Nem os ganhos da crescente integração das operações de Marfrig e BRF com a fusão das companhias aprovadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e nem o cenário positivo para o consumo brasileiro parecem ter convencido os analistas do Santander.
Em relatório divulgado nesta terça-feira, 9 de setembro, a instituição financeira aponta que, embora a fusão traga maior diversificação de portfólio, o grupo resultante terá alto nível de alavancagem e prejuízo já no primeiro ano de operação.
A estimativa do banco é que a MBRF encerre 2025 com uma dívida líquida de R$ 42,868 bilhões, alta de 12% sobre os R$ 38,280 bilhões de 2024, e que a companhia reverta o lucro de R$ 1,938 bilhão para prejuízo de R$ 2,393 bilhões. O Ebitda deve atingir R$ 13 bilhões em 2025, ligeiramente abaixo do resultado do ano anterior, de R$ 13,6 bilhões.
Com isso, o Santander manteve a recomendação neutra para os papéis da MBRF, com preço-alvo de R$ 20 por ação. Nesta quarta-feira, as ações da empresa foram negociadas em forte alta e encerraram o dia com ganho de 4,5%, em 23,75%.
A partir de 23 de setembro, as ações da Marfrig passarão a ser negociadas sob o novo ticker MBRF3 na B3, marcando o fim da negociação dos papéis da BRF no dia anterior.
O relatório destaca como riscos de queda a pressão mais longa do ciclo do gado nos Estados Unidos e no Brasil, a dificuldade em repassar custos mais altos da arroba, além da valorização do real, o que pressionará o endividamento.
Por outro lado, a expansão no segmento de alimentos processados e carnes premium no Brasil, assim como uma eventual depreciação cambial, podem gerar ganhos adicionais.
Marfrig e BRF concluíram a última etapa para a fusão entre as companhias, após receberem aprovação do Cade na última semana.
De acordo com os termos do acordo, cada ação da BRF será convertida em 0,8521 ação ordinária da Marfrig. Eventuais frações serão agrupadas e leiloadas na bolsa, com a distribuição proporcional dos recursos aos acionistas da BRF.
Outro ponto de alerta do Santander foi a robusta distribuição de dividendos a acionistas por parte das duas companhias antes do fechamento da operação. A BRF pagará R$ 3,32 bilhões em proventos, sendo R$ 1,83 por ação em dividendos e R$ 0,25 por ação em juros sobre capital próprio. Já a Marfrig anunciou a distribuição de R$ 2,35 bilhões, o equivalente a R$ 2,81 por ação.
A data de corte é 18 de setembro, com os pagamentos previstos para 29 de setembro (BRF) e 30 de setembro (Marfrig). As ações passam a ser negociadas ex-dividendos a partir de 19 de setembro.
Resumo
- Santander prevê prejuízo de R$ 2,39 bilhões para a MBRF já em 2025, revertendo lucro do ano anterior.
- Dívida líquida deve crescer 12% e alcançar R$ 42,8 bilhões, com Ebitda em leve queda, segundo o banco.
- Apesar da fusão Marfrig-BRF, banco mantém recomendação neutra e preço-alvo de R$ 20 por ação.