Novas estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgadas nesta quinta-feira, dia 12 de junho, reforçaram a tendência de uma safra de milho bastante positiva, com a entrada da segunda safra, que já começou a ser colhida pelos produtores de diferentes regiões do Brasil.

A expectativa de uma grande oferta de grãos está fazendo as cotações do milho recuarem nas últimas semanas, segundo analistas ouvidos pelo AgFeed, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos podem ter uma safra recorde e que o Brasil convive com focos de gripe aviária que, por enquanto, não estão atingindo o mercado de milho.

A projeção da Conab é de que a safrinha de milho atinja nesta temporada a marca de 101 milhões de toneladas colhidas, montante que representa um crescimento de 12,2% em relação ao mesmo período da safra 2023/2024. A produção total está estimada em 128,3 milhões de toneladas, 12,8 milhões a mais do que na temporada anterior.

O USDA, por sua vez, manteve sua projeção para a safra de milho no Brasil, estimada em 131 milhões de toneladas, e elevou a projeção global para 1,27 bilhão de toneladas, leve alta de 0,1% em relação ao último levantamento, divulgado em maio.

Já o IBGE estima uma produção de milho de 130,8 milhões de toneladas neste ciclo, alta de 14,1% em relação à safra anterior. Para a safrinha, a projeção é de uma produção de 104,9 milhões de toneladas. Os dados constam no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, divulgado mensalmente pelo instituto federal.

Com uma grande oferta de milho esperada no campo, as cotações do grão têm recuado nos últimos meses. De acordo com o indicador do Cepea, os preços estão no momento na faixa de R$ 67 por saca, bem mais baixos do que na fase de plantio, entre fevereiro e março, mês em que chegou a bater um pico de R$ 89.

Analistas ouvidos pelo AgFeed explicam que o movimento é sazonal e já esperado dada a grande quantidade de milho safrinha que está sendo produzida.

“Somando a entrada da safrinha com uma produção de verão que foi boa também, estamos vendo uma produção maior no Brasil, e que tem pesado nos preços”, diz Luiz Fernando Gutierrez Roque, coordenador de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.

A casa espera que o milho atinja, nesta safra, uma produção de 131 milhões de toneladas, volume que tem viés de alta, segundo Gutierrez.

“As lavouras, algumas no momento pré-colheita e outras iniciando a colheita em alguns estados, estão muito boas. É uma safrinha com uma produtividade boa, com uma produção boa, acima das estimativas iniciais”, diz o analista.

Por essa razão, os preços não devem mudar de nível por ora, na avaliação dele. “De uma forma geral, o ambiente é um pouco mais negativo para o mercado interno diante dessa safrinha que está entrando e da produção grande no País”, afirma.

Raphael Bulascoschi, analista de mercado da StoneX, tem opinião semelhante e lembra que os preços já vêm em queda nos últimos dois meses.

“Daqui em diante, não há nada que aponte para uma recuperação significativa dos preços. Devemos continuar vendo os preços mais pressionados. Historicamente, o preço de R$ 65 não é absurdamente baixo, tem espaço para cair até um pouco mais”, afirma o analista, citando ainda que praças de Mato Grosso já estavam negociando o milho a R$ 55 na semana passada.

A StoneX projeta uma produção de 106,1 milhões de toneladas de milho na safrinha e de 133,9 milhões de toneladas na safra com um todo.

Na Céleres, o analista Enilson Nogueira também espera que o volume de produção pressione um pouco mais as cotações. “Principalmente no interior, Mato Grosso, Goiás, que é onde acaba tendo o maior volume colhido entre junho, julho e agosto”, afirma.

A projeção da Céleres é de 108 milhões de toneladas para a safrinha, com viés de alta, e com 138 milhões de toneladas para a safra de milho como um todo.

Exportações e gripe aviária

Os analistas avaliam que a gripe aviária, hoje com três focos no País e outros dez casos suspeitos em análise, não tem afetado os preços do milho até o momento, ainda que uma possível escalada de casos possa começar a impactar negativamente o mercado.

“Até o momento, não vislumbramos nenhum grande problema relacionado à gripe aviária, sem impacto importante ou relevante com relação à demanda por enquanto”, avalia Luiz Gutierrez, da Hedgepoint Global Markets.

“É um ponto de atenção, se o negócio escalar, ele vai se manifestar, mas não vemos muito efeito até agora”, complementa Raphael Bulascoschi, da StoneX.

“Se tivermos outros focos, poderemos ter novos desdobramentos. Mas, se não tivermos novos focos, não vejo impacto grande na cadeia de proteínas nem uma possível diminuição na demanda de ração animal”, diz Enilson Nogueira, da Céleres.

Outro ponto de atenção é o volume de exportação e a situação da safra concorrentes do milho brasileiro como os Estados Unidos, maior produtor do grão no mundo, e a Argentina.

O USDA projetou que a safra americana de milho deve alcançar uma produção de 401,85 milhões de toneladas, 6,4% superior às 377,63 milhões da safra 2024/2025. Para a Argentina, a perspectiva do USDA é de uma produção de 53 milhões de toneladas de milho, com 37 milhões de toneladas do total correspondendo às exportações.

Por mais que a safra americana ainda esteja no plantio, Raphael Bulacoschi, da StoneX, projeta que o ciclo seja positivo, o que pode trazer viés baixista para os preços no Brasil.

“O desenvolvimento da safra e o clima poderão determinar os níveis de produtividade do milho americano, e vamos ver esse número mudando, mas tudo indica, até o momento, que haverá uma safra muito boa por lá. Se os Estados Unidos estão com uma safra excelente, ele vai conseguir exportar também em níveis excelentes e isso traz uma pressão para as exportações brasileiras”, diz o analista.

Luiz Gutierrez, da Hedgepoint, tem opinião parecida. “Vai depender muito da competição entre Estados Unidos e Argentina. A gente pode ter um ambiente um pouquinho melhor ali na frente, com estoques um pouco menos amplos ou um pouco mais apertados”, afirma.

No levantamento desta quinta-feira, a Conab manteve a estimativa de exportação de milho em 34 milhões de toneladas, abaixo das 38,5 milhões da temporada anterior, “em razão do aumento consistente da demanda interna por milho e da consequente diminuição da oferta disponível para o mercado internacional".

Enilson Nogueira acredita, no entanto, que o excedente de produção de milho no Brasil pode fazer com que o país ultrapasse a marca de 40 milhões de toneladas de milho exportadas nesta safra.

“Também temos visto os preços no mercado interno caminhando para paridade de exportação e é provável que consigamos ultrapassar a barreira de 40 milhões, mesmo com o aumento de área plantada nos Estados Unidos.”

 

Resumo

  • A entrada do milho safrinha, com colheita já iniciada em várias regiões e bons resultados, está puxando os preços do grão para baixo, com cotações já na faixa de R$ 67, contra R$ 89 no pico do plantio, pelo indicador Cepea
  • Apesar de alguns focos de gripe aviária no País, analistas indicam que ainda não há impacto relevante sobre a demanda por milho, mas seguem atentos a uma possível escalada dos casos
  • Com a tendência de uma safra robusta também nos EUA, o cenário internacional pode vir a pressionar as exportações e o preço do grão brasileiro, segundo os analistas