Na pequena cidade de Tupandi, localizada no Vale do Caí, no Rio Grande do Sul, em determinados momentos do ano, carretas e mais carretas recheadas de abóboras se instalam nos portões da Bom Princípio Alimentos.
"É bonito de ver", resume o cofundador e diretor-presidente da empresa, Alexandre Jacó Ledur, em entrevista ao AgFeed.
As abóboras que chegam à empresa e outras frutas da região como goiabas e morangos viram chimias – pastas parecidas com geleias, mas mais espessas por utilizarem a polpa da fruta, e não apenas o suco como as geleias.
O doce é mais consumido e produzido no Rio Grande do Sul, onde teve larga difusão por parte dos imigrantes alemães e foi a base da empresa há quase 30 anos, em 1996.
E até hoje são um dos pilares de seu portfólio – responsável por 14% do faturamento anual, que no ano passado, totalizou cerca de R$ 200 milhões e que, no primeiro trimestre deste ano, já tinha crescido 22%.
Tudo começou na chimia, é verdade, mas hoje a Bom Princípio tem uma linha diversa de mais de 500 itens, que vão de doce de leite à pepinos em conserva. E é com base nesse portfólio que a empresa pretende chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão já no início da próxima década, em 2032.
“Nossa expectativa é crescer 25% a cada ano. Esse é o nosso projeto para os próximos dez anos”, diz Ledur, que pretende seguir o negócio sem agregar investidores externos, mantendo características de empresa familiar.
Metade da receita da Bom Princípio hoje vem do varejo, com três marcas (Bom Princípio, Bia Cream e Encosta Gaúcha) que são comercializadas em todo o Brasil, principalmente na região Sul.
Foi fabricando produtos para serem vendidos nas gôndolas que tudo começou, de modo bastante familiar. No início da empresa, em 1996, eram apenas Ledur, seu então cunhado, Jandir Lunkes, ainda hoje diretor de agronegócio da Bom Princípio, e o pai de Jandir, Beno Vendelino Lunkes.
No começo, a Bom Princípio era uma modesta fábrica localizada na cidade de mesmo nome – também no Vale do Caí e conhecida como “a terra do moranguinho” no Rio Grande do Sul – que produzia cinco sabores de chimia. Esses itens eram comercializados principalmente na região de Caxias do Sul, segundo maior município do Rio Grande do Sul, na Serra gaúcha.
Ledur trazia consigo uma passagem pela multinacional italiana de laticínios Parmalat, quando trabalhava na área de qualidade dos produtos e rodou o Brasil conhecendo a operação. “Em função da minha experiência em indústria, fomos trazendo mais variedade de tamanhos de embalagem e depois mais sabores”, recorda.
Dessa forma, conforme os anos foram passando, a linha de produção foi crescendo ao longo dos anos, agregando a fabricação de doce de leite e outros produtos, até que ganhou um impulso maior quando passou a fabricar a linha festas, com doces cremosos nos sabores brigadeiro e beijinho.
"Foi quando começamos a atuar em nível Brasil, porque a chimia é mais conhecida no Rio Grande do Sul", diz Ledur.
Em 2009, a empresa passou a operar três fábricas em Tupandi, numa área de 7 mil metros quadrados: uma planta destinada para produtos de frutas, outra para laticínios e uma terceira para conservas. "Foi quando começamos a produzir também pepino e embalar azeitonas, cebolinha e champignon", diz Ledur.
Boa parte das frutas que são utilizadas na produção é de produção local, segundo Ledur, como as abóboras já citadas, a uva que é trazida da Serra Gaúcha, e as goiabas, entre outras frutas.
Já os pepinos vêm de uma cooperativa do norte de Minas Gerais. Ao todo, são cerca de 250 famílias produtoras e parceiros espalhados pelo Rio Grande do Sul e também nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
Já na década passada, em 2014, a empresa passou a trabalhar com alimentos produzidos a partir de chocolate, como cremes e recheios.
Foi nesse momento que a Bom Princípio começou a atuar também no segmento de food service, que hoje é um dos carro-chefes e corresponde à outra metade do faturamento da companhia, produzindo recheios, cremes e coberturas para serem utilizadas em estabelecimentos como confeitarias, padarias, restaurantes e pizzarias.
São esses produtos que a empresa leva também para fora do Brasil, com presença em países como Uruguai, Paraguai, Chile, Panamá, Estados Unidos, Venezuela e República Dominicana.
Ao conversar com a reportagem do AgFeed, Ledur estava prestes a embarcar para um périplo de viagens rumo a feiras internacionais de alimentos, em países como Chile, Estados Unidos e Alemanha – onde vai participar, em outubro, da maior feira de alimentos e bebidas do mundo, a Anuga.
"Nossa atuação mais forte, por enquanto, é nas Américas, mas justamente estamos trabalhando feiras internacionais para ampliarmos cada vez mais a nossa participação. Queremos também estar em continentes como Ásia e África. Já a Europa é um pouquinho mais difícil, em função da resistência aos produtos à base de leite", diz Ledur.
No Brasil, além de fabricar e vender produtos sob marca própria, a Bom Princípio presta serviços a terceiros.
A empresa fabrica produtos com o rótulo de outras empresas como a cooperativa de laticínios Santa Clara, de Carlos Barbosa (RS), para quem fabrica chimias, doce de leite e recheios, a multinacional americana Rich’s do Brasil, líder no segmento de confeitaria, produzindo o recheio ovomaltine, e a Marquespan Alimentos, de Gravataí (RS), a maior produtora de pães do Brasil.
Hoje, a Bom Princípio possui dois centros de distribuição, um localizado em Sapucaia do Sul (RS), na Região Metropolitana de Porto Alegre, e outro em Cabo de Santo Agostinho (PE).
O CD de Sapucaia do Sul foi inaugurado em março passado, após um investimento de R$ 16 milhões. Neste ano, estão sendo investidos mais R$ 10 milhões nas áreas de produção e logística.
Com a instalação do centro logístico, a planta de Tupandi ficou com uma área ociosa. Agora, Ledur tem nos planos a instalação de uma quinta fábrica no parque industrial.
O executivo não planeja, no entanto, levar a operação produtiva para outros estados brasileiros por ora, ainda que não descarte totalmente a ideia. “Nada nos impede de no futuro, quem sabe, termos alguma unidade fora do Rio Grande do Sul também”, diz.
Ainda assim, já há um plano mais concreto acima do Rio Mampituba: a Bom Princípio projeta também a instalação de um novo centro de distribuição na região Sudeste, possivelmente no Espírito Santo, de olho em facilidades logísticas e também incentivos fiscais, plano que pode se concretizar ainda neste ano, segundo Ledur.
Enquanto isso, novos produtos continuam saindo do forno, como os recém-lançados cremes de pistache, amendoim, chocolate branco com cookies e creme de avelã com pedaços de pistache, além de geleias gourmet nos sabores cebola caramelizada defumada e pimenta vermelha defumada.
No segmento de food service, a empresa também está trazendo novidades: bisnagas de cebola caramelizada, pimenta vermelha e abacaxi com pimenta e recheios de cereja, pêssego e pistache Dubai.
Mas o sonho de Ledur, que tem 53 anos de idade, é outro e um tanto curioso: chegar aos 105 anos de idade. “E já estou te convidando para o meu aniversário de 100 anos, que será em 21 de novembro de 2071”, disse a este repórter. Será que a Bom Princípio Alimentos acompanhará Ledur na jornada? O tempo dirá.
Resumo
- A Bom Princípio Alimentos nasceu em 1996 produzindo chimias e hoje tem mais de 500 itens no portfólio, que vão de doce de leite a pepinos em conserva
- O faturamento da empresa foi de R$ 200 milhões em 2024 e pretende chegar a R$ 1 bilhão em 2032
- Empresa investiu R$ 14 milhões em um novo CD no RS, pretende implantar estrutura semelhante no Sudeste e está de olho em ampliar negócios no exterior