É comum que empresas do agronegócio tenham espalhados pelo Brasil os chamados “campos experimentais”, talhões de propriedades agrícolas ou mesmo de instituições de pesquisa, onde se testa variedades de sementes, moléculas de agroquímicos e outras inovações.
No caso da multinacional indiana UPL – que passou a ocupar o quinto lugar no ranking entre as maiores empresas de defensivos agrícolas do mundo depois da compra da Arysta por US$ 4,2 bilhões, em 2019 –, a estratégia no Brasil foi diferente.
Aqui, a opção foi criar uma nova companhia, em que a UPL ficou com 45% das ações e outros 55% pertencem a um fundo de investimentos, chamado IBI.
Batizada de OpenAg Farm, a empresa tem como principal ativo uma fazenda que antes pertencia ao grupo de distribuição de insumos Sinagro, do qual a UPL passou a ser acionista em 2015.
E o mais curioso: um dos acionistas do IBI é o empresário Carlos Pellicer, que já ocupou diversos cargos executivos na UPL, até o início deste ano era COO Global de Estratégia da empresa, e agora é o Chairman da OpenAg Farm.
Na prática, porém, a governança prevê que a UPL faça a gestão e utilize o trabalho realizado na fazenda não apenas para testar produtos - muitos deles desenvolvidos dentro do programa global de inovação aberta da empresa, chamado justamente de OpenaAg -, mas também para ter um feedback mais assertivo de quais são as "dores” dos produtores rurais.
São ao todo 21,8 mil hectares de lavouras, com destaque para soja (8,3 mil ha), algodão (6,3 mil ha) e milho (4,8 mil ha), além de áreas de milho semente e sorgo.
Ao longo das três colheitas já realizadas na fazenda desde que o projeto foi iniciado, o CEO da OpenAg Farm diz que diversos insights estão ajudando a UPL a expandir sua base de clientes e criar novos mercados para produtos que já estavam no portfólio.
"Um exemplo disso foi o sucesso que obtivemos ao usar o produto 'Omite' no manejo de ácaro, no algodão”, diz Menezes, “porque chamou a atenção das fazendas vizinhas que vieram olhar e saber qual era o segredo”.
Ele conta que, a partir disso, o produto que até então não era utilizado pelos cotonicultores da região ganhou fatia expressiva no mercado do Cerrado. O mesmo teria ocorrido com determinados fungicidas e práticas agrícolas.
Menezes é um entusiasta dos biológicos. Segundo ele, na OpenAg Farm hoje quase 30% dos insumos são biodefensivos, biofertilizantes ou bioestimulantes, um percentual que deve seguir crescendo.
"Acredito que no mercado como um todo há potencial para, futuramente, a agricultura utilizar 30% de químicos e 70% de biológicos", prevê.
As pesquisas com agricultura regenerativa também devem se intensificar por meio, principalmente, de um trabalho focado em outra área, a Fazenda Progresso, com 766 hectares, a maior parte irrigados.
Por lá serão feitos experimentos com rotação de culturas e medições de carbono, já que a empresa está ingressando no projeto Soja de Baixo Carbono, da Embrapa.
Próximas fases do projeto
Valdenir Menezes explica que o cultivo e a comercialização dos produtos agrícolas são a principal fonte de receita da OpenAg Farm, que já anda com as próprias pernas, gerando lucro aos acionistas.
A fase de produção agrícola, com pesquisas em campo e validação de produtos, foi a primeira do projeto, diz o CEO.
O valor do faturamento não é revelado, mas segundo ele, a margem ebitda está entre 25% e 35%. Ao todo, a OpenAg Farm tem 270 colaboradores e tem como principal despesa, também, o custeio das lavouras.
"O lucro que é gerado é reinvestido no próprio projeto”, afirma. Um exemplo disso é a decisão de plantar 7 mil hectares a mais no prazo de 3 anos em outras regiões de Mato Grosso, no que seria uma terceira fase do projeto. A compra das terras será financiada com o lucro já obtido até agora.
Futuramente, o OpenAg chegará a outros estados e também a outras culturas, não apenas grãos e fibras. Este é considerado o terceiro pilar da OpenAg.
O segundo pilar do OpenAg Farm no Brasil será a construção de um centro de treinamento de mais de 3 mil metros quadrados, em Primavera do Leste-MT. Esta etapa prevê investimento de pelo menos US$ 2 milhões para que o centro esteja operacional no prazo de dois anos.
"Será praticamente um centro de convenções e capacitação, que também poderá servir de aceleradora, para reunir startups”, destacou o executivo.
Mais adiante, também está nos planos ter uma unidade semelhante ao primeiro projeto brasileiro em outro país. "Estados Unidos pode ser uma possibilidade, afinal a UPL tem uma grande estrutura em Atlanta”, disse Menezes, evitando dar mais detalhes.
Ainda no cenário futuro, Valdenir Menezes revelou que devem ser fechadas parcerias com empresas de soluções tecnológicas como SAP e Totvs. “Será talvez uma nova fase, em que poderemos quem sabe abrir para a presença de mais fundos de investimento", afirmou ele.