Holambra (SP) - Ligado ao combate “saudável” de pragas e doenças das lavouras, o uso de defensivos biológicos teria um caminho aberto para crescer em hortifrútis, já que a maior parte dos alimentos produzidos no setor é consumida com pouco ou sem qualquer tipo de processamento.

Mas, ao contrário, essa linha de produtos ainda engatinha e perde de lavada para os insumos químicos no mercado. Os motivos vão desde a maior eficiência e a segurança dos defensivos químicos para o consumo humano até o demorado tempo de pesquisa para a obtenção de um novo produto.

Outro fator é a menor eficiência ou demora de ação de um biológico aplicado sozinho na planta e em um produto sensível e perecível como um hortifrúti, que necessita de uma ação rápida de combate. A avaliação é de representantes de grandes empresas de defensivos agrícolas ouvidos pelo AgFeed durante a 30ª Hortitec.

O tamanho da feira, realizada em Holambra (SP), comprova a força desse setor agrícola, que demanda bilhões de reais em insumos, mas parece caminhar paralelamente ao agronegócio de grandes culturas.

São 520 expositores - com fila de espera para as próximas edições - 32 mil visitantes e R$ 600 milhões movimentados em três dias de evento, entre quarta-feira, 25 de junho, e sexta-feira, 27 de junho.

O Brasil é o terceiro maior produtor e consumidor global de hortifrútis, mas os dados são poucos. Segundo estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) a partir de dados do censos agrícolas, o Valor Bruto de Produção do setor supera R$ 84,2 bilhões e a área cultivada supera 4,2 milhões de hectares.

“O setor de HF (hortifrútis) no Brasil, com culturas espalhadas em todos os cantos, em termo de valor é maior que todo o mercado agro europeu, o que mostra a importância do setor para a companhia”, disse o gerente de marketing regional da Ihara, Fernando Gilioli.

A companhia adquiriu este ano a Innova, empresa que tem em seu portfólio defensivos biológicos e que serão negociados pela Ihara, mesmo se a estratégia prever a manutenção das duas marcas separadas.

Para Gilioli, no entanto, dificilmente o produtor vai ter, principalmente em culturas perecíveis como as de hortifrútis, bons resultados só utilizando biológicos. “É difícil esperar a ação de um organismo vivo no controle de algumas pragas que precisam de um produto de ação de choque presente em um químico”, explicou.

Outro fator, segundo ele, é a alta segurança medida pelo limite máximo de resíduos por defensivos químicos em produtos já aprovados. Um exemplo é o morango, cultura altamente perecível que deve ser consumido rapidamente, cujos produtos utilizados têm resíduos de zero a um dia após a colheita.

Para Fabio Maia, gerente de portfólio de frutas e vegetais da Bayer, o setor de hortifrútis tem “relevância altíssima” dentro da companhia “porque é um dos poucos mercados que você consegue conversar com o consumidor final”.

Os biológicos, no entanto, representam 10% do portfólio da companhia. O fungicida Serenade, produzido a partir de uma bactéria, é utilizado em diversas culturas e também em hortifrútis.

“O investimento nosso em biológico vai ser cada vez maior, tanto para inseticida como para fungicida. Posso te falar que o futuro está muito concentrado concentrado nas inovações biológicas”, disse Maia.

Rafael Teixeira, gerente de contas da Seminis, marca de sementes de frutas e hortaliças da Bayer, lembra que a missão da companhia é de “saúde para todos e fome para ninguém”, concorda com o colega que o uso de biológicos deve crescer também em hortifrútis, mas prega o que parece ser um consenso no setor de defensivos.

“Não existiria a agricultura hoje se não houvesse a integração da genética, dos químicos e dos biológicos”, afirmou Teixeira. “A agricultura moderna vai administrar o biológico junto com os químicos, porque os químicos têm propriedades que biológicos não conseguem cobrir e o biológico tem aspectos que o químico não consegue atingir”, completou Maia.

Líder no mercado de defensivos para hortifrútis, a Basf também engatinhava no mercado de defensivos biológicos para o setor, mas acelerou os lançamentos, com um fungicida, e, na Hortitec, apresentou um nematicida a partir de uma bactéria para as culturas de batata e tomate.

A vantagem do nematicida, segundo Katty Corrente, líder de marketing de hortifrúti, cana e café na Basf, é o fato de o produto conseguir agir sozinho, superando um gargalo desses produtos.

“O nematicida tem uma dinâmica diferente, o biológico vai um pouco melhor sozinho. Fungicida e inseticida não vão bem sozinhos e precisam realmente ter o complemento químico”, explicou.

Para a executiva, o mercado biológico tem se desenvolvido muito nos últimos anos, mas ainda passa por toda uma questão regulatória, com regras de segurança na formulação, e as empresas e agricultores estão cada vez mais abertos a esses produtos.

Por isso, Katty admite que, mesmo com esse crescimento e novos lançamentos, o consenso no setor é que os produtos químicos e biológicos são e serão complementares nas lavouras.

Resumo

  • O uso de defensivos biológicos ainda é limitado no setor de hortifrúti devido à menor eficiência e à ação mais lenta em comparação aos químicos no segmento
  • Grandes empresas do setor, como Bayer, Basf e Ihara, têm feito investimentos em bioinsumos para culturas de hortifrútis, com uso combinado com químicos

Rafael Teixeira, gerente de contas da Seminis, e Fabio Maia, gerente de portfólio de frutas e vegetais da Bayer