Disposta a concentrar todas suas forças na cana-de açúcar e seus derivados, seu core business, a Raízen anunciou nesta quinta-feira, 4 de setembro, que está encerrando a joint venture que tinha com a Femsa, o Grupo Nós.

Não há pagamento envolvido na operação, mas sim uma divisão dos negócios da joint-venture entre as partes.

Com isso, segundo fato relevante divulgado no começo da manhã desta quinta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Raízen vai se desfazer de 611 lojas da rede Oxxo e do centro de distribuição da varejista, localizado em Cajamar (SP), que vão ficar sob controle da Femsa.

De origem mexicana, a Oxxo inaugurou sua primeira loja no Brasil em dezembro de 2020 e se expandiu rapidamente pelo estado de São Paulo desde então.

Apesar de ter se desfeito da Oxxo, o Raízen vai ficar, no entanto, com 1.256 lojas de conveniência Shell Select e Shell Café e seguirá desenvolvendo o negócio pelo modelo de franquias, integrado à rede de postos Shell.

Como parte do acordo, a Raízen informou ainda que o Grupo Nós continuará a prestar serviços de suprimentos e logística relacionados ao portfólio de produtos atualmente disponibilizado pelo seu CD, dentro de sua área de cobertura, para as lojas Shell Select.

A conclusão da operação ainda está sujeita a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), bem como ao cumprimento das demais condições precedentes estabelecidas nos contratos.

Esse é apenas mais um capítulo do processo de enxugamento da operação da Raízen, que está sendo executado ao longo deste ano, após a entrada de um novo CEO, Nelson Gomes, que chegou ao posto no fim de 2024 com a missão de estancar os prejuízos e o endividamento crescentes da companhia.

O downsizing, no entanto, não envolve apenas operações distantes do negócio de cana, caso da rede Oxxo, mas também abrange ativos da produção agrícola.

Dessa forma, na semana passada, por exemplo, a companhia anunciou a venda de duas usinas, ambas localizadas em Rio Brilhante (MS), à Cocal Agroindústria, por R$ 1,8 bilhão.

Antes disso, em julho, a Raízen já tinha anunciado o encerramento das operações da Usina Santa Elisa, histórica unidade produtiva de cana localizada em Sertãozinho (SP), e vendeu os ativos da operação por R$ 1,8 bilhão. A companhia avaliou que a Santa Elisa, usina inaugurada na década de 1930, hoje era um negócio deficitário.

E em fevereiro passado, em outro lance marcante, a companhia anunciou que iria congelar o projeto de implantar 20 usinas de etanol de segunda geração (E2G) até 2030.

Contudo, mesmo com os esforços para enxugar a operação, a própria Raízen admitiu em sua mais recente divulgação de resultados que os efeitos da transformação ainda vão demorar um pouco para aparecer.

Por enquanto, as perdas continuam: no balanço do primeiro trimestre do ano-safra, a empresa apresentou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão.

Além da reestruturação interna, as controladoras da Raízen, Cosan e Shell, também seguem à procura de um sócio minoritário para a companhia. Se esse movimento se concretizar, a tendência é de que a Cosan tenha sua participação diminuída na Raízen.

As conversas já teriam começado. Dois grupos japoneses, Mitsubishi e Mitsui, estariam na disputa para adquirir uma fatia da companhia, segundo informações divulgadas inicialmente pela agência de notícias Bloomberg e pelo jornal Valor Econômico. A Cosan deve receber até o início de outubro as propostas vinculantes.

Resumo

  • Raízen encerrou a joint-venture com a Femsa, que formava o Grupo NÓS, e repassou 611 lojas Oxxo e centro de distribuição à antiga parceira
  • Companhia segue em processo de enxugamento, com venda de usinas, encerramento de operações deficitárias e congelamento do projeto de E2G
  • Movimentação acontece enquanto Cosan e Shell buscam novo sócio minoritário para a Raízen, com Mitsubishi e Mitsui apontados como interessados