A projeção de dezenas de bilhões para o setor de etanol de milho ganha, dia após dia, traços na realidade. O capítulo da vez é curioso, mas conta com alguns elementos - como a localização -, familiares, até literalmente.

No Mato Grosso, especificamente em Sinop, um dos grandes polos sojicultores do País, a Evermat (Indústria de Etanol Verde de Mato Grosso), fruto da união de alguns cooperados da Coanorte (Cooperativa Agroindustrial do Norte de Mato Grosso), anunciou que irá construir uma usina de etanol de milho.

O projeto acabou de receber a licença ambiental e já iniciou a construção de um empreendimento que receberá investimento inicial de R$ 1 bilhão, mas que pode chegar a até R$ 4 bilhões em quatro anos.

A primeira fase do projeto deve ser concluída no primeiro trimestre do ano que vem e a ideia é que a planta tenha uma capacidade de produção de 207,5 milhões de litros de etanol anidro e 215 milhões de litros de etanol hidratado.

Além disso, a geração de coprodutos deve somar 134 mil toneladas anuais de DDG (Dried Distillers Grains with Solubles), 7,9 mil toneladas por ano de óleo de milho e 13 megawatts (MW) de energia elétrica.

A usina deve demandar 1,25 mil toneladas diárias de milho, algo em torno de 456,25 mil toneladas de milho por ano. A indústria deverá operar 24 horas por dia durante todo o ano e, na fase de construção, deverá empregar 850 profissionais de 65 empresas terceirizadas, além de 68 funcionários diretos. Após o início da operação, o quadro deve chegar próximo a 150 colaboradores.

A licença ambiental, emitida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), viabiliza a construção da indústria em uma área de 105 mil m² às margens da famosa BR-163, no bairro Lídia, uma saída direta para os portos do Norte do Brasil.

A curiosidade do caso vem da formação da empresa que construirá a usina. A Evermat nasceu há dois anos a partir da união e cooperação de 31 famílias com atividade agrícola na região de Sinop.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o presidente da Evermat, Tiago Stefanello, cita que grande parte dos sócios e participantes da empresa são filhos e netos de “desbravadores do País”, que chegaram ao Mato Grosso nas últimas décadas vindos da região Sul em busca de oportunidades e acabaram fincando raízes e empreendimentos de sucesso no agro.

A empresa é uma S.A. (Sociedade Anônima) e sua formação começou quando um grupo de cooperados da Coanorte resolveu diversificar os negócios e verticalizar sua produção.

“Começamos a conversar no conselho administrativo da cooperativa sobre a ideia de fazer uma indústria de etanol. Contratamos uma consultoria para fazer um estudo de viabilidade e pensar se faríamos a usina via cooperativa ou via uma nova empresa”, explicou Stefanello.

Como o projeto só atraiu parte dos cooperados, foi tomada a decisão de formar uma empresa separada. Segundo o presidente da empresa, o investimento na construção foi feito pelos próprios sócios, com uma pequena porcentagem captada no setor financeiro.

As famílias que constituem a Evermat somam mais de 100 mil hectares produtivos e envolvem produtores de soja, milho, algodão e até pecuária.

A empresa foi constituída para dar retorno financeiro aos sócios, explica Stefanelli, e funcionará como um complemento às atividades agrícolas que os mesmos já fazem.

“Vamos comprar milho a mercado, vender DDG a mercado. Claro, como existem pecuaristas, pode ser que usem o próprio DDG na alimentação do gado, mas não será algo exclusivo. Os que acreditaram na usina e no estudo entraram com o dinheiro e nós ainda trouxemos profissionais de fora para a construção e operação”, declarou.

A companhia rodará com a capacidade inicial e, a depender das condições de mercado e do andamento da empreitada, pode motivar novos investimentos para ampliação, contidos em um possível plano de R$ 4 bilhões em quatro anos.

Setor deve movimentar R$ 20 bilhões em três anos

O caso da Evermat é só mais um dentre inúmeros investimentos já anunciados nos últimos anos para o setor. Saindo fora do cenário das gigantes do setor, como FS e Inpasa, iniciativas como a dos produtores de Sinop têm pipocado em diversas cidades do estado e de fora dele.

A Novonesis, empresa que lidera o mercado de enzimas e leveduras, insumos fundamentais na fabricação do etanol de cereais, projeta que novas usinas devem movimentar R$ 20 bilhões em investimentos nos próximos três anos.

Com isso, a produção de etanol de milho no Brasil pode atingir 16 bilhões de litros, quase o dobro do patamar atual.

Ainda em 2025, devem entrar em operação duas novas plantas de etanol de milho só no Mato Grosso. Uma delas é a usina da empresa Agrícola Alvorada, em Canarana (MT). A unidade recebeu financiamento via BNDES, de R$ 500 milhões e terá capacidade para produzir anualmente até 222 mil metros cúbicos de etanol, 147 mil toneladas de DDG e 8 mil toneladas de óleo bruto.

Também está prevista para começar a operar ainda este ano uma das usinas da RRP, de Joci Piccini, que na primeira fase vai processar mil toneladas de milho por dia, em Tapurah (MT), como já mostramos em 2024. O plano do empresário junto a investidores supera os R$ 1,8 bilhão.

A gaúcha 3Tentos é outra que está construindo uma usina no estado, no município de Porto Alegre do Norte, com investimento projetado de R$ 1,16 bilhão.

Giuseppe Lobo, da Bioind MT, que representa as usinas de bioenergia do estado, projetou recentemente ao AgFeed que a produção local de milho deve superar as 80 milhões de toneladas nos próximos 10 anos.

"Ter matéria-prima é um grande incentivo para que a gente continue processando e transformando em etanol".

Em maio, o AgFeed também mostrou que há um empurrão chinês para esse tipo de movimento acontecer, em especial no Mato Grosso. Isso porque o gigante asiático está com olhares atentos ao DDG, produto que soma 7 milhões de toneladas por ano por parte da China.

No Brasil, a produção de DDG para a safra que começou em abril e vai até maio de 2026 está sendo estimada em cerca de 5 milhões de toneladas, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem). O País já exporta DDG, mas o volume ainda é pequeno, abaixo de 1 milhão de toneladas.

Resumo

  • Com investimento inicial de R$ 1 bilhão, e que pode chegar a R 4 bilhões nos próximos anos, Evermat vai produzir etanol de milho em Sinop (MT)
  • Projeto prevê 430 milhões de litros de etanol e 134 mil toneladas de DDG por ano; usina deve consumir mais de 450 mil toneladas de milho
  • Movimento sde produtores egue tendência de verticalização no Mato Grosso, onde novas plantas devem somar até R$ 20 bi em aportes até 2027