Novo presidente, nova estratégia, mas o mesmo sobrenome. Na gaúcha FertiSystem, 2023 ficará marcado como o ano da troca de comando entre gerações da família Martins. O fundador, Evandro, cede a cadeira CEO para o filho, Daniel.

E lhe entrega uma missão: abrir novos caminhos para os dosadores de adubos para plantadeiras e semeadoras, produtos que deram notoriedade à empresa, no exterior. “Hoje, as exportações representam de 8% a 10% das nossas vendas”, conta Martins pai, também presidente da Tecnoagro, Associação Parque Tecnológico do Agronegócio, em Passo Fundo (RS).

Números de receita e faturamento são guardados a sete chaves pelo empresário, que se manterá ativo e presente como presidente do Conselho de Administração da empresa. O dado que ele exibe sem hesitação é o de dosadores produzidos. “Já vendemos 1,5 milhões de unidades desde a fundação, em 2002”, conta.

No Brasil, a companhia fornece suas peças para cerca de 90% dos fabricantes de máquinas, incluindo nomes como Massey Ferguson e New Holland. Lá fora, elas já equipam máquinas em alguns países na Europa e na África do Sul.

O principal foco da gestão Daniel será no mercado americano. “Já temos uma parceria com a fabricante Case para desenvolver um produto voltado para o mercado dos Estados Unidos”, conta o fundador.

Evandro Martins explica que foi necessário realizar um estudo para adaptar os dosadores fabricados pela FertiSystem para o tipo de adubo utilizado pelos produtores americanos. Agora, o projeto já está em fase final.

O processo de sucessão também está bem adiantado, com a segunda geração já atuando em diferentes áreas da empresa. Além de Daniel no cargo de CEO, as filhas Mariana e Milena assumiram o Marketing e a Gestão de Pessoas, respectivamente.

“Eu fico como presidente do conselho, e a partir de agora fico mais na parte de Pesquisa e Desenvolvimento, testando novas tecnologias e aperfeiçoando os produtos que já temos”, diz Martins.

O processo de sucessão, afirma Martins, traz mudanças profundas, até mesmo quando se trata da filosofia por trás da atividade. “Somente para definir nossos novos padrões de valores, foram três meses de reunião que resultaram em um documento de 52 páginas”.

A troca de comando acontece em um momento desafiador para o setor de máquinas e implementos agrícolas, já que a queda nos preços internacionais dos grãos tem tirado o apetite dos produtores por novos investimentos.

“Nos últimos anos, crescemos entre 12% e 15%. O ano passado foi mais difícil, após a volta da pandemia. E em 2023, não projetamos crescimento, devemos repetir os resultados de 2022”, diz Martins.

No longo prazo, no entanto, ele aposta no crescimento da área plantada, e na relevância que o processo de plantio tem nos custos de produção.

“O plantio representa cerca de 70% do custo total de uma lavoura. Os nossos produtos permitem uma diminuição de até 14% no uso de insumos, algo que faz muita diferença na hora de contabilizar as despesas”, conta o empresário.

Para continuar relevante, a companhia aposta muito no desenvolvimento de novas tecnologias. “Temos uma área de 140 hectares só para fazer testes. Estamos sempre testando novos produtos em parceria com o Instituto Senai, com a Embrapa”.

Uma das grandes apostas da FertiSystem está em soluções eletrônicas, voltadas também para máquinas com motores elétricos. “Desenvolvemos um sistema de comunicação digital com os motores elétricos, para uma dosagem mais eficiente”, diz Martins.

A FertiSystem não vislumbra a entrada de investidores neste momento. “Com a reestruturação, queremos reforçar o perfil de empresa familiar. Alguns investidores já nos procuraram, mas nem abrimos conversas”. É a vez da nova geração mostrar a que veio.