enxugamento de ativos da empresa, com mais um desinvestimento em usinas de geração distribuída.

O segundo, no começo da noite, já depois do fechamento do mercado, traz uma prévia operacional que mostra menos moagem e produção no primeiro trimestre do ano 2025/2026, período em que a Raízen moeu 24,5 milhões de toneladas de cana, uma baixa de 20% frente às 30,9 milhões de toneladas do mesmo período na safra anterior.

De acordo com a empresa, chuvas ao longo do trimestre reduziram o ritmo da moagem e limitaram a diluição de custos no período. A moagem menor reflete um rendimento menor nos canaviais da empresa.

Tanto o ATR (açúcar total recuperável) e o TCH (toneladas de cana por hectare) do trimestre foram menores do que no ano passado. Os indicadores somaram, respectivamente, 121 quilos por tonelada e 78 toneladas por hectare

Com isso, a produção de açúcar equivalente deve encerrar o trimestre numa faixa entre 2,7 e 2,8 milhões de toneladas. No mesmo trimestre do ano anterior, foram 3,6 milhões de toneladas.

“Impactos climáticos e queimadas ao longo da safra passada prejudicaram o desenvolvimento dos canaviais e reduziram a produtividade agrícola. A qualidade da cana viabilizou a maximização da produção de açúcar”, explicou a Raízen.

O mix de produção ficou em 52% para o açúcar e 48% para o etanol. Há um ano, a produção foi dividida ao meio.

No aspecto comercial do trimestre, a Raízen vendeu 496 mil metros cúbicos de etanol próprio, uma queda de quase 30% frente aos 672 mil metros cúbicos do ano anterior.

A empresa justificou que o volume veio em linha com a menor produção e com a estratégia de vendas para a temporada.

A venda de açúcar foi o destaque positivo da prévia operacional, que mostrou avanço de 30% em um ano, para 995 mil toneladas no trimestre.

Desinvestimentos já somam R$ 2,7 bilhões

Nesta quinta, a companhia também anunciou a venda, por R$ 600 milhões, de 55 usinas de geração distribuída (GD). O acordo prevê a transferência de 44 ativos para a Thopen e 11 usinas de geração distribuída para o Grupo Gera.

O pacote tem uma capacidade nominal instalada agregada de até 142 megawatt-pico (MWp). A negociação também marca o encerramento da joint venture mantida desde 2021 com o Grupo Gera.

O anúncio dá sequência a uma série de desinvestimentos da Raízen que já somam mais de R$ 2,7 bilhões. A companhia iniciou 2025 na missão de reduzir sua alavancagem e dívida líquida, a fim de adequar a empresa à realidade de juros altos que vive o Brasil.

Ao final do ano fiscal 2024/2025, encerrado em março de 2025, a alavancagem da empresa estava em 3,2 vezes, ante 1,3 vez um ano antes. Já a dívida líquida encerrou o mesmo período em R$ 34,3 bilhões, 78,9% superior à cifra reportada na safra anterior. A empresa ainda registrou um prejuízo líquido de R$ 2,5 bilhões no ano passado.

Controlador da Cosan, o empresário Rubens Ometto tem promovido desde então uma série de mudanças. Além do choque de gestão que tirou Ricardo Mussa do comando da empresa, uma agenda de alongamento de dívidas, emitindo bonds e debêntures mais longas para pagar dívidas mais curtas e um saldão de ativos.

O capítulo mais recente foi a descontinuação das operações da histórica Usina Santa Elisa, de Sertãozinho (SP). Nesse movimento, que foi divulgado na semana passada, a empresa celebrou contratos de venda de 3,6 milhões de toneladas de cana, por um valor de R$ 1,04 bilhão.

Meses antes, havia vendido por R$ 425 milhões a Usina Leme, localizada na cidade de mesmo nome, para a Ferrari Agroindústria e a Agromen.

Fora ativos core, ou seja, as usinas, a empresa ainda vendeu 31 projetos de geração distribuída para a Brasol por R$ 425 milhões e 31 projetos de GD para a Élis Energia, controlada pelo Patria, por R$ 700 milhões.

Resumo

  • Prévia operacional mostra que Raízen moeu 24,5 milhões de toneladas de cana no 1º trimestre da safra 2025/2026, 20% menos que no ano anterior
  • Mais cedo, anunciou a venda de 55 usinas de geração distribuída por R$ 600 milhões, elevando os desinvestimentos para mais de R$ 2,7 bilhões no ano
  • Em meio à estratégia de reduzir dívida e alavancagem, a companhia segue reestruturando ativos e ajustando operações para enfrentar juros altos e menor rendimento agrícola