As grandes empresas do agronegócio têm multiplicado esforços para provar ao mercado internacional que estão comprometidas com a busca de uma agricultura de menor impacto ambiental, que ajude a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Algumas delas participaram nesta terça-feira do primeiro painel do World Agri-Tech South America Summit, na capital paulista, um dos principais eventos do ano quando a tarefa é aproximar multinacionais, agtechs e investidores.
Executivos das empresas Bayer, Louis Dreyfus (LDC), Rabobank e Minerva Foods defenderam ações conjuntas para que o Brasil siga avançando em práticas sustentáveis e na comunicação do que já está sendo feito. O painel teve a moderação da secretária de inovação e sustentabilidade do Ministério da Agricultura, Renata Miranda.
Após o debate, o AgFeed conversou com dois dos CEOs sobre os desafios para que o Brasil avance na descarbonização do planeta, atendendo exigências internacionais, com mudanças nas práticas agrícolas.
“Acredito que estamos no ritmo correto”, avaliou o CEO da Bayer no Brasil, Marcio Santos. O executivo disse estar otimista com a contribuição que a agricultura pode dar neste processo.
“Primeiro porque já temos técnicas de manejo extremamente sustentáveis e segundo porque a tecnologia permite que se use recursos hoje, que não se imaginava há 10 anos”, afirmou. Na visão de Santos, Imagens de satélite e blockchain, por exemplo, serão aladas para permitir a rastreabilidade dos produtos agrícolas.
Já o novo CEO da Louis Dreyfus no Brasil, Michel Roy, que assumiu na semana passada o cargo de “Head para o Norte da América Latina”, substituindo Murilo Parada, mostrou menos otimismo.
“Acho que o ritmo sempre poderia ser melhor, mas as exigências (globais) estão mudando também, por isso ressaltei aqui que temos que trabalhar juntos, não adianta fazer algo de um lado e a Europa não”, disse Roy.
Durante o painel, ele lembrou que a LDC tem buscado criar parcerias para atuar na sustentabilidade. Citou como exemplo iniciativa que a multinacional já possui com o Rabobank, para oferecer linhas de crédito atreladas a metas de sustentabilidade.
O CEO da Bayer, Marcio Santos, disse que o projeto da empresa chamado “Pro Carbono” demonstra que essa transição é possível.
“Nosso projeto já atingiu mais de 200 mil hectares, produzindo soja com baixa pegada de carbono, emitindo menos que a metade da média mundial de emissões. Agora o que precisamos é escalar”, afirmou.
O executivo admitiu, no entanto, que para dar escala será necessário um incentivo econômico, o que poderá ser viabilizado com a regulação do mercado de carbono. “Está andando, mas sabemos que leva tempo Acho que quando começar a andar o Brasil vai ser mais uma vez a grande potência nesse mercado”.
Sobre a possibilidade de pagar um prêmio pela soja de baixo carbono, em parceria com as tradings, Marcio Santos, disse que as conversas também estão andando, não apenas com a indústria, mas também com o setor intermediário, como redes varejistas.
“Mas como produtor rural defendo que a maior parte da remuneração vem do benefício direto da adoção dessas práticas, uma das fazendas do nosso projeto está conseguindo produtividades 25% acima da média, mesmo com problema climático. Quanto vale isso”, indagou.
Ainda assim, ao ser perguntado sobre a chance de haver um prêmio, a resposta foi “não quero vender excesso de otimismo, veremos coisas nessa direção em breve”.
Santos lembrou que na Argentina um acordo entre Bayer e Viterra (companhia que foi comprada pela Bunge, mas ainda aguarda as aprovações finais, globalmente) já está pagando um diferencial de preço para a soja produzida dentro de um programa para a redução das emissões de carbono.
Já o CEO da Louis Dreyfus, ao conversar com o AgFeed sobre o eventual prêmio financeiro para produtos agrícolas de baixo carbono, foi mais pessimista.
“Ninguém quer fazer um trabalho a mais de graça, nós também queremos ganhar mais, o produtor quer ganhar mais. Mas por enquanto o consumidor lá fora não quer pagar., então fica difícil, no final a equação não fecha”, disse Michel Roy.
Na visão do executivo da LDC, o consumidor europeu, especificamente, quer um produto mais sustentável, mas não se mostra disposto a pagar por isso. “Nós temos exigências cada vez maiores de certificações, de rastreabilidade, mas no transcorrer da cadeia toda a conta não fecha”.
A solução, segundo ele, é seguir buscando uma colaboração na cadeia, trabalhando junto e com transparência, “para mostrar que estamos vivendo novos tempos”.
Mercado desafiador
Sobre o atual momento de mercado, nenhum dos executivos quis apostar em melhora para os grãos ainda em 2024.
“O ano começou desafiador e segue desafiador, se será melhor ou não, só saberemos lá no final”, afirmou Marcio Santos, da Bayer.
Sobre o mercado da soja, Michel Roy, da LDC, lembrou que os últimos três anos foram extraordinários e que isso levou ao cenário de sobre oferta. “Agora temos que lidar com isso, se continuasse naquele preço, o produtor brasileiro continuaria aumentando a produção, já o consumidor que pagou caro nos últimos anos, agora está vendo uma melhora”.
Na visão dele, “a pressão sobre a soja deve continuar”, considerando que a safra da Argentina mais que supriu a quebra no Brasil e que a produção dos Estados Unidos dá sinais de que será “muito boa”.
Neste cenário, Michel Roy disse ao AgFeed que a LDC vai manter sua estratégia de seguir diversificando os segmentos de atuação. “Comparado aos ABCDs (como é chamado o grupo de tradings ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus), a nossa empresa é mais diversificada, temos café, suco de laranja, algodão, continuamos diversificando não apenas em matérias-primas mas tentando achar produtos de maior valor agregado”.
Como no mercado de commodities os ciclos são muito grandes, o executivo diz que “com o produto de maior valor agregado a empresa tenta ter uma previsibilidade melhor dos resultados”.
Ele admite que a empresa está pronta para “potencialmente entrar em outros mercados, desde que tenham a ver com agricultura”.
O CEO mencionou uma presença maior em fibras e uma plataforma lançada há dois anos chamada “feed and food solutions”, além de uma plataforma de carbono. Disse que iniciativas como agricultura regenerativa e créditos de carbono ficarão todas no pilar de sustentabilidade e “embaixo de uma pessoa só, já que são vasos comunicantes”.
Na Bayer, Marcio Santos também destacou o bom desempenho este ano das culturas perenes, como café e cana, que representam um quarto do mercado. “Estes cultivos estão nos melhores momentos da história”.
Já em cereais, como soja e milho, ele diz que ainda se vive um momento de ajuste, que o setor é feito de ciclos “há 100 anos”, e que ainda acredita em um ano positivo para o setor.