“Precisamos de uma safra 2025/2026 muito boa para que a gente mude a curva do ciclo que nós tivemos nos últimos três anos.” É assim que Renato Guimarães, presidente da multinacional de insumos agrícolas FMC na América Latina, resume suas impressões para mais uma temporada agrícola que está começando em todo o Brasil.

O otimismo do executivo se apoia no desempenho mais favorável da safra 2024/2025, que terminou sob condições melhores do que nos anos anteriores – período em que a FMC viu seu faturamento cair e teve de reestruturar sua operação.

“O mercado de 2025 é melhor que o de 2024. Os produtores estão saindo da safra 2024/2025 com altas produtividades, enquanto que na safra 2023/2024 nós tivemos uma seca muito grande, com condições climáticas muito adversas”, diz Guimarães, que conversou com o AgFeed durante o evento Experts Café, promovido pela companhia em Paulínia (SP).

Assim, a FMC projeta um crescimento de cerca de 15% no segundo semestre deste ano em relação ao ano passado. “A expectativa é que nós tenhamos um segundo semestre melhor”, espera Guimarães.

A segunda metade do ano é o período mais relevante em termos de vendas para a FMC, por ser responsável por 70% da receita anual da companhia – enquanto que o primeiro semestre responde pelos 30% restantes. “O grosso mesmo vem no terceiro e quarto trimestres”, explica Guimarães.

Incrementar as vendas, todavia, não será uma tarefa fácil. O CEO da FMC na América Latina lembra que os produtores ainda estão machucados pelos resultados fracos das últimas safra, que restringiram seu crédito.

“A agricultura está, primeiro, tentando resolver as suas condições de crédito. O que acontece muito neste ano, e que é diferente do ano passado, é que o crédito é algo muito mais difícil. Além de nós termos taxas de juros maiores, a escassez também é muito maior”, diz ele.

Dessa forma, produtores de diferentes culturas como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar estão atrasados em suas vendas, que ocorrem geralmente no período de pré-plantio. “Hoje as compras estão um pouco mais atrasadas em relação ao ano passado e em relação ao histórico justamente por essa condição mais difícil”, diz.

No café, por exemplo, decisões de compras até já foram feitas, mas o produtor ainda não efetivou a aquisição dos produtos, explica Luiz Grandeza, gerente de cultivos da FMC, que também conversou com o AgFeed.

“Muita coisa está fechada. O problema é que a gente não conseguiu efetivar a entrega. Há um represamento, mas acredito que não deve passar de setembro ou outubro.”

Guimarães, o presidente da companhia na América Latina, espera que as vendas, de uma forma geral, se normalizem nas próximas semanas. “Agora, as coisas vão acontecer. Não dá mais para esperar. Mas está mais devagar, um pouco mais lento que o ano passado.”

De olho em melhorar o desempenho no País – relevante para os negócios da companhia, visto que 25% do resultado global vem do Brasil –, a FMC já vinha se preparando para acelerar suas vendas na metade final do ano, diz Guimarães.

Por isso, desde abril passado a companhia investiu R$ 50 milhões na contratação de 50 novos profissionais para o time comercial, que já estão em campo, segundo Guimarães, para levar as tecnologias da companhia diretamente ao produtor.

“Trouxemos essas pessoas para dentro da organização para acelerar o conhecimento do produtor da novas tecnologias que nós estamos levando para o mercado”, diz o CEO da FMC.

A outra frente de investimentos é em pesquisa, desenvolvimento e inovação, cita Guimarães. “Nós investimos 6% do nosso faturamento todos os anos em inovação. São US$ 300 milhões por ano em inovação”, diz.

A companhia, segundo ele, pretende lançar seis novas moléculas sintéticas nos próximos cinco anos, com modos de ação inéditos no mercado global.

Paralelamente, Guimarães diz que a empresa está ampliando os aportes em produtos biológicos, com a ideia de que não existe uma solução única para os desafios da agricultura tropical e do clima.

“Não existe outra saída a não combinar ferramentas para melhor gestão da eficiência, de quebra de resistência, de adversidades climáticas. Por isso, acreditamos que as soluções sintéticas, juntamente com as soluções biológicas, e também as soluções digitais, vão levar para o agronegócio uma solução muito mais sustentável e eficiente em relação aos desafios que teremos daqui para frente. E serão muitos”, diz Guimarães, que chegou a dizer que a FMC pretende liderar o mercado de biológicos em outra entrevista ao AgFeed, há pouco mais de um ano.

Um exemplo dessa estratégia de adoção de tecnologias complementares está na aplicação de um novo produto lançado pela empresa neste ano no Brasil, o feromônio Sofero Fall, insumo biológico utilizado no manejo da lagarta-do-cartucho, praga comum nos cultivos de milho e algodão.

“Esse produto tem um modo de ação totalmente diferente, já que ele causa uma confusão sexual nas mariposas, reduzindo sua população. Combinando com as tecnologias sintéticas, o produtor consegue fazer um controle com níveis de danos menores”, diz Guimarães.

Outra aposta da FMC para estreitar laços com os produtores, além do reforço das equipes em campo e do lançamento de novas tecnologias, é compartilhar de conhecimento.

Não à toa, o evento que Guimarães estava participando em Paulínia durou dois dias: no primeiro, produtores, representantes e consultores teriam a oportunidade de conferir palestras agronômicas; e no segundo, iriam conhecer a estação experimental da FMC na cidade, onde mantém também uma iniciativa chama Academia de Ciências, que chega neste ano a 3 mil visitantes.

"Nós levamos milhares de pesquisadores, recomendantes regionais, agricultores, agrônomos dos nossos parceiros em distribuição, nosso time, para que eles possam ter acesso às tecnologias em primeira mão e diretamente de quem desenvolveu, que é o nosso time de pesquisa. Isso elimina aquele telefone sem fio”, diz Guimarães, que lidera a FMC no Brasil e na América Latina desde abril do ano passado.

Antes da chegada do atual presidente, nome veterano do setor, com quase 40 anos de mercado e passagens por empresas como Syngenta e Sinagro, a FMC resolveu fazer uma reestruturação em seus negócios após o faturamento global líquido da companhia ter recuado 23% em 2023, chegando a US$ 4,5 bilhões.

Dessa forma, entre outubro de 2023 e março de 2024, a companhia enxugou sua operação e passou de um quadro de funcionários global de 6,6 mil pessoas para pouco menos de 6,2 mil.

Em função das medidas, a FMC registrou receita de US$ 4,25 bilhões, 4% a menos do que em 2023. Para este ano, prevê uma receita entre US$ 4,08 bilhões a US$ 4,28 bilhões, segundo informou em seu balanço mais recente, divulgado em julho passado.

Listada na Bolsa de Nova York, a companhia não abre dados de faturamento por região. Ainda assim, é possível fazer uma estimativa com base na ideia de que 25% do negócio global vêm do Brasil – que traria uma receita de, em tese, US$ 1,02 bilhão a US$ 1,07 bilhão à companhia no País, considerando o número projetado para o resultado global.

Resumo

  • A multinacional de insumos FMC aposta em uma safra 2025/2026 forte como forma de reverter anos difíceis, após bom desempenho da temporada 2024/2025
  • Renato Guimarães, CEO da companhia na América Latina, disse esperar crescimento de 15% no segundo semestre, período que representa 70% da receita no ano
  • Para ampliar vendas, ele reforçou sua equipe comercial com 50 novos profissionais, com investimento de R$ 50 milhões