É praticamente impossível conversar com executivos da Boa Safra Sementes sem sair com a sensação de que muito em breve uma nova aquisição ou um novo investimento deve ser feito. Ainda mais agora com os R$ 300 milhões atingidos no aumento de capital da empresa.
“A Boa Safra é uma empresa de crescimento”, afirmou, desta vez, o CFO da companhia, Felipe Marques, em entrevista ao AgFeed.
Desde o IPO, em 2021, a empresa criada pelos irmãos Marino e Camila Colpo cresceu 3,5 vezes de tamanho, lembrou Marques.
Na estreia de seus papeis no mercado, na época, captou R$ 460 milhões. E desde então já investiu R$ 616 milhões, sem falar no pagamento de R$ 125 milhões entre dividendos e JCP aos acionistas.
Mais um passo na trajetória de crescimento foi dado na última segunda-feira. A Boa Safra, que já é líder na produção de sementes de soja no Brasil, “tocou o sino” na B3 em comemoração a um follow-on que injetou mais R$ 300 milhões ao capital da empresa.
“Vimos que ter uma empresa capitalizada num ano como esse era oportuno”, disse o CFO.
Segundo um documento arquivado na CVM pela empresa, o novo capital social da Boa Safra é de R$ 768,8 milhões, dividido em 135,3 milhões de papéis.
“Mostramos ao longo dos anos que não somos uma empresa cíclica como é o setor de commodities. Mesmo com queda no preço de outros insumos, as sementes não acompanharam o movimento, e o preço da nossa big bag subiu R$ 500 frente o ano anterior”, afirmou o executivo.
Agora, o momento da Boa Safra é de definição de estratégias para novos investimentos. Felipe Marques, CFO da empresa, deu algumas pistas ao AgFeed sobre para onde a empresa olha com mais atenção.
Segundo Marques, essa nova liquidez pode trazer potenciais negócios para a companhia e também gerar mais valor ao acionista. “Fizemos o follow-on nesse contexto de continuar a trajetória de crescimento”.
O CEO da empresa, Marino Colpo, já chegou a dizer que a meta “é uma aquisição por ano”. O comentário foi feito pouco depois da compra da Dasoja Sementes, em 2023. No ano anterior, houve uma das principais aquisições da companhia, quando assumiu 66% do controle da Bestway Seeds do Brasil, por R$ 35 milhões.
Qual será a compra de 2024? É o que o mercado quer saber, com especulações inclusive sobre uma possível aquisição do negócio de sementes da Agrogalaxy, empresa que já manifestou interesse em vender o ativo. Mas os executivos da Boa Safra não comentam o assunto.
Ao AgFeed, o CFO deixou claro que uma das prioridades é o milho, devendo receber mais atenção nas próximas temporadas.
Ele lembra que, enquanto a área de soja plantada no País é de cerca de 44 milhões de hectares, o milho geralmente ocupa 22 milhões de hectares, sendo a principal cultura de segunda safra do País.
“Isso, por si só, já coloca o cereal como uma cultura que olhamos e que desperta interesse da Boa Safra do ponto de vista de ganho de escala pelo tamanho do cultivo”, afirmou.
As outras culturas - trigo, sorgo, feijão e forrageira -, somadas chegam numa área próxima da soja, segundo Felipe Marques.
Quando a Boa Safra abriu seu capital em 2021, era uma empresa 100% dedicada à soja. Hoje, cerca de 6% do faturamento, que em 2023 bateu recorde e atingiu R$ 2 bilhões, está dividido entre sementes de milho, trigo, sorgo, feijão e forrageira.
A Boa Safra também aposta em um aumento na demanda de milho nos próximos anos, impulsionada pelo avanço da produção de etanol a partir do grão.
Esse é um mercado em franca expansão, tanto é que o Mato Grosso, maior produtor de milho do País, sustenta agora o posto de segundo do ranking nacional da produção de etanol, ultrapassando Goiás e perdendo apenas para São Paulo, que produz o biocombustível a partir da cana-de-açúcar.
“Acreditamos que o mercado de grãos para combustíveis deve trazer uma demanda adicional muito grande para o cultivo. Vemos muitos projetos de biodiesel, plantas de etanol de milho e sorgo em construção. O Brasil tem capacidade de ser relevante nesse mercado, e até fazer o mercado reagir numa próxima safra, aumentando o preço e estimulando áreas”, comentou Marques.
Nos planos da Boa Safra também está a expansão crescente dos centros de distribuição. No ano passado foram investidos R$ 21 milhões para construir e inaugurar um novo centro no estado de Tocantins.
Neste início de ano, a empresa já anunciou a compra de terremos para mais dois CDs, desta vez no estado de Mato Grosso, um em Ribeirão Cascalheiras e outro em Campo Novo do Parecis.
A estratégia está relacionada ao aumento das vendas de sementes de mais tecnologia, principalmente aquelas já tratadas com defensivos, inclusive biológicos.
Na safra passada, um terço das sementes da Boa Safra chegava aos produtores com algum tipo de tratamento, o que traz mais dois terços de oportunidade para crescer.
A questão é que essas sementes, que em alguns casos são tratadas com produtos biológicos, demandam uma logística apertada por conta do shelf life , o tempo de validade dos compostos.
“Os CDs são fundamentais para esse tratamento e distribuição na hora que o produtor planta. Precisa ser just in time para mandar para o campo”, acrescentou o CFO da Boa Safra.
Risco climático na região Sul
Em fevereiro deste ano, a Boa Safra anunciou a expansão das vendas de sementes para a região Sul, a única ainda não atendida pela empresa. Nas estimativas de Felipe Marques, a região corresponde a 30% da demanda do mercado nacional de sementes.
“Participávamos em 70% do mercado com 8% de market share. A decisão de não participar de 30% do mercado restringia nossa possibilidade. Agora, atendemos todo o País e as principais regiões produtoras”, afirmou.
A empresa passou a oferecer sementes adaptadas a estes estados e a venda por meio de distribuidores parceiros, embora os executivos já tenham sinalizado a possibilidade de futuramente ter uma planta na região Sul.
Para este plano, no entanto, a empresa deve enfrentar um dilema nesta safra. De um lado, a Boa Safra, recém-capitalizada, poderia apostar mais fichas em ganhar cada vez mais participação no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
De outro, o mercado já vê a possibilidade de a próxima safra contar com o fenômeno La Niña, que, historicamente, causa seca na região Sul e provoca perdas na produção.
“Olhando para um 2025 com La Nina, realmente há riscos maiores para o Sul. Como tomamos agora a decisão anual de produção de portfólio, é algo que olhamos com muito cuidado, pois há potencial de impacto em regiões de produção de soja e consequentemente, o mercado de sementes”, comentou.
Apesar disso, sob um olhar mais amplo, o La Niña pode ser benéfico para a Boa Safra. Isso porque o fenômeno usualmente não traz impactos para o cultivo no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde a maior parte da operação da empresa está localizada.
“Um potencial produtivo, uma produção maior ajuda a todos e deixa os produtores com mais rentabilidade. Isso é benéfico para nós e para todo setor”, afirmou.
A Boa Safra acredita que a área do cultivo de soja deve continuar a crescer na próxima safra, talvez num ritmo menor, mas ainda mostrando crescimento.
Ele cita que, por mais que algumas regiões tenham enfrentado dificuldades e até quebras de safra, a lucratividade da cultura ainda existe, e acredita que o custo unitário de produção da oleaginosa no País ainda é um dos menores do mundo. “Ainda existe uma margem no final do dia, o que muda é a velocidade de crescimento de área plantada. Historicamente, só em 2008 vimos uma redução de área no Brasil. Não vemos isso para o futuro”, comentou.