A relevância dos portos do Arco Norte é cada vez maior no Brasil em função do aumento na produção nas fronteiras agrícolas, principalmente no Matopiba.
Um dos exemplos deste avanço é o porto do Itaqui, em São Luís, no Maranhão, que tem como principal player privado no agro o chamado Tegram, um consórcio que envolve empresas como Viterra (comprada pela Bunge), Amaggi, Louis Dreyfus, CLI, entre outros.
Em dezembro do ano passado, o AgFeed mostrou que o Tegram aguardava “sinal verde” das autoridades brasileiras para colocar em prática um plano de expansão, na época estimado em R$ 1,6 bilhão.
Nesta terça-feira, o Consórcio TEGRAM-Itaqui, como é chamado, anunciou ter recebido uma aprovação preliminar do Ministério de Portos e Aeroportos para o projeto “da terceira fase de expansão do Terminal de Grãos do Maranhão", em São Luís.
No comunicado, o grupo declara que o valor a ser investido será de R$ 1,161 bilhão. Segundo a empresa, a cifra abaixo do que havia sido divulgado na entrevista anterior se deve “a um ajuste de projeto na hora da outorga”.
Nesta terça-feira, 19 de novembro, em entrevista ao AgFeed, o atual presidente do Consórcio Tegram, Marcos Bertoni, garante que o tamanho da expansão está mantido, mesmo com o valor um pouco mais baixo que o estimado inicialmente.
A capacidade estática de armazenagem vai subir das atuais 500 mil toneladas para 860 mil toneladas. A capacidade operacional anual terá um acréscimo de 8,5 milhões de toneladas de grãos.
Na fase 1, iniciada em 2015, o Tegram operava um único berço de atracação. Já a fase 2 ocorreu em 2018, com a construção de um berço adicional. Ao todo os sócios do consórcio Tegram já investiram R$ 2 bilhões desde a criação do grupo.
Para que as obras da fase 3 sejam iniciadas, o Tegram ainda aguarda o aval da Antaq, Agência Nacional de Transportes Aquaviários.
“Estamos já criando uma agenda agora junto com a Antaq para tirar as dúvidas e também pegar a aprovação deles”, afirmou.
O terminal opera atualmente com dois berços de atracação, que permite embarcar 24 navios por mês, segundo ele. “Essa nova fase tem a construção de um novo berço, com mais 12 navios mensais, vamos sair dos atuais 24 para 36 navios mensais”.
Bertoni também revelou ao AgFeed que o aval recebido junto ao governo não se restringe às obras de expansão. A medida também envolve uma renovação antecipada do contrato de concessão que encerraria em 2037. “Estamos renovando por 25 anos mais”. Sendo assim, o Tegram estaria com a concessão garantida até 2062.
Os principais produtos operados no Tegram são soja e milho. Recentemente, o terminal também fez um primeiro embarque de sorgo, com planos de seguir diversificando as cargas exportadas.
“Essa expansão, ela vai nos habilitar pra fazer um volume maior ainda de farelo de soja, atender essas fábricas de esmagamento de soja, e também vamos estar aptos pra fazer o DDG de milho, que vai ser a saída dessas fábricas de (etanol de) milho que estão sendo construídas nessa região”, disse Bertoni.
A expectativa é de um volume mais significativo de DDG venha a ocorrer quando a nova planta da Inpasa que está sendo construída em Balsas, no Maranhão, esteja funcionando.
Se tudo der certo, o aval da Antaq e o início das obras da terceira fase de expansão do Tegram começam já no primeiro semestre de 2025. Com isso a expectativa é de que o aumento na capacidade de movimentação e armazenagem já seja possível no final de 2026, período em que a Inpasa também poderá iniciar as atividades no Matopiba.
Marcos Bertoni ressaltou que uma grande vantagem da expansão será a possibilidade de operar com produtos como farelo e DDG durante todo o ano. “Temos demanda para fazer farelo de soja 10 vezes por ano, mas nós só fazemos 2, porque a soja e o milho tomam conta de tudo, só conseguimos fazer farelo quando surgem oportunidades”.
Volumes voltam a crescer em 2025
Após um recorde de movimentação em 2023, este ano, com o cenário mais adverso para as commodities agrícolas – e para as tradings – o Tegram deve registrar leve queda nos volumes.
A previsão é alcançar em 2024 um total de 14 milhões de toneladas, abaixo das 15,4 milhões de toneladas movimentadas no ano passado.
Um dos mercados que mais influenciam nesta queda é o milho. De acordo com o último boletim logístico da Conab, a exportação de milho nos portos do Arco Norte de janeiro a setembro desse ano foi de 12,9 milhões de toneladas (ante 14,7 milhões de toneladas no mesmo período de 2023).
“O pessoal entrou 2024 com a ferrovia toda contratada num custo altíssimo, tendo que originar produto na contramargem”, disse Bertoni, ao justificar como a movimentação do Tegram também acabou sendo prejudicada pelo cenário difícil enfrentado pelas tradings.
O AgFeed mostrou na semana passada os prejuízos bilionários que as empresas vêm registrando em função do contrato “take or pay” com as ferrovias.
Para 2025, Bertoni diz que as empresas estão comprando menos logística ferroviária no take or pay e devem comprar “muito mais no mercado spot”. Dessa forma, está difícil fazer uma previsão sobre uma eventual retomada no crescimento das exportações de milho, por exemplo. “É commodity, vai depender da oferta e demanda”.
De qualquer forma, o executivo diz que o orçamento do Consórcio Tegram para 2025 considerada que haverá uma recuperação, com pelo menos a retomada do volume visto em 2023, chegando a 15,5 milhões de toneladas.