No Brasil, há uma estimativa que diz que cerca de 90% das empresas do setor de agronegócios são familiares. Por isso, muitas vezes, o empresário Vinicius Paiano, 37, dono e fundador da FertMinas, afirma que se sente um pato fora d’água: sua família não é do setor. Ao contrário, todos eram empregados CLT de companhias que nada tinham a ver com agricultura ou pecuária.

“Muita gente fica desconfiada por eu não ter raiz no agro, não ser conhecido, mas isso logo passa”, diz o engenheiro de produção que fundou, em 2017, a FertMinas, empresa de aditivos para aumento de performance dos fertilizantes, um nicho bem específico do setor.

Natural do Paraná, Paiano mora em Uberaba, onde começou a empreender logo depois de se formar em engenharia de produção. Começou sua primeira empresa comprando um caminhão, para fazer junto com o pai transporte de fertilizantes – uma vez que a região do Triângulo Mineiro concentra algumas grandes companhias da área, como a unidade brasileira do Grupo Haifa, de Israel, líder mundial na produção de nitrato de potássio, a NT Fertilizantes, a Mosaic e a Vigor.

Ao ter mais contato com as empresas do setor, como operador logístico, Paiano notou que havia muitas "falhas de atendimento" e de inovação nesse setor.

“Vi que faltavam produtos melhores, mais inovadores e que muitas vezes os empresários desse segmento não eram muito afeitos à novidades”, diz ele. “Isso acontece em muitos setores. Os empresários só apostam no que já deu certo.”

Paiano, então, decidiu arriscar. Foi atrás de pessoas que entendiam de química, de fertilizantes e criou, há oito anos, a FertMinas. “Doei a empresa de logística para meu pai, que já era meu sócio, e comecei nesse mundo novo”, conta ele.

O carro chefe de vendas da companhia, que concorre com multinacionais como a americana Adfert e a gaúcha NaqGlobal, é o Eco-Coat, um aditivo que reduz a poeira no manejo dos fertilizantes e também impede a aglomeração do produto.

As vendas da FertMinas devem somar R$ 130 milhões este ano. A previsão para 2026 é de um crescimento para R$ 180 milhões.

Para dar esse salto de 28% nas vendas, ele quer aumentar o número de clientes – e também o porte deles. “A gente tem focado muito em pequenas e médias indústrias. Mas o mercado de fertilizantes vem crescendo bastante e decidimos que é hora de focar em companhias maiores, como Eurochem e Mosaic”, diz Paiano.

No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 10,5% nas entregas totais de fertilizantes em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

Apenas em junho, o setor entregou 4,31 milhões de toneladas, crescimento de 7,2% em comparação ao mesmo mês do ano anterior, segundo a Anda, indicando que o setor está se preparando para a próxima safra de grãos.

A FertMinas quer acompanhar esse crescimento. “Já temos um certo nome no mercado, então temos que estreitar o relacionamento com essas empresas maiores”, diz Paiano, que investe na formação de seus times de venda com treinamento.

Para o empresário, o crescimento vai ser orgânico e com pé no chão. A FertMinas nunca recebeu aporte de investidores ou fez grandes empréstimos. Tudo que a companhia lucra é reinvestido no negócio.

“Meu objetivo é fazer a empresa ficar cada vez mais conhecida no setor, por isso a gente faz ações como patrocinar o Congresso da Anda”, disse ele, referindo-se ao 12º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, ocorrido em São Paulo no início de setembro.

Essas ocasiões de encontros do setor, segundo ele, são grandes oportunidades para se aproximar de executivos de companhias maiores.

Além de empresas no Brasil, a FertMinas atende companhias dos Estados Unidos, Canadá, Marrocos, Guatemala, China e França.

“Já chegamos a ter metade do nosso faturamento vindo dos Estados Unidos. Mas por sorte, outros compradores de outros países foram ocupando essa fatia, pouco antes da implementação do tarifaço do presidente dos EUA Donald Trump, em agosto. Hoje, os americanos são 10% das vendas, mas outros mercados estão ganhando mais relevância para nós”, diz o empreendedor.

Resumo

  • Fundada em 2017, FertMinas cresceu no nicho de aditivos para fertilizantes e projeta R$ 180 milhões em vendas até 2026
  • Empresa mira grandes companhias como Eurochem e Mosaic após consolidar presença entre pequenas e médias indústrias
  • Negócio se mantém com crescimento orgânico, reinvestindo lucros e expandindo atuação internacional