No caminho entre Ribeirão Preto e o Cerrado, caminhões da Rodonaves são figurinhas carimbadas nos períodos de plantio e colheita.
O que começou, em 2016, como uma operação pontual para atender um único cliente do setor agrícola, hoje tornou-se uma engrenagem relevante dentro do grupo fundado por João Naves há mais de quatro décadas.
E o agro, antes apenas um nicho no portfólio, virou uma verdadeira avenida de crescimento na companhia paulista. A RTE Agro, divisão criada para atender as demandas de transporte especializado do campo, ganhou corpo, e agora, prepara um novo avanço.
Depois de consolidar operações no eixo Sudeste–Centro-Oeste, a empresa mira o Matopiba, a última grande fronteira agrícola do país, com planos de ampliar bases, rotas e estruturas locais, segundo revelou Paulo Nogueira, diretor de Soluções Logísticas da Rodonaves.
“O agro é estratégico para nós. Crescemos de forma consistente e planejada, e a região do Matopiba é o próximo passo natural”, afirmou Paulo Nogueira, em entrevista ao AgFeed. Hoje, a divisão agrícola já representa entre 6% e 7% do faturamento total do grupo, e deve crescer mais de 30% em 2025, repetindo o ritmo registrado no último ano.
A operação movimenta atualmente entre 900 e mil carretas por semestre, atende três grandes frentes de transporte: insumos (defensivos e fertilizantes), maquinários e peças.
Embora o agronegócio ainda seja uma fração do portfólio da Rodonaves, a curva de expansão mostra o setor ganhando espaço. Em cinco anos, o peso da receita da vertical no bolo da empresa cresceu mais de cinco vezes dentro do grupo, saindo de 1% para o patamar atual.
Nogueira cita que o grupo como um todo dobrou de tamanho em faturamento no mesmo período. Com mais de 45 anos de estrada, a Rodonaves hoje cobre 5 mil cidades e 11 milhões de rotas de coletas e entregas.
O último ano completo em que a empresa divulgou seu faturamento foi 2022, quando teve R$ 2 bilhões em receita. Na época, falava em crescer o montante em 2023.
Na operação da RTE Agro, 70% dos embarques saem dos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, e a maior parte dos destinos está no Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul.
Um dos clientes da empresa é a Ourofino Agrociência, que utiliza os serviços da transportadora para distribuir sua linha de defensivos. A parceria foi iniciada em 2022, e ajudou a companhia a atingir novos mercados, como alguns estados do Norte e Nordeste.
A sazonalidade também dita os picos de demanda. O primeiro semestre concentra 30% das viagens no setor. De julho a dezembro, o período mais aquecido e de início de plantio marca o momento em que o produtor compra a cesta de insumos.
Depois da colheita, é a vez das peças e dos maquinários dominarem as rotas e o desafio do transporte é de sincronizar os fluxos.
O transporte da RTE Agro está dividido em um terço para cada uma das operações: insumos, maquinário e peças. “Não fazemos o transporte a granel. Os grãos demandam uma logística de espera nos portos que não é nosso know-how. Temos uma versatilidade grande nos veículos e implementos, desde carretas graneleiras, baú, pranchas e lockers”, disse o diretor.
A empresa tem utilizado as rodas de envio para “aproveitar” o retorno e transportar algodão para outras regiões. “No Centro-Oeste, retornamos carregados de pluma”, diz. A ideia para o crescimento é seguir conquistando clientes nessas três frentes e talvez trazer novas, como nutrição animal.
Nogueira explica que a logística dentro da Rodonaves é feita sob medida. Cada embarque tem rastreamento em tempo real, apólice feita por uma seguradora do próprio grupo e sensores que monitoram baús, portas e engates.
“Tombos, furtos, incêndios… sem contar que o mercado de defensivos tem um risco grande de roubo de cargas. Trabalhamos com uma apólice que inicia em R$ 4 milhões”, descreveu.
Na foto do momento, o agronegócio vive um compasso mais moderado e o setor de transportes sente a velocidade diferente. Nogueira cita que o ritmo de embarques mudou: os volumes continuam altos, só que mais diluídos ao longo do ano.
“O produtor está comprando em quantidades menores e com mais frequência. Isso aumenta o número de viagens, mas reduz a possibilidade de otimizar as cargas”, explica Nogueira. O movimento exige mais planejamento e encarece a operação, já que a empresa precisa manter frota e equipes ativas o tempo todo.
Neste ano, o cenário está mais desafiador. A alta dos juros encareceu o crédito e alongou os prazos de liberação para compra de máquinas, o que freou a renovação de frotas agrícolas, explica o diretor.
“Muitos clientes estão preferindo fazer manutenção do que substituir o maquinário. O crédito demora a ser liberado, e quando é, tem que encarar uma Selic a 15%”, afirmou. Em contrapartida, o aumento na área plantada de soja e milho promete compensar parte da desaceleração, segundo o diretor.
“Começou agora a chover e os produtores vão ter que plantar, então daqui a pouco começa o grande volume de transportes. Geralmente, a última semana do mês de outubro concentra os transportes. E vai ter uma falta de veículo no mercado”, prevê.
Resumo
- Projetando crescer 30% em 2025, a RTE Agro, divisão agrícola da Rodonaves, prepara expansão para o Matopiba
- Operação movimenta cerca de mil carretas por semestre, divididas entre transporte de insumos, peças e maquinários
- Transportes para o agronegócio ampliaram em cinco vezes sua participação na receita do grupo nos últimos cinco anos