As dificuldades das fabricantes de insumos mostram que ainda não tem prazo para acabar e nem mesmo setores em expansão, como a indústria de biológicos, escapam das adversidades de 2024.
A empresa de insumos agrícolas Vittia registrou prejuízo líquido de R$ 17,7 milhões no segundo trimestre, 21,6% acima do prejuízo de R$ 14,6 milhões registrado no mesmo período de 2023.
Em linha com esse resultado, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado caiu 2,6% na base anual, ficando negativo em R$ 18,1 milhões. Um ano antes, o indicador ficou negativo em R$ 18,5 milhões.
No trimestre, a margem Ebitda ajustada também foi negativa, de 18,1%, acima do resultado também negativo de 25,5%, o que representa melhora em 7,4 pontos percentuais no comparativo anual.
Em conversa com o AgFeed, o CFO da Vittia, Alexandre Frizzo, destacou que, pela sazonalidade, esse é um trimestre que costuma ser “muito fraco” para a empresa.
“No ano passado, esse trimestre representou 10% do faturamento do ano. É fim de safra, justamente o período de transição, em que não acontece, de forma geral, agricultura no País”, disse.
Além disso, o executivo reforça que houve um “peso grande” das despesas operacionais nos resultados. “A gente mantém uma estrutura fixa durante o ano inteiro, independentemente do faturamento ali, mês a mês”, comentou. As despesas operacionais aumentaram em 18,1% de abril a junho, para R$ 43,6 milhões.
Frizzo acrescentou que os resultados também foram impactados pela provisão, de R$ 3,1 milhões no trimestre. Ele explicou que, no ano passado, o primeiro trimestre foi positivo e, a partir do segundo, as condições começaram a mudar para o agronegócio. A Vittia vem apresentando queda nos lucros desde o começo de 2023, contabilizando prejuízo no período de abril a junho deste e do último ano.
“Foi quando a gente começou a ter excesso de oferta de grãos, os preços caíram e começamos a ter uma demanda muito mais difícil para os nossos insumos. Portanto, a expectativa para o ano reverteu de positiva para negativa. A partir do momento em que a gente não estava com uma expectativa positiva para o ano, de atingir as nossas metas, revertemos uma parte dessa provisão”, destacou.
Receita de biológicos dispara
O lucro bruto da Vittia avançou 46,2%, para R$ 17,3 milhões entre abril e junho. Outro indicador que também apresentou crescimento foi a receita líquida, de 37,3% ante um ano antes, ao somar R$ 99,9 milhões com todas as linhas de produtos da companhia faturando mais no trimestre.
A maior participação na receita líquida foi nas linhas de fertilizantes foliares e de produtos industriais que, juntas, faturaram R$ 42,3 milhões, crescimento de 42,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Porém, o destaque do trimestre foi o resultado da linha de produtos biológicos (biodefensivos e inoculantes), em que a receita disparou 73,8%, somando R$ 15,7 milhões.
O CFO da Vittia observou que o segmento não vinha apresentando crescimento, mas vê que produtores estão com uma aceitação maior desta linha de produtos. “Tem a ver com a nossa estratégia de focar na linha de produtos biológicos. Viramos referência nesses produtos”, reforçou.
Nem tudo está perdido
O executivo da companhia comenta que os resultados do terceiro trimestre até este mês mostram um cenário mais positivo do que o visto no ano passado, mesmo sendo desafiador para a safra 2024/2025.
“Frente ao cenário de grande ajuste da safra 2023/2024, estamos vendo uma melhora. Estamos saindo daquele momento mais complicado do ajuste e começamos a entrar em um mercado mais estabilizado, com preços menos voláteis do que há um ano”, avaliou.
O executivo da fabricante de insumos ponderou que, desta forma, caso a empresa continue apresentando crescimento acima das despesas, a Vittia deverá encerrar 2024 com crescimento de receita e de Ebitda. “De lucro, provavelmente não. É um ano difícil, mas de recuperação frente ao ano passado para a indústria de insumos”, adiantou.
Apesar do prejuízo líquido, a Vittia reduziu a dívida líquida para R$ 119,1 milhões ao fim de junho, montante abaixo dos R$ 173,1 milhões reportados no fim do primeiro trimestre. Desta forma, a alavancagem financeira (relação entre dívida líquida e Ebitda) atingiu 1,18x, contra 1,70x ao fim do trimestre terminado em março.
“Conseguimos reduzir o endividamento mesmo em um ambiente desafiador de inadimplência, no qual tivemos recorde de pedidos de recuperação judicial no setor. Mas tivemos um recebimento bem satisfatório, o que não tem sido a regra no mercado. Além disso, reduzimos a dívida mesmo com um montante muito grande sendo destinado a pagamentos, dividendos e recompra de ações”, finalizou.