“Sabemos que os efeitos práticos serão sentidos mais para o próximo ano, mas algumas medidas já se mostraram bastante positivas”.

Assim, em comunicado oficial, o sócio e CEO do Grupo Safras, Pedro de Moraes Filho, ressaltou, em dezembro de 2023, a “série de sinergias” que sua empresa teria com a aquisição da Comercial Paranaense Agrícola S.A - Copagri.

De alavanca para consolidação “através de aumento de eficiência e economia que trarão um crescimento de lucratividade substancial”, a Copagri se tornou, pouco mais de um ano depois, um dos principais fatores da derrocada e estrelou mais um capítulo da crise do Grupo Safras.

Os “efeitos práticos sentidos” do acordo foram, até agora, uma fatia substancial do endividamento que beira R$ 2 bilhões, a suspensão das atividades e outros acordos nebulosos com terceiros revertidos na Justiça.

Diante de um eventual pedido de recuperação judicial do conglomerado de Rossato e Moraes Filho, os três ex-sócios da Copagri decidiram pedir a reversão do acordo de venda e a devolução dos ativos.

Em notificação judicial enviada na semana passada e obtida pelo AgFeed - a terceira de uma série iniciada em julho de 2024 -, os empresários José Enrique Marti Traver, Luiz Felipe de Freitas Ino e Juliano Andrade Vorraber acusam o Grupo Safras de calote no pagamento das parcelas pela compra da Copagri.

Segundo o documento, o contrato de compra foi assinado em junho de 2023, mas divulgado apenas em dezembro daquele ano. Na notificação, informam que irão acionar a arbitragem judicial para que o negócio seja desfeito.

Eles sustentam que, além do pagamento de menos da metade do valor acordado, seus nomes ainda constam como avalistas e garantidores de operações da companhia, mesmo após a venda.

Entre os negócios, estão garantidas dadas pelos ex-sócios da Copagri na emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), no valor superior a R$ 100 milhões, e até mesmo do contrato de locação da sede da companhia, em Curitiba (PR), fechada pelo Grupo Safras no fim do ano passado.

“Além dos prejuízos monetários, os notificantes estão sofrendo graves prejuízos de ordem moral e material. O notificante (José) Enrique já teve suas contas bloqueadas em virtude da execução decorrente de dívida bancária da Copagri, além de ter sido cobrado de valor superior a R$ 460.000,00 (quatrocentos e sessenta mil reais) em razão do atraso no pagamento dos alugueis do contrato de locação da sede da Copagri”, relatam.

Os três empresários apontam também o não pagamento de multas e penalidades contratuais decorrentes da inadimplência dos atuais donos.

“Na prática, além de os notificantes terem recebido menos da metade do preço de venda histórico da Copagri, ainda permanecem expostos a riscos significativos da empresa, uma vez que continuam como garantidores de operações relevantes envolvendo valores superiores ao preço de venda - garantias estas que também já deveriam ter sido substituídas nos termos do contrato”

Os ex-sócios da Copagri pedem a retomada da empresa e da posse e arrendamento da processadora de soja em Cuiabá (MT) “e dos outros bens e direitos da Copagri transferidos pelos notificados a terceiros”. Eles não informam quais bens foram transferidos pelos atuais proprietários da Copagri a outras pessoas.

Segundo a notificação judicial, um procedimento arbitral previsto no contrato traria a a rescisão contratual e a devolução de todos os bens e direitos da Copagri aos antigos sócios, “além de indenização por perdas e danos de todos os prejuízos que os notificantes têm sofrido”.

No documento, os ex-sócios sustentam que quaisquer medidas dos sócios do Grupo Safras que alterem as práticas comerciais e administrativas da Copagri, “inclusive a propositura de recuperação judicial”, são ilegítimas.

O AgFeed tem procurado representantes jurídicos do Grupo Safras, dos escritórios Mubarak Advogados Associados, Gargaglione Costa Advogados e Daniel Carnio Advogados, mas não obteve retorno até o momento.