Desde sua fundação em 2019, a AgriConnection levou o mote do setor “distribuição de insumos” à risca no modelo de negócio.
A companhia se posicionou como uma intermediária entre os fabricantes de insumos, sobretudo em países como China e Índia, e a ponta "de varejo", que inclui cooperativas, revendas e distribuidoras.
Essa operação movimentou R$ 1,5 bilhão em 2023, R$ 1,8 bilhão em 2024 e em 2025 mira superar a marca de R$ 2,1 bilhões, segundo revelou o CEO e fundador da empresa, Flavio Mata, ao AgFeed.
A nova meta chega, no entanto, acompanhada de um plano mais ambicioso: deixar de ser apenas uma importadora e ponte logística comercial para virar também desenvolvedora de produtos e facilitadora de crédito.
“Nosso modelo sempre foi eficiente no acesso ao mercado. Agora, queremos plugar inovação nisso”, afirmou Mata durante conversa com a reportagem na edição 2025 do Congresso Andav.
Na prática, o crescimento da AgriConnection entra em uma nova fase, com a construção de um portfólio próprio de defensivos, o investimento em alianças com empresas de P&D e a criação de uma área regulatória capaz de registrar, submeter e até comprar moléculas.
“Temos 250 rótulos de importação. Mas agora a gente quer migrar para um segundo nível, que é o das marcas próprias”, diz o CEO.
“A gente começou com representação, depois passou à importação. Agora a gente vem com essa segunda fase que costumo fazer uma analogia de que vamos sair da série B e começar a jogar a série A”, detalha.
Mata conta que a empresa montou uma área regulatória, e que esses registros serão oriundos de aquisições, submissões e alianças.
“A AgriConnection se tornou um modelo de acesso a mercado que antes era mais utilizado por empresas de genéricos. Hoje, companhias de P&D, que antes só acessavam o mercado via multinacionais, passam a ter outro acesso”, resume a estratégia.
Um dos primeiros passos dessa atuação se dá a partir de uma parceria com a belga GlobalChem, empresa focada em pesquisa e desenvolvimento e origem dos primeiros produtos exclusivos da marca AgriConnection.
Mata cita que a parceira tem um portfólio de misturas, novas formulações e combinações de ativos, e que um dos primeiros produtos dessa junção que chegará ao mercado atuará contra o bicudo do algodão.
Flavio Mata prefere não abrir o tamanho do investimento para essa nova vertical, citando apenas que “é um valor alto para uma empresa do porte da AgriConnection”.
“O portfólio próprio tende a ser o futuro da AgriConnection. Ter esses produtos com novas misturas, novas moléculas e tecnologias que realmente vão trazer uma diferenciação no acesso ao mercado”, afirma.
A companhia até então se especializou em distribuir - e agora atuar com portfólio próprio -, produtos voltados à proteção de cultivos, principalmente químicos, mas também com alguns biológicos. Essa gama deve continuar a ser o carro-chefe da empresa.
Apesar disso, a estratégia vai além, com outros produtos e serviços entrando nessa engrenagem comercial. O executivo cita que a companhia já está distribuindo também fertilizantes, ainda num modelo 100% focado na representação.
“Começamos neste ano com esse modelo, que coloca o fertilizante como uma ferramenta de negócio. Uma moeda de troca, um complemento que acaba fidelizando o cliente. A gente está muito satisfeito com o piloto, que surpreendeu bem as nossas expectativas”, contou.
A AgriConnection ainda cogita plugar a esse ecossistema a venda de sementes, mas para isso, Mata cita que é algo para acontecer quando a empresa atingir outro nível de maturidade.
A empresa tem sede no Mato Grosso, mas já possui presença em todo o País, segundo o CEO. A maior parte das transações vem de produtos para soja, milho e algodão, mas a companhia tem ganho mercado também na cana-de-açúcar.
“Ainda estamos no início e por isso há muita chance de crescimento. Essa estratégia nova de portfólio próprio engloba a missão de buscar produtos para a cana para crescer ainda mais, bem como em café e citrus, que também temos presença pequena”, disse.
A vertente financeira
Com o novo momento do negócio, a AgriConnection deve também turbinar uma vertical financeira.
Até agora, a empresa manteve uma relação com o mercado financeiro para seu autofinanciamento. Além de parceria com bancos, a empresa tem um fundo fechado de R$ 114 milhões administrado pelo Banco Fator que serve para dar liquidez à operação da empresa.
Agora, vendendo insumos verticalizados, Mata revelou que a companhia vai também atuar como credora para os compradores de seus produtos.
“A gente ainda está fazendo uma coleta de demanda para saber o tamanho. Tem cliente que precisa de R$ 20 milhões, outro R$ 10 milhões, outro R$ 30 milhões. Então estamos coletando a demanda para unificar e captar o recurso. Não consigo precisar o tamanho, mas com certeza será maior do que o de R$ 100 milhões”, afirmou.
Até agora, ainda dentro do modelo de intermediador, a inadimplência da empresa é baixa, em 0,17% segundo o CEO. “Nossa inadimplência é auditada pela KPMG e é uma das menores do mercado. Isso é um selo que nos credencia a ter acesso a um crédito competitivo no mercado”, citou Mata.
“Construímos essa relação de crédito pensando na estrutura de crescimento da AgriConnection, mas nessa nova fase que estamos falando, vamos pegar a expertise que a gente fez de construção de crédito para a própria empresa e levar para os nossos parceiros”, finalizou o CEO.
Resumo
- AgriConnection projeta transacionar mais de R$ 2,1 bilhões em 2025, ao mesmo tempo em que estrutura um portfólio próprio de defensivos
- Companhia investe em alianças com empresas de P&D, entra em fertilizantes como moeda de troca e vai lançar fundos para financiar clientes
- Fundada em 2019, empresa mantém inadimplência de 0,17% e agora quer usar sua estrutura financeira para conceder crédito também a parceiros