A estiagem em alguns corredores hídricos do Brasil somado a um dólar elevado em 2024 pintaram o ano da Hidrovias do Brasil de vermelho. A companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 622 milhões no ano passado, revertendo o lucro de R$ 18 milhões que anotou em 2023.

A companhia viu a receita operacional líquida recuar 9% de um ano para o outro, encerrando 2024 com R$ 1,7 bilhão.

Em mensagem publicada junto ao balanço, o diretor-presidente da companhia, Fabio Schettino, considerou o ano de 2024 como desafiador. “Condições climáticas adversas afetaram as nossas principais rotas de navegação. De maneira inusitada, enfrentamos simultaneamente as secas historicamente mais severas nos corredores Norte e Sul, cenário raro que resultou em fortes restrições operacionais e exigiu adaptações”, disse o CEO.

De acordo com o balanço da companhia, divulgado ao mercado nesta segunda-feira (24), os números foram impactados por uma seca severa no Corredor Sul, que engloba a hidrovia Paraná-Paraguai, que reduziu a movimentação de cargas em 33%, para 3,9 milhões de toneladas.

A receita nessa operação recuou 37%, de R$ 825 milhões em 2023 para R$ 519 milhões em 2024. Além da queda no volume e na receita, a tarifa média no ano passado ficou em R$ 130 por tonelada (queda de 6% em relação a 2023). A empresa citou um baixo calado no percurso desse corredor.

Ainda houve uma queda de 11% em volumes no Corredor Norte, que envolve os portos do Arco Norte. Apesar disso, a receita nessa operação subiu 13%, para R$ 847 milhões. Por lá, o frete para o transporte de grãos e fertilizantes subiu 26%.

As operações costeira e do Porto de Santos avançaram 5% e 18% em volumes, respectivamente, mas não compensaram as perdas do Corredor Sul. Ao todo, a companhia transportou 15,8 milhões de toneladas, baixa de 13% em um ano.

Somado a isso, a companhia sofreu com a valorização do dólar, que gerou um efeito negativo de R$ 396 milhões no hedge da empresa.

A Hidrovias do Brasil fechou dezembro com uma dívida líquida de R$ 3,75 bilhões, alta de 17% em um ano, principalmente por conta da valorização do dólar sobre os passivos. A empresa estima que, do endividamento total, 79% está atrelado à moeda americana.

Com isso, a alavancagem da empresa aumentou para 6,6 vezes o Ebitda, acima dos 4,2 vezes registrados em 2023.

A empresa disse que reforçou sua “disciplina na alocação de recursos, buscando soluções estruturais que garantam a sustentabilidade do modelo de negócios”.

Diante desse cenário de dívidas atreladas ao dólar e problemas operacionais, a companhia tem, de fato, tomado algumas medidas com seus credores. Isso porque a alavancagem ao final de 2024, de 6,6 vezes, está acima do covenant estipulado de 3,5 vezes em algumas captações.

A companhia precisou negociar um waiver com os detentores das debêntures para evitar o vencimento antecipado das dívidas.

Em assembleia realizada em dezembro de 2024, a Hidrovias conseguiu flexibilizar os covenants para que não recebesse penas severas dos credores.

Para reforçar sua liquidez e lidar com o vencimento do Bond 2025, a empresa também realizou uma nova emissão de debêntures de R$ 400 milhões, com liquidação em janeiro de 2025. Os recursos, somados ao aporte de R$ 500 milhões da Ultrapar, foram utilizados para quitar antecipadamente essa dívida.

Com o waiver, o não cumprimento do covenant impôs algumas restrições para captação de novas dívidas, e não acelerou o pagamento das atuais.

não acelerou o pagamento da dívida e não configurou um default. Entretanto, a empresa passou a ter restrições para captar novas dívidas (exceto aquelas já previstas nos contratos) e para distribuir dividendos acima do mínimo obrigatório

“Seguimos focados na otimização da nossa operação e na adoção de medidas que aumentem a resiliência do transporte hidroviário frente a desafios climáticos. A dragagem e a derrocagem serão iniciativas fundamentais dentro dessa estratégia, essenciais para assegurar a navegabilidade e mitigação dos impactos das variações hidrológicas, garantindo assim maior previsibilidade e eficiência operacional”, acrescentou a empresa em seu balanço.